Um Mundo Alternativo

4 - dejà vu

Ouço um despertador. São oito e meia da manhã, mas estranho, não me lembro porque carga de água coloquei um despertador. De repente fico aterrorizada: não sei onde me encontro, sei que é uma cama e que estou portanto numa casa, mas onde, e de quem é? E pior de tudo, não sei quem sou. O meu coração começa a acelerar. Decido sentar-me na cama e tento acalmar-me um pouco. Vou olhando para os pormenores e reparo que tenho uma meia de cada cor: uma totalmente diferente da outra, não só a cor, mas também o tamanho, a forma: nada coincide nelas, nem sequer combinam. Tento respirar normalmente, lembrar-me de algo, concentrar-me em algum pensamento que possa surgir sobre mim, mas nada. Levanto-me e dirijo-me para o espelho que se encontra na porta do quarto e vou em busca de alguma memória minha. Tenho o cabelo despenteado, com um rabo de cavalo. Tiro o elástico e decido que gosto de me ver com o cabelo solto. Olho para mim com um pouco mais de atenção: tenho o cabelo encaracolado, castanho mas não muito comprido. Tenho os olhos castanhos, com ar de cansados. Visto uma roupa normal mas toda amarfanhada. Como se a tivesse vestido à pressa. Mas nada do que vejo me aviva a memória, sou me uma completa desconhecida. Vou encontrando madeixas no cabelo, manchas de comida na roupa, reconheço nela um cheiro a café. Acho pouco provável ter tomado café antes de ir parar aquela cama. E porque já estava vestida? Não tinha nada mais confortável para dormir? Ouço algum barulho na rua. Está transito e a chover. A minha cabeça doía-me, parecia que estava a viver num flash back, como se aquilo tudo tivesse já acontecido. As coisas começaram a girar à minha volta, deixei de ouvir os carros, a chuva. Não sabia o que fazer, onde estava, nada disto fazia sentido. Comecei a ficar sem força, as minhas pernas fraquejaram, deixei de sentir o meu corpo. E tudo ficou preto.