Capítulo 3: Pub. Ou melhor, Taverna.

506 35 7
                                    


Simon Basset sabia que Anthony Bridgerton era um Libertino com L maiúsculo, e não esperava menos do que isso ao decidir dividir uma casa com ele. Embora ele mesmo também tivesse suas experiências, não conseguia deixar de ignorar que o amigo simplesmente não parava.

- Não sei como você ainda consegue tirar essas notas boas. Juro que se eu te vi estudando uma vez foi muito. – comentou Simon enquanto arrumava a própria gravata. 
- Você sabe muito bem que além do meu charme, minha inteligência nata é uma das minhas maiores qualidades. – Anthony comentou dando de ombros com um ar de autoconfiança enquanto esperava o outro se arrumar.

- Hmm acho que não – disse Basset analisando o amigo pelo reflexo do espelho. – Você tem sorte. Ou você trapaceia. – Ele se virou na direção do amigo e continuou – Só na semana passada você saiu todas as noites e eu só te vi no dia seguinte.

Anthony achou graça do comentário, e se levantou do sofá em que estava deitado para pegar sua casaca e sair.

- Ah, então quer dizer que Vossa Alteza contou os dias? Isso é inveja ou ciúmes? – disse sorrindo ao mesmo momento que passava por Simon, que bufou e revirou os olhos com o uso daquele título. Se divertindo com essa situação, Anthony continuou – Não se preocupe com isso agora, vamos nos divertir muito essa noite, mas temos que sair logo. Você demora demais para se arrumar.

Simon pensou em responder, mas preferiu ficar calado porquê de fato havia uma pequena grande possibilidade de ele estar com ciúmes de Anthony.

E isso era inadmissível.

Durante a caminhada até o pub, Simon refletia sobre o que estava sentindo. Era uma sensação estranha, pois nunca havia de fato sentido ciúmes de alguém. Estava em meio a um conflito interno e havia um grito silencioso  implorando para ser liberado. Seu peito doía e sua mente vagava por uma densa névoa de perguntas e incertezasdas quais ele não sabia a resposta. Afinal, por que ele estava com ciúmes? Anthony já tinha outras amizades quando os dois se conheceram, e não se importava com isso.

Olhou para o amigo, que caminhava de maneira descontraída, com o rosto leve e desprovido de grandes preocupações. Provavelmente estava assim pois iria se encontrar alguém naquela noite, claro, Anthony sempre fora um galanteador nato. Ele era dotado de um carisma absurdo, e mesmo com seu pavio (muito) curto, quase todo mundo gostava dele, especialmente as damas. Quando flertava, era capaz de fazer qualquer mulher se sentir a dama mais desejada de Londres. Seus olhos adquiriam um tom mais escuro, mais carnal — essa  mudança extremamente sutil geralmente ocorria em ambientes pouca iluminação, fazendo com que fosse ainda mais difícil perceber essa oscilação. Somente uma análise mais atenta poderia perceber isso, e Simon percebera todas as vezes.

De certo ele deveria estar louco, pensou. Não era normal observar tanto os trejeitos e manias de outro homem. Porém, tentar não fazer isso com Anthony era quase uma luta para ele.

Quando chegaram ao pub, que na realidade era uma taverna ( ele fez uma nota mental de corrigir Anthony que havia insistido que era um pub mesmo quando o próprio nome do lugar era "Turf Tavern" ) tudo parecia demais. Haviam pessoas demais, o som alto demais, quente demais. A inauguração atraiu diversos jovens estudantes, que riam e bebiam ao som de um grupo musical irlandês animado ao mesmo tempo que algumas mulheres dançavam jig ao som de músicas celtas acompanhadas por gaita-de-foles, flauta, violino e algo que ele reconheceu como sendo um bodhrán.

Em outra ocasião ele se divertiria muito e até arriscaria tirar uma moça para dançar. Porém, sua mente estava em conflito com seu corpo e seus pensamentos giravam torno de seu quarto, sua cama e Anthony, nessa ordem. O mais difícil era que o homem em questão estava sentado bem em sua frente. Ele poderia se forçar a beber até deixar sua consciência mais leve, mas repugnava esse tipo de comportamento. Não que ele não gostasse de beber, mas raramente ficava bêbado, pois sabia acabaria numa situação muito constrangedora e não conseguia controlar sua fala se não estivesse com os sentidos intactos.

um caso ilícito {short fic}Onde histórias criam vida. Descubra agora