Capítulo 2

46 3 5
                                    

Depois de assistirmos às primeiras aulas, fomos para o intervalo e sentamos numa mesa do refeitório.

— Não estou a fim de comer nada agora — Diz Susan, entediada.

— Também não. Estou sem fome — Digo. Todos os dias são a mesma chatice. Ir para a faculdade, estudar, voltar pra casa, ir trabalhar, volta pra casa de novo... Não aguento mais viver os mesmos dias. Imagine você sendo uma jovem de 18 anos, que estuda, trabalha, mas não tem um tempo legal de lazer. Eu tenho sorte de ainda ter uma melhor amiga (e única amiga, na verdade). A Susan é demais! Ela me aguenta todo o santo dia. Mas o que ela recebe em troca? Uma amiga depressiva que torce pra mudar todos os dias, mas não faz nada para isso acontecer. Eu sou uma péssima amiga. Quando estou triste, o que acontece quase todos os dias, ela tenta ao máximo me animar um pouco me levando à um passeio ou algo do tipo. Eu vejo que ela se esforça muito para tentar me agradar ou pelo menos para arrancar uma risada dos meus lábios. Eu a respeito muito. No dia em que eu morrer, todas as minhas coisas vão pra ela, com certeza. Ela é a única que se importa de verdade comigo. Eu a amo muito, mas gostaria de vê-la se importando com ela mesma uma vez na vida. Quero vê-la namorando e se divertindo, pois isso é o que me deixaria feliz. Mas que tal se eu parar de ser tão depressiva e tentar levar um papo legal com ela? Quando vê, eu me animo um pouco.

— Susan, que tal sairmos hoje depois da faculdade? — Pergunto e ela se vira pra mim com muito êxtase.

— Eu estava pensando nisso! Tenho muitas ideias em mente — Ela fala sorridente e coloca o braço por cima do meu ombro.

— Legal. Vamos para a sala de aula e você me conta lá. E daqui a pouco o professor vai vir — Fomos para a sala de aula e lá ela me convidou para irmos ao centro da cidade para andarmos um pouco e para fazermos umas comprinhas.

Mais tarde, depois da faculdade, liguei para o meu trabalho e avisei que faltaria. Depois disso eu e Susan fomos ao centro da cidade e almoçamos em um restaurante.

— Não sabia que você gostava de comida japonesa, Susan.

— Há muitas coisas que você ainda não sabe sobre mim. Aliás, o que você vai querer? — Ela me perguntou e eu pensei um pouco.

— Vamos comprar aquela barca de sushis que vimos aquele dia na internet.

— Adorei! Você leu meus pensamentos. Hoje eu estava com muita vontade de comer isso — Chamamos o garçom e fizemos o pedido. Depois de um tempo ele nos trouxe o que pedimos.

— Susan, como se usa isso aqui? — Pergunto, segurando os palitos.

— Isso tem nome, Kate. São hashis. Nunca usou hashis pra comer antes? — Ela pergunta e me ensina como usá-los.

— Nunca comi comida asiática — Quando revelo isso para ela, ela me olha com uma expressão estranha. Parecia que eu a assustei. Ela estava com os olhos exageradamente abertos. Aquilo me deixou um pouco desconfortável.

— Quê? — Ela indaga, com um tom de voz meio alto. — Como assim? Você parece ser tão "vivida" e me vem com essa? Meu Deus, Kate. Você me surpreende a cada dia. Não sei o que fazer com você — Achei toda aquela reação meio exagerada, mas dei uma pequena risada desajeitada.

— Olha, pra tudo na vida existe a primeira vez — Digo com um sorriso tranquilo. Às vezes Susan exagera nas coisas. É meio difícil de se acostumar. Mas é o jeito dela. Talvez seja eu que sou "discreta" demais. Ela é o oposto de mim. Somos como Ying e Yang, sabe? Mas é como dizem: "Os opostos se atraem."

Depois que almoçamos fomos para um pequeno shopping perto do restaurante e andamos um pouco. Logo depois pedimos uma casquinha de sorvete. Ah, como eu amava tomar sorvete com a minha família em Toronto. Faz um ano que não os vejo. Eles costumavam vir me visitar de três em três meses, mas com o tempo eles foram adiando. Então, não sei quando vou vê-los de novo. Mas vamos parar de falar do passado. Estou me divertindo com a minha melhor amiga no centro de Vancouver, e não com meus pais. Bom, compramos novas capinhas de celular naquele pequeno shopping. Enquanto estávamos na loja de capinhas para celular, vimos duas garotas que pareciam ter uns doze anos de idade rindo felizes pois tinham acabado de comprar capinhas que combinavam. Susan e eu nos entreolhamos no meio daquela cena e rimos. Ela me disse que quando tinha a idade daquelas meninas, usava uma capinha de celular que combinava com a de um garoto. Incrível, né? Nunca imaginaria que aquela "bad girl" descolada com mechas vermelhas no cabelo usava aquele tipo de capinha. Hahaha! As pessoas realmente mudam, não é? Nunca fui muito como as outras meninas da escola. No fundamental eu costumava ser muito extrovertida e conversava muito. Mas no dia em que vi minha ex-melhor amiga de mãos dadas com o meu "namoradinho" da escola, mudei completamente meu modo de ser, meu modo de pensar. Passei a desconfiar de todos à minha volta. E não é à toa que todos os meus amigos estranharam minha mudança repentina de comportamento e aos poucos foram se afastando de mim. Então, depois disso fui me acostumando a ficar sozinha, a resolver tudo com a "força do meu braço". Quando meus pais me mandaram pra Vancouver, quando eu estava no segundo ano do ensino médio, fiquei triste e feliz ao mesmo tempo. Triste pois ia ter que me afastar da minha família, e feliz pois não iria ter que ficar perto de toda aquela gente falsa do meu colégio. E confesso que vir pra cá foi uma das melhores coisas que já aconteceram na minha vida. Porque eu conheci a melhor amiga de todos os tempos. Eu amo essa cidade.

Aquele garoto diferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora