A meretriz

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De longe tudo é belo, mas nem sempre quando se está perto, a beleza que outrora era admirável, continua. Porém, a beleza desta mulher era incrível, tanto de longe, como de perto. Mas segundo Fernando Pessoa, a beleza não existe, é apenas uma criação humana, uma atribuição a algo ou a alguém. Mas para o jovem Henrique, a beleza existia e aquela jovem a sua frente era a beleza em pessoa. Henrique era um jovem que residia numa área nobre, desfrutava de algumas regalias e prestígios. Ele era um jovem intelectual e muito sapiente. Dava-se bem em áreas acadêmicas, falava bem e se comportava de um jeito admirável para a sua idade. Henrique tinha apenas 21 anos e já era um grande homem, mentalmente. Porém, Henrique tinha alguns ideais e visões de mundo. Vale destacar a sua visão sobre relacionamentos. Henrique acreditava que os relacionamentos não era um caminho para ele. Ele sempre dizia: "Lidar com pessoas é uma tarefa difícil". Leitor de Bukowski, Henrique levava uma vida devassa e boêmia. O dinheiro que ele tinha, ele usava para beber e sair com meretrizes. Ele achava os relacionamentos uma perda de tempo e um desgaste mental. Ele era a favor dos encontros casuais e sempre buscava não se envolver nem se deixar levar pelo apego. "As pessoas são complicadas", ele dizia.
Henrique tinha um amigo chamado Rubens e eles sempre conversavam. Rubens era contra as práticas do amigo e a visão que ele tinha sobre os relacionamentos. - Meu amigo, não vale a pena viver assim. - disse Rubens.
- Assim como? - perguntou Henrique.
- Saindo com uma e com outra, sexo sem compromisso. Encontros casuais. - disse Rubens.
- A vida não é minha, meu amigo? Cada um leva a vida do seu jeito, não é mesmo? Eu só não quero me envolver a sério com alguém, criando expectativas e até chegar ao ponto de idealizar coisas e me decepcionar no fim com a pessoa que eu mesmo escolhi. - disse Henrique, numa tonalidade um pouco colérica.
- Calma! Está com indireta comigo? Eu só estou falando minha opinião, meu amigo. - exclamou Rubens.
Henrique era um homem solitário, tinha suas paixões, suas ambições, mas nada o afastava da solidão. Nos seus encontros, após se relacionar com as mulheres, ele as ouvia. Muitas delas tinham algo a dizer, desabafar, conversar e ele gostava de ouvi-las, ele era atencioso e paciente. Hoje em dia está difícil encontrar pessoas que além de serem atenciosas e pacientes, também saibam ouvir. Henrique as tratava de uma maneira diferente e foi isso que fez as meretrizes ficarem viciadas em vê-lo, em reencontrá-lo. - Você é tão bom, Henri, tanto no ato, quanto no jeito de falar. - dizia as meretrizes. Henrique as tratava bem, ele, no fundo, estava à procura de algo, alguma resposta ou talvez algum sentido. Após as noites de relações sexuais, ele voltava a sua solidão. Quando se sentia só, ou ele bebia ou fazia sexo.
Certa vez, uma delas, fez-lhe uma pergunta: - Você já se apaixonou?
Henrique não demorou muito para responder e disse que não. Ela o olhou e disse: - Eu acho que estou apaixonada.
- Isso é bom. Primeira vez? - perguntou ele.
- Não. Já havia me apaixonado antes, mas não deu certo. - disse ela.
- Olha só... - disse ele.
- O quê? - perguntou ela.
- É por isso que não me envolvo, porque é algo que depende das duas partes e se uma não está disposta a fazer dar certo, o relacionamento se perde. Eu prefiro evitar sofrimento. - disse ele.
- É verdade... Mas eu tentei, a gente tentou, mas não deu... - disse ela.
Henrique sorriu e perguntou: - Vai tentar se envolver de novo?
- Vou! - disse ela.
Henrique riu e exclamou: - Boa sorte!
Nas suas andanças e encontros, ele conheceu muitas mulheres, fez amizades, mas teve uma que não saiu de sua cabeça, Natália. Uma mulher linda, tão bela quanto as rosas num jardim. Ela era perfumada e simples, pouco vaidosa, mas dona de uma beleza natural. Pouco se sabia sobre ela, mas Henrique tinha encontrado uma meretriz interessante. Ela conseguia fazê-lo se sentir bem no outro dia. A solidão não era tão ruim, era agradável, mas a companhia de Natália, fazer sexo com ela era um bom remédio para Henrique. Ele estava viciado nela. Natália era uma das meretrizes que conversava com ele e numa dessas conversas, certa vez, ela lhe disse que estava sentindo sua falta. - O que você acha desse mundo moderno aí fora, as pessoas se envolvendo e machucando umas as outras, não era melhor não se envolverem? Ficarem só nos encontros casuais como nós? - perguntou ela.
- É verdade. Acho que se as pessoas que se envolvem, vissem o seu relacionamento como prioridade, vissem que é bem melhor estarem em paz uns com os outros, cultivando momentos felizes, realmente se amassem e praticassem o amor de corpo e alma, as coisas seriam diferentes. Não haveria tanta dor, tanto arrependimento e ressentimento. Não é verdade? - disse Henrique.
- É verdade... Você falou tudo que eu queria dizer. Eu já te disse que estou me apaixonando por você? - perguntou ela.
Essa fala deixou Henrique sem reação. Ele não esperava, mas logo disse: - Não se apaixone por mim, sou um homem complicado e não quero me decepcionar nem tampouco te decepcionar.
- Mas eu não escolhi isso, aconteceu. A gente se encontra já faz um tempo e o nosso contato é tão bom e tão prazeroso, que eu passei até a sonhar com nós dois! - exclamou ela.
- Tire essa ideia da cabeça! Olha o que está me dizendo... - disse ele.
- Então me promete que vai vir com frequência aqui me ver? - perguntou ela.
- Prometo. - disse ele.
Com o tempo, de encontros em encontros, Henrique foi se cansando e sempre terminava nos braços de Natália. Ela o recebia de braços abertos. Eles se relacionavam e conversavam. Aos poucos, ele foi se afastando das outras meretrizes e parou de fazer contato com novas e foi se aproximando mais ainda de uma só meretriz. Natália foi deixando de lado outros encontros e esperava ansiosa para se reencontrar com Henrique. Como prometido, ele ia vê-la frequentemente e com o tempo, ele se entregou a um relacionamento.

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