Capítulo 31

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Encontro outro bilhete na minha cama um mês após a corrida de Hardin. Eu não quero abrir. Não quero saber o que estava lá dentro, não quero mais receber esses papéis, não quero mais saber segredos alheios ou encontrar corpos e amigos feridos. Mas eu sei que nada vai mudar se eu não abrir, e isso talvez apenas irrite quem quer que esse assassino fosse, podendo piorar a situação.

Então caminho até minha cama e pego o papel. Ao abrir, encontro apenas Sala 303 escrito. Eu tinha acabado de voltar do jantar, e todos os alunos estavam indo para seus quartos, então suponho que os corredores estariam mais ou menos vazios. Suspiro, passando a mão no cabelo, e pego minha arma e minha faca antes de sair do quarto novamente.

Deixo Ônix e Saphira no quarto, temendo que possa acontecer algo com algum dos dois. Sigo pelos corredores da escola, de olho na numeração das salas, até que encontro clube de informática (ou clube para se tornarem hackers profissionais, você pode escolher como quer chamar). Sala 303.

Suspiro, olhando para ver se alguém estava de olho em mim antes de entrar. Acendo a luz da sala, com uma de minhas mãos segurando uma arma, mas não encontro nada perigoso lá dentro. Nada de corpos, amigos feridos ou assassinos esperando para me matar. Apenas diversos computadores apagados.

Um deles, porém, tinha um post-it na tela. Eu travo ao ver o papel colorido, minha mente imediatamente chegando a conclusão que Hardin era quem havia me levado para cá. Mas essa ideia imediatamente murcha, por três motivos. Primeiro, a sala estava vazia. Segundo, ele estava morto. Terceiro, a letra no post-it não era sua.

Me ligue, era o que estava escrito. Eu suspiro, me aproximando, e assim que mexo no mouse, a tela acende. Eu me vejo de cara com o mesmo arquivo que Logan me mostrou, do escritório do meu pai. Exceto que esse tinha mais informações.

Líder: desconhecido.
Membros: Frost, Darko, Hardin, Sydney, Hazel, Rush, Aspen, River, Axel e Heath.

Aspen estava nisso também? E Hazel. Desço o arquivo e vejo nomes de diversas máfias, que pareciam relacionadas com o grupo dos Silver Bloods. Eu não fazia ideia do porque, mas não me surpreendo tanto quanto deveria quando vejo a máfia do meu pai. Claro.

Membros falecidos: Rowan Vance.

Vejo as informações sobre Rowan que estavam ali. O nome de seus pais, e uma irmã gêmea, Tristan Vance. Não haviam muitas informações sobre eles também, apenas que os dois frequentavam Lockwood High antes da morte de Rowan.

Pego meu telefone e tiro foto de todas as páginas do arquivo antes de fechar tudo, jogar o post-it fora e sair da sala. Dou de cara com River Soul, Joker dos Spades. Meu coração acelera com o nervosismo, e ele arqueia uma sobrancelha, olhando de mim para a porta.

"Essa sala é exclusiva para membros do clube de informática." Diz, e eu engulo em seco, assentindo.

"Não vou entrar de novo. Estava apenas procurando algo." Murmuro, e não lhe dou tempo para continuar a conversa antes de passar por ele e sair andando. Felizmente, River nem mesmo tenta me parar.

Caminho de volta para meu quarto, e um único pensamento aparece em minha mente. Pode ser um erro, ou apenas um atraso, mas...

O nome de Hardin não estava entre os membros falecidos dos Silver Bloods.

* * *

Eu acordo na noite seguinte com toque do meu celular na mesinha ao lado da cama. Franzo a testa, esfregando os olhos antes de sentar e segurar o aparelho, vendo um número desconhecido na tela. Penso em desligar, temendo que possa ser propaganda de algo, mas decido atender. Era bom ser importante, para me ligar às três da manhã de uma terça.

"Alô?" Murmuro, minha voz sonolenta.

"Wolf girl..." Escuto sua voz rouca, e todo o sono me deixa imediatamente. Arregalo os olhos, acendendo a luz do abajur ao lado da minha cama.

"Hardin?" Exclamo.

"Eu preciso de ajuda." Murmura, e eu imediatamente levanto da cama. Ônix e Saphira levantam a cabeça alarmados, mas voltam a dormir ao ver que era apenas eu.

"Onde você está?" Questiono, colocando um moletom e calçando um par de chinelos.

"No estacionamento da escola, eu acho." Murmura. Pego as minhas chaves e corro para fora do quarto.

"Estou indo." Falo, e me apresso, correndo mais rápido do que já corri antes em toda a minha vida. Hardin estava vivo. Vivo e nessa escola. Tudo vai ficar bem.

Apenas desligo a ligação quando entro no estacionamento e o encontro sentado, encostado na parede. Ele usava apenas uma bermuda, que por sua vez estava encharcada, assim como o resto dele, seu corpo cheio de cortes e hematomas. Pelo modo como Hardin tremia e seus lábios estavam roxos, eu diria que estava com um caso de hipotermia.

Me aproximo e me ajoelho ao seu lado. Hardin parece apenas notar que estou ali quando toco em seu ombro, e um tremor percorre meu corpo com o frio de sua pele. Ele abre os olhos, e um alívio gigante enche meu peito quando olho para aquele dourado profundo que sempre me lembrou de ouro derretido.

"Hey." Sussurra, e uma de suas mãos sobe até meu rosto. "Não chora." Seu polegar captura a lágrima que eu nem mesmo sabia que tinha escorrido. Engulo em seco.

"Vou ligar para Heath." Murmuro, já procurando seu número. Hardin precisava sair daqui, e eu duvido que iria conseguir se levantar sozinho. Eu não ia conseguir carregá-lo até um quarto sozinha.

Escuto dois toques antes de Heath atender. Eu sabia que poderia ter ligado para outra pessoa. Aspen, Frost, Nico... Mas Heath foi a primeira pessoa que eu pensei. Eu sabia que, mesmo sendo de madrugada, ele iria atender. Não sei porque, já que nem mesmo somos tão próximos quanto eu e Asp, por exemplo, mas era assim que as coisas eram.

"Sky?"

"Hardin está vivo. Estacionamento. Preciso que venha para cá agora." Digo, a urgência do momento fazendo com que a emoção não tomasse conta de mim.

"Estou indo." Heath fala sem questionar, e desliga. Eu guardo o celular no bolso e olho para Hardin, que estava com a cabeça encostada na parede, os olhos quase se fechando, mas focados em mim.

"Não dorme, Hard." Murmuro. Ele assente, e quando treme mais uma vez com o frio, eu suspiro, sentando ao seu lado e o puxando para mim, o abraçando por trás, deixando que ele deite sua cabeça em meu ombro. Era como abraçar pedras de gelo, mas eu não me incomodo. "Onde você estava?"

"Não me lembro." Sussurra. "Apenas flashes. Água, muito gelada. Gelo também. Uma faca. Nada além disso."

Eu mordo o lábio, o apertando mais contra mim quando o sinto tremer de novo. "Qual é a última coisa que se lembra com clareza?"

"Eu estava na corrida, e a palavra bomba apareceu no visor do meu carro, com uma contagem regressiva de um minuto. Eu me distraí e acabei perdendo controle do carro. Pulei para fora, e me lembro apenas de rolar, a dor do asfalto, alguém me puxando para fora da pista e o barulho da explosão. Nada além disso." Ele explica, e eu fecho os olhos por um segundo.

Ele está bem. Pulou para fora do carro antes de explodir, e o corpo não era dele. Hardin está vivo.

Heath chega antes que eu possa falar qualquer outra coisa, e me ajuda a levar Hardin para fora dali, um braço dele ao redor dos ombros de cada um de nós.

Tudo vai ficar bem, penso.

Pela primeira vez desde a corrida, me permito acreditar nisso um pouquinho.

Kill me, baby - Lockwood High ano 1Onde histórias criam vida. Descubra agora