Coração Selvagem.

Capítulo 5 - Anjo caído - E.M

Em meu estomago há uma pedra de gelo, não sei onde estava com a cabeça quando aceitei vestir essas roupas tão justas e muito menos quando aceitei ir até o tal bar com Lola. Estamos caminhando a mais ou menos uma hora, e não há qualquer sinal de outra coisa que não seja cercas, matos e vacas. O vento gelado faz com que minha pele se arrepie e eu me amaldiçoe por não trazer um agasalho. Quando foi que o clima mudou tão drasticamente? Eu estava a pouco me desfazendo em suor e agora estou tremendo como vara verde.

Lola parece não sentir o mesmo efeito, suas roupas são menores que as minhas e ainda assim ela parece nem se importar. O som dos grilos é a única coisa que escutamos no caminho, não há claridade, apenas o brilho da lua indicando o caminho.

Eu sou muito idiota, eu realmente sou. Eu poderia estar bem agasalhada e confortável em minha cama, mas ao invés disso eu escolhi me aventurar pelas estradas de terra, por nenhuma razão lógica aparente, talvez eu tenha levado algum tombo quando criança e isso prejudicou minha sanidade mental.

Um som aterrorizante me faz congelar em meu lugar, o uivo de um lobo me faz estremecer, olho nervosamente para Lola que pareceu não se importar com a proximidade de um animal feroz que pode nos devorar em minutos.

- Lola?? – A chamo quase sem voz, estou em pânico. – Ouviu isso?

- Sim ouvi. – Ela continua andando sem se importar.

- Não acha que devemos voltar?

- Dona Emile eu faço esse caminho a muito tempo e as vezes sozinha, não há nada para se preocupar.

- Lola tem certeza que é seguro?

- Emile, você já perguntou umas cem vezes desde que saímos.

- Mas, Lola está tão escuro, você escutou, podem haver animais ou até algum bandido sei lá.

- Não seja boba, já estamos perto, voltar seria loucura.

- Mas – Tento argumentar.

- Se continuar parando o lobo vai realmente nos alcançar...

Olho em volta tomada pelo terror e apresso meus passos, maldito seja esse bar e maldita seja minha estupidez. Mas de nenhum jeito eu ficaria sozinha nessa escuridão, estou quase grudada na Lola, mesmo sabendo que ela seria incapaz de fazer qualquer coisa para nos proteger caso algo aconteça.

- Quando você diz que estamos perto, é perto quanto? – Pergunto ainda encarando a escuridão.

- Perto, está vendo aquele pequeno morro? – Ela pergunta apontando.

- Uhum.

- Logo atrás dele está o bar.

- Mas por que um bar no meio do mato? Porque não na cidade?

- Qual seria a vantagem? Ali nenhum xerife nos incomoda. – Ela diz dando de ombros.

A medida que vamos nos aproximando eu consigo ouvir ainda baixo a musica que toca, Lola já balança os quadris e bate palmas animada, sorrio vendo sua animação. Gosto do ritmo que escuto, agora está cada vez mais claro e me aproveitando da escuridão me deixo dançar, ninguém me veria aqui.

- Vamos Emile, eu amo essa musica.

- Qual o nome? – Eu não conheço.

- Good time, Alan Jackson.
 
Ela me puxa pelas mãos e me arrasta com pressa, já posso ver os fios de luzes fora do que mais parece um grande celeiro. É realmente no meio do nada, não há casas próximas, como se todos estivessem ali em um clube secreto.
 
O lugar tinha vida própria, era como se o silencio e a paz do interior fosse invadida por musica e risadas. Eu nunca imaginaria um lugar desses aqui, é tão simples e ainda tão caloroso. Paramos a poucos metros, olho com curiosidade alguns homens do lado de fora, sentados encima de algumas motos e bebendo suas cervejas, há também camionetes que servem de palcos para mulheres dançarem enquanto os homens uivam como lobos.
 
- Este é o bar do Devon. – Lola diz animada. – Vamos entrar...
 
Ela me puxa pela mão me arrastando, eu ainda estou apenas deixando meus olhos passearem, descobrindo coisas que nunca havia visto. Eles pareciam tão animados, alguns assobiavam quando passávamos e Lola sorria orgulhosa e, por vezes ela reconhecia e ia até o homem que a abraçava agarrando as mãos em sua bunda, isso era tão desrespeitoso, ela não devia deixa-los fazer isso.
 
- E quem é  esta belezinha com você Lola? – Um homem alto de cabelos castanhos escuros e barba mal feita perguntava me olhando.