Capítulo 8 - Voltando para casa

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Dois dias depois, Simon saiu do número quatro e alugou temporariamente um apartamento na St Aldate's Street. Faltavam dois meses e alguns dias para a conclusão da faculdade.

Anthony não conseguiu ficar no apartamento por mais de uma semana. Ele passou os últimos dias em Oxford morando com Benedict e Colin.

No momento, eles não poderiam deixar brechas para que os outros falassem. Continuaram com o mesmo grupo de amigos e frequentavam os mesmos lugares, mas evitavam ficar juntos sem a presença de outras pessoas por perto.

Não havia meio termo - era tudo ou nada, pois acreditavam que se houvesse um único vacilo, estariam novamente perdidos. Pelo menos, era nisso que acreditavam. Mas o exílio dos seus corações ainda não era a resposta. Como se afastar de algo que está bem ao seu lado? Simon conseguiu modelar as aparências ao seu favor. Construiu barreiras e impôs o ostracismo em relação aos próprios sentimentos. Contudo, em seu íntimo, já havia vacilado mais vezes do que conseguia imaginar. Não importava o quanto ele mentisse para si mesmo. O nome de Anthony sempre seria o nome marcado em seus lábios.

O Bridgerton sentia que nada tinha sido suficiente. Começou a imaginar, várias vezes, se ele tivesse se dado conta mais cedo. Se tivesse tido mais tempo, as coisas não pareceriam tanto como um quase: quase fomos felizes, quase fomos completos, quase nos entregamos, quase nos amamos. E mesmo assim, mesmo se tivessem todo o tempo do mundo, ainda não seria o suficiente, porque de todas as coisas boas existentes que Basset merecia, haviam mais.

A melhor forma que eles encontraram para anestesiar as incertezas, foi manter a mente ocupada e não dar espaço para o auto compadecimento. Só que quando duas pessoas se amam da forma com que eles se amaram, bem, há certas coisas que simplesmente ficam gravadas na mente. A sinestesia do amor deles materializou-se em pequenas sensações como cheiros, cores, toques. Era como ter criado uma realidade própria e alheia ao restante do universo. Então, quando Anthony passava pelo Canales Oxford, o vento frio do final de outubro e as folhas vermelhas, alaranjadas e amarelas eram Simon tocando discretamente sua mão e sorrindo contra sua pele. E quando Simon ouvia o barulho fino das chuvas de que caiam nas primeiras horas do dia e o cheiro de chá de hortelã, eram os passos de Anthony pelo corredor e os minutos das manhãs que ele olhava-o dormir, sentindo sua respiração.

E os últimos dias foram assim: estudos, provas e libertinagem, procurando em qualquer coisa ou em qualquer homem ou mulher algo que pudesse distraí-los da dor.

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No dia da formatura, Anthony planejava pegar seu diploma e no dia seguinte voltar para Aubrey Hall. Mas antes disso, ele precisava se despedir de Simon. Precisava dizer adeus.

Vários alunos vestidos em beca perambulavam pelos corredores de Oxford naquela tarde. A turma de formandos era grande e o Bridgerton procurava entre capelos algum sinal de Basset, o que era estranho, visto que ele não tinha o costume de se atrasar para eventos, a não ser que algo muito grave tivesse acontecido.

Simon não compareceu durante a cerimônia e nem ao jantar em homenagem à classe de formandos de 1806. Alguns colegas chegaram a perguntar sobre o paradeiro dele para Anthony, que infelizmente ( ou felizmente ) não soube responder. Algo de errado tinha acontecido. Então o visconde tomou um passo arriscado—foi perguntar para o reitor se alguém já tinha ido buscar o diploma de seu amigo.

— Oh? Simon Basset? Ele buscou o diploma ontem. Me disse que não poderia vir hoje pois tinha assuntos emergentes para tratar nas terras do pai. Ele é um rapaz muito inteligente. Será um excelente duque quando assumir o título.

Então ele tinha ido embora. E nem ao menos pensou em se despedir. Quando eles se veriam de novo? Por um momento, tudo o que o visconde conseguia sentir era decepção. Odiou a si mesmo por colocar tantas expectativas. Ele se distanciou até uma parte do jardim em que poderia ficar sozinho.

um caso ilícito {short fic}Onde histórias criam vida. Descubra agora