Capítulo 20 - Primeira vitória. Não Editado.

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     Segurei a maçaneta da porta com certa insegurança. Doía tanto quanto no momento em que eu havia descoberto tudo. Talvez até doesse mais, já que naquela altura dos acontecimentos, eu tinha pura certeza de que não se tratava de um sonho.

     Eu não me reconhecia. Não era o tipo de garota que chorava pelos cantos, essa pessoa fraca e estupida que havia me tornado. Doía muito por dentro, mas pelo menos eu havia despertado.

     Eu ainda podia lidar com aquilo, ainda poderia me refazer.

     Poderia finalmente consertar tudo. Estava livre daquela "bolha mágica" que pensei ser um romance.

     Quando eu cruzasse aquela porta, eram minhas fraquezas sendo abandonadas. Pelo menos, enquanto estivesse no palácio, não pensaria nele. A dor iria me fazer querer não estar com ele. E eu usaria isso em meu favor. Focaria em ir embora.

     Girei a maçaneta e saí. Aquele mínimo movimento era simbólico para mim apesar de parece patético, afinal, as pessoas fazem isso todos os dias, atravessam portas. Porém, aquela era a porta onde eu deixaria Adrien para trás, em uma sala vazia e suja que só existia na parte quebrada do meu coração.

     O homem a minha frente, entretanto, parecia uma ironia.

     Luke estava tão elegante em seu uniforme de soldado que pareceu que o garoto usando farrapos não passou de imaginação minha. Ele estava exatamente o contrário do que eu costumava conhecer.

     Não esboçou nenhum sorriso, nem uma reação. Seus olhos, que antes irradiavam calor, pareciam tão frios...

― Luke... ― Tive esperança de que pelo menos, sua voz fosse afetuosa como antes.

― Devo-lhe acompanhar para onde você for. ― Era como um bloco de gelo: dura e fria. Assenti com a cabeça. Comecei a andar e ele vinha bem ao meu alcance. Isso era bom, pensei que finalmente poderíamos conversar a sós.

     Apesar de querer muito começar a falar, caminhei sem pressa. O que eu diria? O que eu poderia dizer que lhe faria parecer como antes? Como eu iria consertar tantos laços que foram rompidos?

     Abri a porta do quarto, mas ele permaneceu parado na entrada.

― Lua! ― Margareth praticamente pulou em mim quando me viu. Senti o cheiro maravilhoso de shampoo de cereja que exalava de seu cabelo, bagunçado, loiro. ― Por onde você esteve? ― Parecia muito feliz em me ver, porém, assim que seus olhos pousaram em Luke, se afastou de mim muito desconcertada. ― Soldado... ― De repente parecia sem jeito, arrumando o cabelo e alisando a roupa com as mãos.

― Senhorita Margareth ― ele esboçou um sorriso mínimo.

― Você não vai entrar? ― Aproveitei o momento para tentar uma descontração.

― Prefiro lhe vigiar daqui.

Me vigiar? ― Franzi o cenho de forma risonha. Quem sabe fosse alguma piada dele? Como as de antes. Contudo, ele permaneceu sério. ― Luke entra logo, tenho coisas importantes para te falar. Fiz sinal com a mão lhe chamando.

― Recebi ordens para lhe proteger, não para conversar.

Como assim? Quem deu ordem?

― Por favor, não insista. ― Seu maxilar enrijeceu, percebi. De tanto tempo vivendo com ele eu reconhecia aquele gesto. Fazia sempre que estava muito bravo com Amélia, geralmente tentando evitar uma discussão.

      Ele estava bravo. Comigo.

― Sei que está com raiva. Mas poderia pelo menos me dizer o motivo? ― Cruzei os braços em frente aos peitos, como se assim pudesse me sentir mais confortável com a situação. Era tão estranho que ele estivesse zangado comigo. Isso nunca tinha acontecido.

A Grande MonarcaOnde histórias criam vida. Descubra agora