Capítulo 20: Amigos?

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"Aquele infeliz! Maldito! Mal agradecido! Egoísta! Inconsequente! Insolente! Quem ele pensa que é? Ele se esqueceu de quem o colocou onde esta agora? Ele acha que pode dar as costas pra tudo? Dar as costas pra mim?"

Xiao Ying andava de um lado para outro no closet, seus passos eram pesados, prontos para abrir uma cratera no chão. As juntas dos dedos estavam brancas, resultado da força excessiva que usava para segurar o celular em uma mão e o grande rubi na outra. Seus olhos estavam histéricos e seus lábios tremiam frenéticos com o dilúvio de insultos que descarregava, nunca antes havia proferido tantos xingamentos em tão pouco tempo como agora.

"Ele acha mesmo que pode me deixar de fora?"

Cega pela raiva, Xiao Ying lançou o celular em direção à parede de espelhos no final do closet quebrando quase todos com o impacto. Cacos cortantes se espalharam pelo chão de porcelana reluzindo com a luz sintética vinda do lustre.

Em questões de segundos, o quarto foi invadido por inúmeros empregados que entraram correndo sem pedir permissão, eles suspiraram de alívio quando viram que a mulher estava bem (talvez "bem" não fosse à palavra).

A patroa só estava surtando, nada fora do habitual.

"Miserável! Mimado! Hipócrita! Mentiroso!"

"Senhora Xiao -" tentou uma das empregadas.

"Calem a boca, eu não quero ouvir nenhum de vocês. Ninguém abra a boca, ninguém faça barulho!"

Xiao Ying trotou até a outra extremidade do cômodo e se jogou em cima da enorme cama de casal, cobrindo os olhos com a mão. Os empregados a seguiram em silêncio, observando com uma curiosidade pávida, trocando olhares confusos e cautelosos entre si.

É isso, enlouqueceu de vez. Um dos seguranças da residência pensou.

Aposto que viu uma assombração. Sempre soube que ela era assombrada, essa áurea maligna... Cruzes! Especulava a cozinheira recém-contratada.

Que droga! Agora terei que limpar a bagunça. Reclamava em pensamento uma das empregadas.

O que aconteceu? Ela morreu? Outra empregada que entrava correndo questionou mentalmente, ela olhou para a mulher jogada na cama e suspirou tristemente. Oh, não foi dessa vez.

"Eu não entendo, eu dei tudo pra ele e é assim que me agradece?" Queixava-se em voz alta e, impressionantemente, era possível notar uma pitada de mágoa no tom da mulher, de tal modo que os empregados se surpreenderam com a rara demonstração de fragilidade.

Ninguém se mexeu.

"Sempre me colocando como o monstro da situação; aquele pirralho hipócrita! Eu não fui uma boa mãe? Não dei tudo o que ele queria?"

Ninguém fez um som sequer.

"Respondam, eu estou falando com vocês!" Gritou, colocando-se de pé com um olhar mortal.

Todos se sobressaltaram pegos de surpresa e, imediatamente, pode-se ouvir uma cacofonia de "claro que sim" e "a senhora foi uma ótima mãe", "um exemplo", "excelente", "perfeita". Adjetivos soltados a esmo com o único intuito de salvarem a própria pele.

Xiao Ying fechou os olhos e respirou fundo, recuperando o autocontrole. Passou os dedos pelas longas madeixas negras como piche, voltando à típica aparência perfeita e intocável. O momento de histeria havia passado, agora era a hora de forcar em contornar a situação, e ela sabia muito bem como manipular o jogo ao seu favor. Com a expressão apática, sem demonstrar um pingo de emoção sequer, apontou para o mordomo sinalizando para que o mesmo se aproximasse, e ele o fez, ainda que hesitante.

FROST [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora