Longe da minha terra

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Não consigo acreditar que estou tão distante assim.
Longe da terra de onde eu nasci.
Longe da família, e dos amigos que conheci.
Mesmo com todas as lembrancinhas na estante,
Mesmo com todo o artesanato regional e toda a bagagem cultural,
Mesmo com toda a culinária, as gírias e sotaques,
Não me sinto pertencente mais.
Não sinto que sou daquele lugar mais.

Saudades das festas de família
E da música que tocava nas caixas de som da caminhonete
Saudade de andar na moto da minha tia
Sentir a poeira da terra batendo na perna
Sinto falta até das coisas negativas
Das manchetes de jornal e das notícias
Ao menos eu ficava sabendo das coisas
Mas não mais.

Porque agora a vida acontece aqui
O país só progrede aqui
Não importam as pequenas cidades
As colônias e municípios do interior
O mundo gira aqui na metrópole
É aqui que eu vou crescer
Mas crescer o quê?
Enriquecer? Pode até ser.
Mas por mais que tente me envolver
Eu não sou daqui.
Até gosto daqui, conheci tantas pessoas legais
Mas eu não vim daqui,
A gramática e a cultura não combina com a minha
Talvez devesse trazer minha casa pra cá
Mas não adianta porque os vizinhos são chatos demais.
Vão reclamar se eu trazer coisa demais.

Quando eu fazia várias mudanças
No meio de minhas andanças
Nunca mudei de fato
Ainda há um fio de náilon
Me conectando á um passado e á um lugar
Um lugar onde posso viver o sonho bucólico
Um lugar onde os pastores não falam de negócios
E as metas são menores do que aqui
Por que as ambições não são tão grandes assim

Talvez eu me mude quando me aposentar
E assim vou deitar na rede e relaxar
Mas eu não posso esperar
Não posso aguardar uma utopia
Porque não é o que ela é
Ela é um mistério
Que precisa ser descoberto
Quando vim pra esse mundo
Esse era o berço do futuro
Mas agora é outro vendaval
Como em qualquer outro local
Preciso saber no que se tornou
E no que posso me tornar
Se eu não voltar pra casa

𝙉𝙚𝙤𝙥𝙤𝙚𝙩𝙞𝙠𝙖Onde histórias criam vida. Descubra agora