Capítulo 30

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Emy

A primeira coisa que noto ao abrir os olhos é meu irmão gêmeo sentado na cama ao meu lado, sua cabeça baixa, olhando para a tela do telefone em suas mãos. A tinta de seu cabelo estava um pouco desbotada, mas eu sempre achei que ficava mais bonito assim, com as cores de um modo mais apagado do que o colorido chamativo recém pintado.

A segunda coisa que noto é a sede agarrando-se a minha garganta. Eu tento falar, mas sinto como se tivesse arrastando a língua em uma lixa, e apenas um som sufocado sai de meus lábios. Deve ser o suficiente para chamar a atenção de Luka, porque ele levanta os olhos para me encarar, o castanho idêntico ao meu se enchendo de alívio.

"Ems..." Sussurra, deixando o telefone de lado e segurando minha mão na sua. Me surpreendo, porque Luka não me chama assim desde que temos seis anos. Eu aperto um pouco seus dedos, e ele busca um copo d'água para mim na mesinha ao lado da cama da enfermaria. "Você me assustou pra caralho."

"O que aconteceu?" Consigo sussurrar depois de alguns goles de água, apesar de minha voz ainda sair rouca. Eu não sentia mais como se estivesse engolindo pequenos cacos de vidro, então era bom.

"Não se lembra?" Questiona, e eu mordo o lábio.

"Me lembro de receber um bilhete para ir para o refeitório. Entrei, senti uma porrada na cabeça. Nada mais que isso." Digo, e ele suspira, seu polegar acariciando as costas da minha mão. Luka, como eu, nunca foi muito bom em esconder seus sentimentos. Eu podia ver em seus olhos o quanto isso havia o afetado.

"Isso é praticamente tudo que sabemos também." Murmura. "Estamos tentar achar o quem está fazendo isso, mas essa pessoa sabe exatamente o que está fazendo. Não tem digitais, as câmeras nunca estão funcionando nessas horas..." Sei o que ele está pensando antes mesmo de dizer.

"Estamos lidando com elite." Falo, e Luka assente. Nós dois sabemos que alguém que não tem uma posição na elite provavelmente não poderia ter acesso a nada disso. Além disso... Apenas elite tem acesso às câmeras.

Meus olhos novamente param no cabelo do meu irmão. Ele não retocava a tinta há um tempo... O que me faz pensar em outra coisa.

"Faz quanto tempo que estou aqui, Luka?" Sussurro. Os olhos cor chocolate do meu irmão encontram os meus, e eu sei que a resposta não é nada boa. Ele tinha manchas escuras abaixo de seus olhos, que sinalizavam que ele não tinha uma boa noite de sono há um tempo.

"Quase dois meses." Eu arregalo os olhos. "Algumas coisas aconteceram enquanto você estava aqui, Em..."

Antes que ele possa continuar, a porta da enfermaria abre, e eu vejo Aspen entrar com dois copos de café. Ela parecia dizer algo para meu irmão, mas trava ao me ver acordada, arregalando os olhos. Embora essa reuniãozinha seja linda, minha mente foca no fato que Asp e Luka provavelmente tem passado bastante tempo aqui. Juntos.

Não era segredo para mim o modo que meu irmão olhava para minha melhor amiga. Sempre soube a queda que ele tinha por ela. Acho que isso tudo apenas aumentou quando eles se beijaram naquela brincadeira de verdade ou desafio, alguns meses atrás.

"Emy!" Aspen exclama, e se aproxima rapidamente para me abraçar. Eu solto uma risadinha divertida, mas a abraço também, passando a mão levemente por seu cabelo.

"Eu estou bem." Murmuro, sabendo que ela deveria estar mais do que preocupada. Asp suspira, e eu vejo seus olhos cheios quando se afasta um pouco.

"Vou espalhar a notícia que você acordou." Luka diz, se levantando, e eu concordo com a cabeça. O vejo trocar um olhar com Aspen, então sai da enfermaria. MInha amiga ocupa a cadeira que meu irmão estava sentado apenas alguns segundos atrás.

Eu levo um segundo para analisar minha amiga. Ela também parecia cansada, com leve olheiras debaixo de seus olhos. Sua pele estava pálida, e sua postura era a de alguém que precisava desesperadamente de um descanso. Por mais que eu saiba que minha situação não ajudava, algo me dizia que não era apenas por minha causa.

Mas novamente, a porta abre, e eu nem mesmo consigo perguntar. Mas quando Hazel entra, minha atenção vai para ela. Seu cabelo estava curto e totalmente preto, e eu me encontro sentindo falta do colorido. Sua expressão era fechada, mas eu consigo ver que ela está aqui por preocupação.

Seus olhos encontram os meus, e ela suspira, dando um pequeno sorrisinho.

"Hey, Em." Murmura, e eu retribuo seu sorriso. Não me importo que não nos falamos há muito tempo, e ela tem estado fechada e presa em sua própria cabeça. Senti falta dela, e não quero me preocupar com nada mais que isso.

"Vem cá, sua pé no saco do caralho." Digo, abrindo os braços. Ela solta uma leve risadinha e se aproxima para me abraçar. A aperto contra mim, fechando os olhos, mas Haze não parece se importar e me segura da mesma forma.

"Desculpa." Ela sussurra, e eu apenas assinto. Sei que ela estava se referindo ao modo como agiu após a morte de Dame, mas eu não a culpava por ter se fechado. Precisava de um tempo, e não há nada de errado com isso.

Hazel se afasta, e Aspen puxa uma segunda cadeira para ela ao seu lado, a abraçando também depois que a menina senta. Nós três fomos melhores amigas por anos, e já brigamos vezes demais. Não vai ser alguns meses que vai terminar com tudo.

"Agora só falta Sky para o grupo estar completo." Digo, e imediatamente vejo o olhar que as duas trocam. Medo acende em meu peito. "O que foi? Ela está bem?"

"Sky está bem. Fisicamente." Aspen murmura, e eu arqueio as sobrancelhas, com uma sensação nada boa sobre isso. As duas meninas se encaram novamente antes de Hazel explicar.

"É Hardin." Ela murmura, e eu vejo um lapso de dor em seus olhos antes que ela esconda. "Seu carro explodiu na corrida anual, quase um mês atrás. Ele morreu."

Eu arregalo meus olhos, que enchem. Hardin e eu nunca fomos muito próximos. Ele era amigo de Luka, mas não a ponto de nossos ciclos de amizade se cruzarem tanto assim. Aspen, porém, era mais próxima dele. Ele foi seu primeiro beijo, afinal, quando ela tinha dez anos. Hazel e Hardin também haviam se aproximado um do outro, mais ou menos na época em que toda a merda com Rowan aconteceu.

E Sky... Porra. Ela gostava dele, eu sabia disso. Bastante. Eu não diria amor ainda, mas era algo próximo disso.

"Como ela está?" Murmuro, e Aspen suspria.

"Ela diz que está bem, mas é claramente mentira. Não come muito, e eu duvido que esteja dormindo bem também. Quase não sai do quarto nos finais de semana." Aspen fala, e eu mordo o lábio. Porra.

"Vocês acham que é a mesma pessoa? Que matou Dame e Hardin e me colocou no hospital." Digo, e as duas concordam com a cabeça. Antes que possamos continuar o assunto, a porta abre mais uma vez, e quem entra dessa vez é Sky.

Eu imediatamente sei do que Aspen estava falando. Skyah está um pouco mais magra, e tinha sobras abaixo dos olhos, com uma expressão magoada no rosto que ela tentava esconder. Usava moletom, com o cabelo preso em um coque bagunçado. Ela não estava bem, nem um pouco.

"Emy..." Murmura, e imediatamente se aproxima para me abraçar. Eu não me importava com a quantidade de abraços que estaria recebendo, principalmente sabendo que Sky provavelmente precisava mais que eu.

"Sinto muito, amiga. Elas acabaram de me contar." Sussurro, e ela assente, fungando baixinho. Se afasta e logo olha para Hazel.

"Sky, eu..." Antes que Haze possa continuar, Sky a abraça apertado.

"Eu entendo, está tudo bem." Murmura, e Haze, apesar de surpresa, envolve os braços ao redor da cintura de Sky, a abraçando também. Isso parece ajudar as duas meninas, que relaxam um pouco, como se tivessem tirado um certo peso dos ombros.

Eu sabia, porém, que por mais que nossa amizade ajudasse, Sky estava com o coração quebrado. E isso eu temo que não podemos consertar. 

Kill me, baby - Lockwood High ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora