Capítulo 4

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No outro dia, uma bela e ensolarada sexta-feira, estava — por um milagre — fazendo um dia ensolarado. Eu já tinha dito que quase nunca faziam dias de sol durante o Inverno de Vancouver. Desde que me mudei pra cá, há três anos e meio, sempre chovia ou faziam dias nublados. Acho que o "papai do céu" está sempre triste, mesmo — É o que meus pais me diziam —. Bem, eu não o julgo. A sociedade está mesmo deixando todos tristes. É como dizem os professores mais velhos: "O mundo não tem mais jeito, mesmo." Porém ninguém faz nada para mudá-lo. Que ironia. Bom, eu estava falando do milagroso dia em que fazia sol em Vancouver, certo? Então, lá estava eu indo para mais um dia na Universidade Layman, para ter aulas de Administração. Logo quando chego na universidade, Susan se aproxima de mim junto de um garoto. Era um garoto alto, loiro e bonito.

— Oi, Kate. Lembra dele? Ele joga futebol americano comigo — Olho bem para o garoto, tentando lembrar seu nome. Eu estava com muito sono porque tinha trabalhado até tarde.

— O-oi, cara! — Aceno para ele, desajeitada. Não lembrava o nome dele de jeito nenhum.

— Então, Andrew, vamos jogar no intervalo? — Isso mesmo! Andrew! Esse é o nome dele. Não posso esquecer.

— Claro! Estou louco para perder pra você de novo. Hahaha!

— Ok. Vou ir para a sala de aula agora. Tenho que entregar um trabalho.

— Que trabalho? — Andrew pergunta, curioso.

— Sobre dinheiro. Como investir numa empresa... Essas coisas.

— Entendi. Bom, boa aula pra vocês, nerds.

— Ah, cala a boca! — Susan xinga Andrew e o chuta.

— Ok, não precisava partir para a agressão, também, né? — Andrew reclama e eu e Susan apenas rimos. Nos despedimos e fomos para a sala de aula.

— Você não acha esse Andrew chato, não? — Pergunto.

— Você se acostuma — Ela responde e eu assinto.

No caminho para a nossa sala, temos que passar por várias outras salas. Bem do lado da sala do diretor temos a sala de música. Sempre que eu passo por essa sala eu sinto uma coisa forte no meu peito. Uma coisa boa. É como se eu estivesse "conectada" com essa sala de alguma maneira. Porém nunca ter mesmo estado dentro dela. É estranho. Nunca disse isso para ninguém. Se eu disser, vão me achar estranha. É melhor não dizer nada, mesmo.

Depois das aulas acabarem, o sinal tocou, indicando que a hora do intervalo havia chegado. Como Susan havia ido jogar com Andrew, acabei por ficar sozinha no período do intervalo. Quando saí da sala e passei pela sala de música, ouvi um som muito lindo. Era uma música. Uma música tão linda! Alguém estava tocando violão. O som da melodia era tão lindo que decidi dar uma pequena espiada. Meu lado curioso estava me dominando naquele momento. Entrei silenciosamente na sala de música e vi a silhueta de um garoto sentado. Quanto mais me aproximava, mais a minha visão daquele garoto melhorava. Quando me aproximei, pude perceber que o garoto era loiro e não parecia ser muito alto. Parecia ser um pouco menor que Andrew, que tinha uns 1,80 metros de altura. Esse garoto parecia ser diferente. Pude perceber isso quando ele começou a cantar. Era uma música familiar.

Maybe i just wanna be yours. I wanna be yours. I wanna be yours, wanna be yours, wanna be yours, wanna be yours... — O garoto cantava "I Wanna Be Yours" da banda Arctic Monkeys. Ah, como eu amava essa banda. Decorei todo o último álbum. Sei cantar todas as músicas. Mas isso não importa. Vamos continuar apreciando a voz desse garoto. A música estava tão boa que me deixei levar pela melodia.

Wanna be yours, wanna be yours... — Foi quando comecei a cantar junto com o garoto que percebi a "burrada" que fiz.

— Quem está aí? — O garoto parou de tocar e se virou em minha direção. Assustada, saí correndo da sala de música. Será que ele me viu? Não consegui ver seu rosto...

— Droga! Que vergonha! Tomara que ele não tenha me visto — Corri direto para o refeitório. Tentei não parecer que estava fazendo algo de errado e fui pegar minha bandeja para me servir do almoço da universidade. Nunca me imaginei espiando alguém. Até que não foi tão ruim assim. Quando me servi, sentei em uma mesa que estava vazia. Já tinha me acostumado a sentar em mesas vazias. Não me importo mais. Peguei minha bolsa e procurei pela minha agenda. Advinha: deixei cair em algum lugar. — Provavelmente devo ter deixado cair na sala de música... — Murmurei. Tenho que pegar de volta. Mas não quero ver aquele garoto de novo. Vou ficar vermelha como tomate se vir ele. Depois, durante a aula, pego de volta.

Depois de comer, o sinal toca e vou direto para a sala. Susan chega e conto tudo o que tinha acontecido em sua ausência.

— Kate! Não creio! Isso tudo parece uma história de amor como dos filmes — Susan debocha de mim.

— Ah, fica quietinha aí! Não gosto desses filmes idiotas de romance.

— Você não gosta de nada! — Susan brinca e eu dou um pequeno soco em seu braço. Susan é engraçada, mas às vezes eu não aguento. — Sabe de uma coisa, Kate? Você tem que ir pegar sua agenda.

— É verdade. Eu escrevo sobre tudo lá. É como um diário.

— Ou uma autobiografia. Se você escreveu seus segredos lá, você está ferrada! Provavelmente esse garoto vai ler tudo que está escrito ali.

— Ai não! Não posso deixar que ele leia! Ninguém nunca leu aquilo. Somente eu, claro. E ele pode contar tudo pra algum amigo.

— Se ele contar algum segredo seu... Eu juro que ele vai se ver comigo, hein! Não vou deixar barato.

— Obrigada, Walker. Mas eu preciso recuperar esta agenda agora! Nem que eu fique vermelha de vergonha.

— Isso aí, Kate. Vai lá! — Susan me encoraja. Antes de eu sair da sala, o professor chega.

— Onde a senhorita vai, Katherine Hill? — O professor pergunta.

— Eu esqueci uma coisa no refeitório — Minto. — Posso ir lá buscar? — Pergunto educadamente e ele permite. Ótimo! Se ele não deixasse, eu iria ter que esperar até a hora da saída. Corro até a sala de música e entro.

— Preciso ser rápida! — Entro silenciosamente e verifico se não há ninguém na sala. E então começo a procurar minha agenda. — Onde está? Onde será que deixei cair? Procuro de baixo do piano, procuro entre as capas de violão, tambores, guitarras, mas não encontro nada. Tive que voltar para a sala de aula.

— E aí? Achou? — Sento na cadeira e Susan pergunta, curiosa. Nego, fazendo um movimento com a cabeça.

— Senhoria Hill, achou o que havia perdido?

— Não achei, professor. Procuro depois da aula.

— Ok. Voltando a falar sobre os trabalhos...

— Que droga que você não achou, Kate. Depois de ajudo a procurar. Não se preocupe. Aliás, como era aquele garoto?

— Loiro, não muito alto... Acho que ele é menor que o Andrew.

— Andrew tem 1,80 metro de estatura. É alto.

— É, esse garoto é mais baixo. Bom, vamos prestar atenção na aula. Depois conversamos melhor.

Ficamos assistindo à aula até o começo da tarde.

Aquele garoto diferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora