Não é frustrante quando você faz de tudo pra conseguir o que quer, e no último momento, parece que a cortina sobe e revela todos os segredos que mantiveram longe de você?
Não quero mais sair de casa, não mesmo. Não depois do que ela fez comigo, se eu não estivesse apaixonado por ela eu ia largar ela de vez. Mas o coração não deixa, ele me domina. Estou vendo as conversas antigas do celular... não deveria estar fazendo isso, porque só vai me deixar mais pra baixo, como se escutar Legião Urbana já não me deixasse triste o suficiente.
Essa foto que estou vendo agora é da primeira vez que a gente se conheceu... Foi na Lan-house que fica no caminho da escola, bem daora. Ela estava com sua panelinha e eu estava com a minha, mas nós dois estávamos esperando nossa vez. Quando ela chegou, acertou em cheio, a gente jogou junto num mundo aberto, bagunçando tudo e gastando quantas vidas quiséssemos.
Essa outra foto eu tirei na aula de educação física, enquantos todos jogavam futebol e queimado, preferi não me queimar, sou terrível na bola. E parece que ela também sentou na arquibancada, então batemos um papo sobre as pessoas que conhecíamos e os tempos que vivíamos. Acabou que ela ficou fuçando meu celular, foi olhar minhas mensagens e minhas fotos pra saber da minha vida, e assim saiu a foto.
Um passeio escolar, esse foi legal... A gente foi para um parque lá na zona sul do Rio, não sei bem aonde fica, só sei que foi inesquecível. Tinham bichos de todos os tipos pra todos os lados, e passávamos por estátuas greco-romanas das quatro estações. Acabei me perdendo no meio de tanta coisa pra observar, foi constrangedor, mas saí gritando o nome dela por todo lugar.
Tem essa daqui quando a gente ficou na tarde da noite conversando no banquinho da praça, na mesa de pedra colocamos nossas cartas pra jogar Uno. Mas aí os outros dois que estavam conosco não paravam de ficar papeando e a gente só queria jogar, então abrímos o jogo.
Tem muitas outras se você quiser ver...tem essa aqui quando a gente foi pra praia. A água estava molhada pra caraca, que nem uma geladeira, então preferi ficar na areia. Mas ela tinha que me pertubar, e me convenceu a nadar com ela, não me arrependo, a água parecia uma geleira, mas ao menos ela me deixava quentinho.
Talvez eu devesse parar de te mostrar as fotos da minha galeria...isso tá me deixando muito triste, não é irônico? Lembranças alegres te deixando pra baixo? É porque poderíamos ter continuado desse jeito, nós daríamos muito certo, mas ela vacilou comigo e abandonou o sucesso. Tento ficar de boa só na amizade, mas sinto uma inveja tão grande quanto a saudade.
Mas olhando as fotos de novo e de novo, me pego pensando num retorno. A notificação de armazenamento cheio vem todo dia e eu insisto em deixar essas fotos comigo. Se nós esquecessemos tudo de ruim, tudo o que não enquadramos nas fotos, tudo o que não está na galeria, será que haveria volta? Poderíamos viver apenas das fotos que tiramos e dos registros dos momentos em que estávamos completamente á mercê dos nossos sentimentos?
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𝙉𝙚𝙤𝙥𝙤𝙚𝙩𝙞𝙠𝙖
PoesíaUma pluralidade de pensamentos de um poeta juvenil. Poemas escritos no ano de 2020. 🥈 2º Lugar em Microconto no concurso poucas palavras. 🥉 3º Lugar em Haikai no concurso poucas palavras.