Me sentei ao lado do Dome, o cumprimentando rapidamente. Havia um certo falatório por parte dos repórteres além de se ouvir o clique das câmeras tirando fotos.
- Boa noite! - eu disse e algum me responderam. O pessoal da assessoria de imprensa do Flamengo autorizou o início das perguntas.
- Boa noite, Domenec e Gabigol! - um rapaz com o uniforme do SporTV disse e eu o cumprimentei com a cabeça - Dome, hoje a zaga do Flamengo permaneceu sólida durante o jogo e desde o início do campeonato o time tinha uma das defesas mais vazadas. Você considera permanecer com Rodrigo Caio e Thuler como titulares ou ainda pretende dar rodagem para Gustavo Henrique e Léo Pereira?
- Bom, eu tenho uma filosofia de jogo que é a do rodízio. Gosto de usar todos os jogadores que tenho a disposição porque isso evita muitas lesões e também os deixa preparados para qualquer desafio que possamos enfrentar. Hoje realmente a zaga foi impecável principalmente pela experiência do Rodrigo e do Thuler, que apesar de jovem, já tem muito confiança e visão de jogo. Mas preciso utilizar os nossos outros dois zagueiros porque acredito que eles ainda tem muito que aprender e ninguém aprende só olhando. Errar faz parte e entendo as críticas da torcida mas penso que tudo requer tempo para que possamos atingir a perfeição enquanto equipe - o repórter agradeceu e outro levantou a mão.
- Gabigol?
- Pode falar!
- Com os dois gols de hoje, você assume a liderança da artilharia do Brasileirão. Se esses resultados forem constantes até o fim da competição, você será o primeiro jogador a ser artilheiro pela terceira vez consecutiva no Brasileirão. Como você se sente em relação a essa boa fase na sua carreira, com esses dados positivos?
- Bom, é claro que ser artilheiro pra mim demonstra que toda a minha dedicação tem dado resultado e fico muito feliz com isso mas acredito que o mais importante é fazer os gols e poder ajudar o time e meus companheiros. Até porque sem eles, com certeza esses números não seriam possíveis.
- Não posso deixar de dar parabéns pra você e a sua esposa pelo bebê e de dizer que os flamenguistas já estão o adotando como novo mascote do time! - o jornalista disse e nós rimos.
- Agradeço e fico muito feliz em saber que meu filho ou filha, ainda não sabemos, está recebendo todo esse amor e carinho mesmo antes de nascer!
- Uma pergunta para o Dome! - uma jornalista levantou a mão e disse. Senti alguém me cutucar e vi que era o Felipe Luis. Me virei e sussurrei um "o que foi?", já que ele não estava com uma cara muito boa.
- É a Julia! - meu coração errou as batidas. Braz se aproximou de nós dois e falou que eu poderia sair da entrevista. Me levante acompanhando o lateral enquanto ouvia o vice-presidente falar que no microfone para os jornalistas que havia um imprevisto e que eu precisava sair da entrevista agora.
- Ok! Vocês estão me assustando - eu disse assim que chegamos no vestiário. Ninguém ali estava com uma cara muito boa - O que aconteceu?
- Marília ligou. Do hospital! - arregalei os olhos.
- Caralho, me expliquem logo o que aconteceu? Como assim do hospital?
- Parece que uns torcedores do Vasco agrediram as duas. A Marília tá bem mas a Julia tá inconsciente e com hemorragias internas. O médico acha que o bebê não aguentou! Ela tá na cirurgia agora - o camisa 7 disse e eu senti minhas pernas cambaleando. Diego Alves segurou meus braços e me fez sentar enquanto Michael me entregou um pouco de água para beber.
- Como isso aconteceu?
- Não consegui entender direito mas a Marília disse que uns dos torcedores era o motorista do Uber que as duas estavam. Algumas pessoas que ajudaram as duas chamaram a polícia e parece que eles já estão na delegacia - assenti.
Braz chegou na sala e ao seu lado estava nosso técnico. Pela feição do espanhol, já estava consciente do que havia acontecido.
- Vamos que vou levar vocês dois para o hospital - Marcos apontou para mim e o Ribeiro - Enquanto o resto segue com a comissão técnica até o CT para irem embora! - peguei minhas coisas que havia levado para o jogo e segui os dois até o estacionamento, onde estava o carro do Braz.
Entramos no carro. Preferi ficar atrás porque eu não queria ter que ficar falando muito sobre o assunto. Peguei meu celular enquanto os dois conversavam na frente. Vi que tinha uma mensagem da minha esposa, falando sobre o tal Uber e eu me senti ainda mais mal. Ela precisava de mim e eu nem estava presente para a ajudar. Deixei algumas lágrimas caírem enquanto avisava meus pais e os de Julia sobre o que aconteceu.
Minha mãe me ligou durante o trajeto e eu expliquei tudo que eu sabia a ela. Lindalva tentou me passar segurança e disse que ela iria para o Rio o mais rápido que fosse possível. Agradeci e ela me passou segurança.
Desliguei a chamada quando chegamos ao hospital e já tinha alguns repórteres ali.
- Como eles já sabem o que aconteceu? - Ribeiro perguntou mas ninguém respondeu. Acho que todos ficamos pensando nas possibilidades.
Passamos entre eles sem muita dificuldade apenas muito flash e também perguntas. Não paramos para dar atenção a nenhum deles e caminhamos até a recepção.
Everton Ribeiro deu nossos nomes e a recepcionista nos indicou o local para onde deveríamos ir. No segundo andar, estava num quarto, uma Marília sentada, chorosa e com alguns curativos no rosto. Assim que ela nos viu, correu para abraçar o marido. Assim que eles se afastaram, o olhar de Marília se voltou para mim.
- Gabriel... - sua voz era falha. Ela me abraçou e eu acabei chorando.
- Como ela tá, Marília?
- Ainda não saíram da cirurgia mas a enfermeira veio aqui e confirmou. Infelizmente ela perdeu o bebê!
Deus! Eu já estava arrasado só de pensar na possibilidade e agora ela era a realidade. Estávamos muito felizes a horas atrás e de repente tudo foi por água a baixo.
- Por quê esses filhos da mãe não vinheram descontar a raiva deles em mim? POR QUÊ FIZERAM ISSO COM A MINHA MULHER E COM O MEU FILHO? - eu disse um pouco alterado. Eu já não sabia se chorava, gritava, se saia correndo.
- Calma, Gabi! - Ribeiro tentou me ajudar.
- NÃO TEM COMO FICAR CALMO! VOCÊ SABE O QUE É PERDER UM FILHO? VOCÊ ENTENDE O QUE É SABER QUE A SUA ESPOSA ESTÁ LÁ DENTRO E NÃO PODER FAZER NADA? NEM AO MENOS EU POSSO QUEBRAR A CARA DAQUELES IDIOTAS QUE FIZERAM ISSO!
Um enfermeiro veio ver o que estava acontecendo por que eu havia explodido.
- Senhor? - ele me chamou e eu o olhei - Peço que fique calmo. Esse nervosismo não vai o ajudar em nada.
- Desculpa, eu não consigo!
- Tudo bem! O que acha de te darmos um calmante?
- Talvez seja uma boa ideia! - Braz opinou - Ele está meio alterado - o enfermeiro assentiu e saiu da sala.
- Me desculpa, Everton! - eu disse ao meu companheiro de time e ele apenas me de leves tapinhas no meu ombro.
O enfermeiro voltou com um carrinho. Ele falou que era melhor eu deitar nas poltronas porque eu iria apagar. Assenti e me sentei numa das suas poltronas que ali havia. Inclinei a cadeira para trás e estendi meu braço para que o rapaz aplicasse o calmante com a seringa.
- Quando vocês souberem alguma coisa da Julia, vocês precisam me avisar! - vi Marília assentir com a cabeça antes de ver tudo começar a girar e eu fechar meus olhos.
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Imagines - Flamengo
FanfictionImagines com os jogadores do time rubro-negro. PEDIDOS FECHADOS