Capítulo 30

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Fortaleza Rebelde, 6 anos atrás

Eu ainda estava com 14 anos. Só sabia chorar por ter descoberto que meu pai me abandonou por vontade própria. Por ele e por Noah, meu melhor amigo que já não via há anos. Sozinha no orfanato e agora sozinha em meio a uma fortaleza que não conhecia.

Em uma certa noite, na véspera de meu aniversário, chorei como nunca. Imaginei que lágrimas escorreram pelo meu rosto, umedecendo o travesseiro até que eu pegasse no sono. Contudo, a porta do meu novo quarto se abriu devagar. A pouca luz que iluminava o corredor invadiu o cômodo cor de creme com móveis de madeira.

Eu me sentei na cama quando percebi a movimentação. Ash, meu novo pai, estava parado no batente, ele se aproximou de mim apenas quando respirei fundo. Ao sentar-se na minha cama, bem a minha frente, Ash enxugou minhas lágrimas. Ele tirou sua máscara e colocou-a em seu colo. Seus olhos verdes escurecidos me olhavam de maneira calma, sua boca se arqueou em um sorriso.

— Feliz aniversário, Serena — Só então percebi que já era meia-noite.

Forcei um sorriso. Estava verdadeiramente feliz por terem se lembrado do meu completar de 15 anos. Porém, ao mesmo tempo, eu só queria ficar sozinha por um tempo. Não era como se eu não estivesse acostumada a receber parabéns pelo aniversário, mas não fazia mais diferença para mim que idade eu estaria completando, eu já não sentia mais nenhuma animação.

— É melhor dormir, quando acordar pretendo lhe fazer uma surpresa. — Ash disse com um sorriso estampado em seu rosto.

— Que surpresa? — Ele riu de minha ansiedade.

— Se eu contar não será mais surpresa. — Ash se levantou. — Agora vá dormir, precisa estar descansada amanhã. — Ele beijou o topo da minha cabeça antes de dizer: — Boa noite, filha.

— Boa noite. — Sorri fraco.

Ash esperou até que eu estivesse deitada para de fato fechar a porta, apagando quase todo resquício de iluminação do quarto. A única luz que o invadia era a que passava pela fresta por debaixo da porta.

Há tempos, eu tinha medo do escuro, mas há tempos que já não me importava mais. Pois há tempos que a luz dentro de mim se apagou, há tempos que já tinha me acostumado com a escuridão.

***

De manhã cedo, eu fui acordada, às 06h para ser mais específica. Eu ainda estava cansada, sonolenta, provavelmente com olheiras. Mas acordada, ao menos na medida do possível. Tomei um banho de água fria, rapidamente coloquei um vestido simples que trouxe do orfanato comigo, minhas poucas roupas, as roupas que serviriam em meninas com bem menos idade.

Mesmo sendo consideravelmente alta para a minha idade, meu corpo esguio com 1,70m de altura, pesava pouco menos de 50kg. Com as costelas marcadas na pele, maçãs do rosto exageradamente sobressaltadas. Braços e pernas muito finos, mãos ossudas. Já não gostava da minha aparência há tempo.

Quando, finalmente, cheguei ao local em que Ash havia pedido. Notei o quão grande era aquela sala acinzentada, com equipamentos de treino bem espaçados, ao centro dela, um lugar vazio com marcações brancas no chão de cimento queimado. Algo como um octógono.

— Serena, quero que conheça alguém. — Ash falou.

Quando olhei mais adiante, pude ver um homem loiro com cabelo bem cortado. Ele estava distante, apenas quando se aproximou um pouco mais pude ver o turquesa de seus olhos brilharem quando ele deu um sorriso tímido.

O menino era bem alto, de longe pensei ser bem mais velho. Porém, ao ver seu rosto de perto, ele não parecia ter muito mais do que a minha idade. Em uma segunda olhada, ele se parecia com... Noah..., mas o sorriso que ele me deu, sabia naquele instante que não era ele. Sabia, pois as covinhas de Noah não estavam lá. Fora o cabelo mais claro que o dele.

Segredo de Estado (Coroa de Vênus - Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora