"Hellen é Problema Seu, Renato!"

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O dia que Hellen mais temia enfim chegou. O dia do casamento de Rogério e Alicia.

A cerimônia religiosa seria em uma das mais belas catedrais da cidade e a recepção no salão de festa de um dos hotéis em que a família Reis era proprietária. Um evento para quase quinhentos convidados entre familiares, amigos, empresários e nomes importantes da sociedade.

Antes que essa data chegasse Hellen teve inúmeras brigas com o pai. Em uma delas Rogério chegou a sugerir que compraria um apartamento para a filha na intenção de que ela deixasse-o em paz e fosse seguir sua vida. A garota só não aceitou a proposta porque não teria coragem de abandonar o lugar em que nasceu e viveu momentos felizes com sua mãe. A última discussão aconteceu na noite anterior. Hellen chegou a levar um tapa no rosto quando chamou a futura madrasta de puta e vadia.

Ainda no quarto, ela lia uma revista onde na capa estava estampada uma foto de Victor beijando Laura em uma praia paradisíaca. A manchete dizia o seguinte:

O desejado jogador Victor Castro tem novo amor. "Estou apaixonado", confessou o artilheiro do campeonato brasileiro.

Na matéria havia várias fotos do novo casal em clima romântico, sorrindo, felizes como dois pombinhos...

Hellen ficou se perguntando se Renato já tinha visto aquilo e qual foi o impacto que lhe causara, afinal, a culpa da "chatinha" tê-lo deixado foi toda sua e sabia que o ruivo sofreu muito com o fim do relacionamento.

Ela ainda folheava a revista quando o guarda-costas entrou em seu quarto. Tentou esconder o exemplar debaixo do travesseiro.

– Fico feliz que queira me poupar, senhorita, mas eu já li... – ele falou.

– Ah... Sinto muito...

– Não sinta... Laura está apenas seguindo a vida dela. Mais cedo ou mais tarde isso teria que acontecer... Só nunca imaginei que fosse com Victor Castro.

Silêncio...

– A que horas pretende sair?

– Por mim já teria ido... Mas ainda não decidi pra onde vou. Não quero ficar aqui olhando os inúmeros presentes que já estão chegando e toda essa bajulação por conta desse maldito casamento... – ela disse trincando os dentes.

– Bem, então se permitir irei acompanhar Miguel até o banco. Seu pai pediu que fossemos até lá cuidar de alguns assuntos...

– Tudo bem. Quando você chegar já tenho pensado em um lugar pra ir...

A ida do ruivo ao banco era o que Hellen precisava para poder sair sozinha da mansão. Mentiu para ele quando falou que não tinha paradeiro definido. Existia um lugar... Um cantinho em que costumava ir com sua mãe para lerem ao ar livre, fazerem piquenique, conversar ou apenas buscar sossego...

Já tinha colocado seus livros inacabados e bastante comida dentro de uma velha mochila. Não estava fugindo de casa como uma criança que brigara com o pai. Só queria algumas horas de solidão para tentar esquecer que não conseguiu impedir Alicia de tomar o lugar que pertencia a Marina. Queria pensar na vida, pensar em como seria se tudo fosse diferente...

Sem Renato em sua cola foi fácil. Nem precisou burlar a segurança. Ninguém desconfiou de nada...

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Quase todos os sábados mãe e filha faziam a mesma programação: passavam horas em um parque chamado: "Casa da Leitura", um ambiente para quem busca um lugar sossegado na companhia de um bom livro. Era uma espécie de parque ambiental para leitura, com um enorme casarão feito de madeira onde ficava a biblioteca e as salas com livros diversos. Almofadas e tapetes eram espalhados pelo chão para proporcionar um ambiente onde se podia ler por prazer, e até tirar um cochilo.

Fora do casarão, existiam vários quiosques onde se podia armar redes ou fazer um piquenique. E foi em um desses que Hellen se refugiou. Marina e ela adoravam esse cantinho e passavam horas lendo uma para outra. Às vezes a mãe aproveitava o lugar como inspiração para escrever poesias. Tinha tantas que estava presta a lançar um livro, pena que depois que ela faleceu ninguém encontrou o caderno com seus manuscritos. A garota revirou a casa inteira e a sala que a mãe tinha na universidade, mas não o encontrou.

O sumiço das poesias escritas por Marina Reis tinha virado um mistério...

Hellen estendeu uma toalha no chão, abriu um pacote de biscoitos e começou a ler "a Cidade do Sol" de KhaledHosseini. Agradeceu por já ter gostado do livro nos primeiros parágrafos. Assim, era mais fácil esquecer tudo que estava passando ao seu redor. Às vezes nenhum ser humano fazia tanta companhia como uma boa história.

De longe viu uma mulher e sua garotinha sentadas debaixo de uma das árvores, cada uma pintando um quadro. A imagem bela a fez sorrir.

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Uma hora se passou quando Renato voltou na companhia de Miguel. Eles tinham ido ao banco fazer um enorme saque para Rogério. Eles acreditavam que todo aquele dinheiro seria para pagar as despesas do casamento, um exagero, pois aquela quantia compraria uma boa casa popular.

Renato! - era Miranda chamando-o – O senhor Rogério precisa falar urgentemente com você. Ele está na biblioteca... Mas só para lhe adiantar o assunto: Hellen aproveitou sua ausência e saiu de casa escondida mais uma vez...

– Droga! - o ruivo resmungou baixinho.

– Estava demorando a diabinha aprontar novamente – bufou Miguel – Quando será que ela vai dar sossego pro meu tio?

Ainda incrédulo, o jovem guarda-costas se dirigiu rapidamente até o escritório onde encontrou o patrão soltando fogo pelo nariz, literalmente.

– Acho que já lhe contaram que minha filha aprontou novamente, Renato. - lamentou Rogério.

– Sinto muito, eu...

– Não, não, meu jovem... A culpa não é sua. Eu que não devia ter pedido que saísse com Miguel. Fico imaginado o que essa menina deve está aprontando, na certa algo para burlar meu casamento com Alicia... Faz alguma ideia de onde ela esteja?

– Não, senhor...

– Meu jovem, vou ser sincero com você. Minha filha é uma pedra no meu sapato e já não sei mais o que faça com ela. Hellen já tem dezoito anos, é maior de idade e responsável por suas atitudes. Cansei de me preocupar com ela com seus atos insanos. Pode ser rude da minha parte dizer isso, mas você é pago para protegê-la, e diga-se de passagem é muito bem remunerado pra isso...

– Sim, senhor...

– A partir de agora, Hellen é problema seu, Renato! Pago o valor que desejar, mas continue mantendo-a livre de confusões e problemas. Gosto do seu trabalho é um jovem competente e digno de minha confiança...

– Grato, pela consideração... - disse Renato.

– Procure por ela. Se precisar acione a policia. Minha "dor de cabeça" passa a ser sua...

– Sim, senhor.

Ao deixar o ambiente o ruivo já sabia por onde começar a procurar. A biblioteca era o primeiro passo para descobrir onde Hellen estaria.

Meu Guarda-Costas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora