Invasão

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O conto a seguir contém: Estupro, Sexo, Religião e Terro Psicológico, caso seja sensível a algum desses assuntos é aconselhável que NÃO prossiga com a leitura. 

"Você sente-se como se estivesse em um quarto muito sujo e você também esta suja... E as pessoas estão te olhando e falando sobre você. Falando o quão suja você é. E então na sua cabeça surge o pensamento de que não é sua culpa o fato de esta suja, ainda sim você se culpa pois se quisesse teria escavado o chão até encontrar uma fonte de água para se limpar." 

Todos os seus sentidos estavam adormecidos. Era como se tivesse ressurgindo das profundeza e seu cérebro tivesse ficado tempo demais desligado. Demorou para perceber aquele peso desproporcional em cima do seu corpo impedindo que ela se mexesse e a mão contra sua boca forçando-a permanecer calada. 

Não podia determinar quanto tempo a tortura durou, do mesmo jeito que pareceu minutos se revertia a uma eternidade de cicatriz que teria em sua mente. Atormentada sentiu sua saia sendo trazia para cima, suas pernas abertas impiedosamente, a pressão dolorida, e conforme o movimento de vaivém era estabelecido, sentiu a desagradável dor de ter a virgindade roubada. 

O fio de algo quente descendo por sua perna deu o ato por concluído. 

Logo seu abusador sumiu do cômodo assim como havia aparecido e ela ficou no escuro sem ao menos saber onde estava. 

-------------12 horas antes -----------------

- E então ela me olhou e disse que era o mínimo para alguém que frequentava todos os dias a escola e que eu deveria agradecer a Deus por ele ter me permitido ganhar a bolsa. - Jessica estava diante da sua melhor amiga, Lucia. Ambas tomavam um sorvete enquanto aguardava dar a hora da sessão do filme que iriam assistir. Lembrou o quão difícil foi convencer a mãe de que sairia com a amiga para comemorar a bolsa 100% na faculdade de arquitetura que tanto queria. 

Havia chegado em casa ansiosa para contar a novidade, porém toda sua empolgação foi frustrada quando viu a expressão na cara de sua mãe... Não havia orgulho ali e muito menos felicidade, era só obviedade. E não demorou muito para que sua mãe lhe tirasse todo mérito e entregasse a Deus. Não que Jessica não achasse que Deus estivesse lhe dando oportunidade, era devota e grata a Ele, mas queria que pelo menos uma vez sua mãe sentisse orgulho de suas conquistas. Em pouco instante sua mãe rendeu-se a adoração e forçou-a se ajoelhar e rezar por gratidão. 

Era cansativo. Passou a vida inteira se baseando na religião. Não podia cortar o cabelo, suas roupas eram devidamente escolhidas de acordo com o que era ditado por sua doutrina e mesmo no frio Jessica tinha que usar uma de suas saias. 

Quando terminou a escola havia conseguido uma bolsa integral em uma faculdade em outro estado, sua mãe surtou com a ideia da menina ir morar em uma república, disse que tal ato a condenaria aos olhos de Deus e que ela perderia seu posto no céu. Que sua fé estava sendo testada e que só de cogitar a ideia já estava decepcionando O Criador. 

Adiou sua ida a faculdade e agora com quase vinte anos tinha novamente conseguido a bolsa  em uma faculdade na cidade próxima da sua. 

Mesmo naquela idade, Jessica encontrava vários impeditivos. Não podia ficar com celular após ás 22 horas ainda que fosse para estudos e toda suas conversas eram monitoradas pelos pais. Independente de esta doente ou não, batiam o ponto na igreja todos os dias e quando a família acordava reuniam-se todos ao redor da mesa para agradecer. 

Em vinte anos ela nunca conheceu ninguém, no máximo algum jovem da sua igreja que logo perdiam o interesse nela. Do que adiantava conversar no fim da reunião sendo que em seguida ela seria proibida de manter relação? Os únicos que pareciam ser partidos "decentes" aos olho de seus pais eram os filhos de cooperadores que de nada lhe interessava. Ela almejava ser livre para fazer a escolhas de sua vida, desde a faculdade que iria cursar até a roupa que usaria no dia-a-dia. 

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