Capítulo 9 - A promessa

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Aubrey Hall, 1833.

— Eu me lembro de tudo.

Simon sabia o que estava prestes a acontecer, aquela sensação era velha e mesmo assim parecia ser a primeira vez. E o pior, era que ele queria. Não podia deixar aquilo sair dos limites. Pegou a mão de Anthony, levou até a lateral de seu rosto e sentiu o calor contra sua pele por apenas uns segundos. Em seguida, deu-lhe um beijo na palma e delicadamente soltou-o colocou uma certa distância entre eles. Teve que lutar contra todos os seus instintos para fazer isso.

— Me desculpe. Quer dizer...eu não... - Anthony ficou muito desconfortável quando voltou à realidade.

— Eu sei. Não precisa se desculpar. Eu também fiquei assim. - Simon murmurou.

O Bridgerton olhou para baixo, tocando a palma da mão. Passou por sua mente que, antigamente, eles poderiam ficar por horas sem falar absolutamente nada e agora...quanto constrangimento.

Basset ainda admirava sua esposa pela janela.

— Como deixamos isso acontecer? - Anthony suspirou. — Quero dizer, nós devíamos ter conversado antes. Foram mais de vinte anos.

— Acho que tínhamos medo do que poderia ter acontecido. Era algo muito incerto, muito delicado. Por isso fizemos aquela promessa.

— É, mas foi...sei que foi minha ideia. Só hoje vejo o quanto foi estúpida.

— Eu não o culpo. - Simon era uma pessoa que quase nunca carregava ressentimentos. Quando isso lhe ocorria, era quase impossível de fazê-lo mudar de ideia. — Passei sete anos evitando várias coisas da minha vida, inclusive você. Acredito que depois de Daphne e Kate...as coisas ficaram mais complicadas. Mas agora precisamos encarar isso. - disse com firmeza.

— Nós fizemos tudo errado. - Anthony se apoiou na mesa. — E mesmo assim...

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, a conversa ainda não estava fluindo. Haviam duas décadas inteiras entre eles. O duque de Hastings caminhou até uma prateleira, pegando o presente que ele deu ao Bridgerton em 1806.

— Sempre me perguntei por quê você guardou. - disse enquanto tateava a superfície da base de madeira.

— Porque não tenho arrependimento sobre nós. Os únicos arrependimentos que carregam são os que eu mesmo cometi: essa promessa, o soco que te dei e ter te chamado para aquele maldito duelo.

— Pelo menos nós estamos quites em relação ao soco. - ele deu um pequeno sorriso.

Anthony olhou-o como se ele fosse o mesmo Simon de 22 anos. Como o mesmo homem que mesmo sem esforço algum, era capaz de fazê-lo sorrir involuntariamente.

— Tem tantas coisas que eu quero te falar. - sua voz estava um pouco rouca. — Mas não é fácil.

Basset aos poucos deixava sua guarda cair. Aquilo deveria ser sincero. Tinha a certeza que não deveria fazer isso, mas mesmo assim fez. Ele foi até Anthony e colocou sua mão sobre a dele, acariciando a parte de cima com o polegar. Não precisou dizer mais nada. Seu gesto e seu olhar falava: "Vai ficar tudo bem. Pode continuar."

Então, eles quebraram a promessa.

— A verdade é que... você me ensinou a amar antes mesmo que eu soubesse que era capaz de fazer isso. - fez uma pausa e respirou fundo para continuar. — Você foi meu primeiro amor. Nós estávamos em sintonia e eu sentia que meu corpo e meu coração viviam apenas pela necessidade do seu amor. - ele olhou para as mãos sobrepostas. — Parecia que nós tínhamos sido escritos um para o outro e tive que rasgar essa escritura e queima-lá. Meu erro foi pensar que eu ainda poderia ter você depois que você foi embora. Sete anos sem saber se você estava vivo, sete anos sem nada além das nossas memórias e daquele presente na prateleira. Quando você voltou, eu estava tão nervoso...mas quando vi seus olhos... foi como se nada de ruim tivesse acontecido. Você estava mais lindo do que nunca e eu só queria tê-lo por perto e parar de lutar contra minha consciência e ir correndo para te abraçar, beijar, fazer amor com você e depois deixá-lo acariciar meu cabelo por horas a fio. Havia uma guerra silenciosa em meu peito me dizendo para parar com isso, com essa...idealização. Acabei por mentir para mim mesmo, dizendo que aquilo era o sonho do meu eu de sete anos atrás. Entretanto, em algum lugar no meu íntimo, algo ainda dizia nós podíamos ser amantes de novo. - ele parou para um momento, porque tinha a consciência de que ficaria totalmente vulnerável.

um caso ilícito {short fic}Onde histórias criam vida. Descubra agora