Charlie

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Meus problemas começaram quando a campainha da minha casa soou. Ela já estava vinte e cinco minutos atrasada. Não sei porque concordei em participar dessa loucura. Sarah Bucket, a garota mais popular do Colégio Armstrong, me parou no corredor e pediu minha ajuda. A minha resposta imediata? Não! Sem chance que eu iria ajudar uma garota daquela.

Mas Sarah era persistente e não se deixou abater por minha resposta. A estratégia que ela usou? Falar a verdade. Por um segundo, eu até a admirei por isso. Não imaginava que a Bucket era do tipo que falava a verdade, mas essa "verdade" soou pior do que qualquer mentira: Sarah queria minha ajuda para conquistar um garoto.

Eu falei para ela que essa não era minha praia e ela disse que sabia disso. Falei que era melhor ela procurar a ajuda de uma GAROTA e não de um GAROTO, com toda a certeza uma menina saberia mais do que eu. Mas foi então que ela me disse que o tal garoto era Brandon Wood, o novato da escola que tinha sido transferido de Londres para cá. Foi então, que eu indaguei: o que isso tinha a ver comigo? E ela me contou que a professora Lila tinha passado um trabalho em dupla e, com muito esforço, ela ressaltou, conseguiu ficar com ele na separação dos grupos.

O único problema era que, segundo o rádio-corredor, Brandon gostava de garotas inteligentes e apesar de Sarah ser a garota mais bonita e popular do colégio, ela era inteligente o bastante para saber que ela própria não era tão inteligente assim. E era aí que eu entraria.

Apesar de ser chamado de "Harry Potter" por conta da armação dos meus óculos e ser zoado por metade da escola por um dia ter tido uma infecção estomacal e ter vomitado no meio do refeitório, nenhum deles podia negar uma coisa: eu era o garoto mais inteligente do Colégio Armstrong. E Sarah sabia disso. Foi por isso que me procurou.

Ela só não contava que eu dissesse "não" novamente. Foi então, que vi um traço de inteligência nela, que talvez desse a chance dela conquistar o tal Brandon, quando ela puxou a carteira dela e me ofereceu 100 dólares pelo serviço.

Peguei a nota antes que me arrependesse e marquei na minha casa às 15h. Eu precisava do dinheiro para comprar uma placa de vídeo nova para o meu computador. A maldita tinha queimado no meio de uma partida, e meu time acabou perdendo, já que seu melhor jogador estava indisponível. Sarah me perguntou o porquê de ser na minha casa e eu disse que não queria ser visto com ela e aposto que ela também não ia querer ser vista comigo, o maior CDF da Armstrong.

No fim, nós dois concordamos. Na minha casa, às 15h.

Ela já estava a quase meia hora atrasada. E no fundo eu senti que tinha feito um acordo furado. Esses 100 dólares poderiam sair mais caro para mim do que para ela.

Abri a porta e me deparei com Sarah usando um lenço na cabeça, óculos escuros e um cachecol alto — e nós nem estávamos no inverno, devo acrescentar.

— Você veio assaltar minha casa? — perguntei.

— O quê? Não, claro que não. — Ela desviou o olhar de um lado para o outro. — Só estou tomando cuidado para passar despercebida.

— Sério? Deveria ter estacionado a Mercedes na outra rua, então. — Apontei para trás dela. Ali, parado na frente da minha calçada, estava o carro de Sarah, brilhando em seu tom escarlate. Era como uma espinha no meio da bochecha.

Ela bufou e baixou os ombros.

— Tem razão, mas que burrice a minha! — Ela puxou o lenço da cabeça e deixou que seus cabelos escuros caíssem como cascatas sobre seus ombros. Eles tinham um cheiro bom, é claro. As vantagens de se ter dinheiro e comprar os melhores produtos de cabelos.

— Entra, meu quarto é lá em cima.

— Com licença.

Fechei a porta e guiei Sarah até o segundo andar. Como eu ia receber uma garota no meu quarto, tive o trabalho de limpá-lo. Não que eu não gostasse de limpar, é que eu estava acostumado a limpar só umas duas vezes na semana. Ou quando minha mãe gritava comigo. Aí não tinha escapatória.

Você se lembra do seu primeiro beijo? - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora