Ato 1.
Antes do ocorrido que parecera um episódio esquisito de uma série televisiva no melhor estilo trash, ele não tinha para onde ir exceto parques e shoppings e bares. E espaços públicos não eram bem sua praia. Não no momento ao menos, carregar tudo que conseguira juntar num curto período dentro de uma mochila costuma pesar, nos ombros e na consciência. Logicamente estaria seguro quando Lucius voltasse com outro Cavaleiro, mas até lá o que deveria supostamente fazer de qualquer forma? Se manteve ao básico, perambulou as calçadas do bairro por um tempo, quando as pernas cansaram, sentou-se nos degraus frente à sua escola. A cabeça recostada ao muro arenoso não foi impedimento para que caísse em um sono leve. Então sonhou o que fora para ele, depois, lampejos rápidos.
Ato 2.
Mil sacrifícios serão feitos ao teu lado, dez mil à tua direita, e tu serás o responsável. Somente com teus olhos caramelos verás o decair dos tolos.
Ato 3.
Despertou, o sinal tocara pela primeira vez. O sol se pusera, dezenas de garotos, e muitas garotas também, decorriam ao teu lado, exigindo espaço para subir os degraus da entrada do portão. Era como uma corrida pelo milhão.
Rafael levantou e seguiu como se fizesse parte de um comboio. Subiu a elevação da área externa, dois postes de luz acenderam-se, cada qual de um lado. À direita havia um jardim e uma imensa árvore de cedro cujas folhas já caíram em muitos outonos e cresceram de volta em cada primavera. À sua esquerda havia um declive gramado, logo ao lado deste decline havia uma escada íngreme para o estacionamento que se encontrava na mesma elevação da quadra e das salas do oitavo e nono ano, um pequeno prédio antigo de madeira.
Entrou. Cumprimentou com um aceno de cabeça a inspetora, uma mulher mais de idade, de corpo violinez e cabelo preto, Rafael estava sem a camiseta do uniforme, mas ela não ligava pra essas coisas, cuidar para que alunos não brigassem no recreio era sua função, abrir os portões na entrada e também na saída essa era outra das suas funções, e com essas ela era comprometida, uniformes? Ela não paga um centavo pra isso, os jovens sabem o que vestem, isso é por conta deles, muito obrigada. Continuou andando.
Agora, sem fones, sem distrações, pôde perceber, escutar na verdade, o que cada um daqueles estudantes escutava em seus ouvidos. Passou por um garoto que ouvia Bloom do Troye Sivan, e também por uma menina que escutava no volume máximo Hot N Cold de uma tal de Katy Perry. Eram tantas as músicas que ouviam, como se todas aquelas melodias estivessem entrando como farpas diretamente para seus tímpanos. Eram tantas, tantas. Cremosa, Dynamite, Meu mundo é o barro, Liability, Vapo Vapo X Pocotó, Amarillo, Don't Feel Like Crying, All I Want, Herói do Futuro, Something Just Like This, That's Life, Girassol, Cecília, Rave de Favela, How You Like That. Eram tantas que quase teve que tapar os ouvidos, e apressou os passos para a sala, mas antes trombou com aquele monstro de antes da viela. Sua mochila de roupas quase caíra de seu ombro.
Segurou as lágrimas quando Felipi Martins lhe encarou até o íntimo, porque qualquer coisa relacionada a ele parecia assim agora, íntima demais, invasiva demais, agressiva demais.
- Olha por onde anda - ele apenas disse. Mas por quê? Pensou Rafael. Por que ele está aqui? Por que caralhos ele está aqui agora?
Quase perguntou, mas apenas ficou ali estatelado até que foi arrastado pela gola da camisa polo para mais perto da parede por Felipi que se irritara por tão pouco.
- Escuta aqui, Rafael - ele disse baixinho, mas sua voz era de ódio incompreendido, o que lhe pareceu um tanto irônico pois também sentia certo ódio. - Não sei em que merda você está metido, mas fica longe de mim.
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Os Quatro Cavaleiros do Fim
Adventure"Eles vão se levantar frente aos terrores que pairam a terra. Um por um, os quatro hão de vir para tomar dores novas e defender os humanos remanescentes da antiguidade. Do mal, do vil, do estranho e do poderoso, de tudo, se farão de escudo e de espa...