Contém gatilhos, como: Agressão; Violência contra mulher; Abuso psicológico. Caso seja sensível a algum dos assuntos, é aconselhável a NÃO prosseguir com a leitura.
Quando completei 18 anos, minha avó entregou-me uma carta que pelo aspecto dava para ver que ponderou por anos até finalmente chegar em seu destinatário. Ela me instruiu a lê-la sozinha e disse que a remetente era minha mãe.
Não lembrava da minha mãe. Muito nova fui morar no interior com meus avós e por lá fiquei. Minha mãe não teve a oportunidade de me visitar pois faleceu quando eu ainda tinha quatro anos. Desde então nunca soube das circunstâncias que a levaram até a morte, até aquele dia em que toquei naquele amontoado de folhas surradas pelo tempo.
Antes que haja perguntas de "como" uma criança que mora com os avós e nunca teve contato com seus pais possa passar os anos sem questionar avidamente suas origens... Respondo-te: Por morar no interior não é incomum crescer sobre a proteção de seus avós a ponto de vê-los como seus pais... Antes mesmo de começar a entender, mamãe morreu, e ai que a justificativa pareceu menos importante.
Pois bem... A carta de mamãe começava assim:
"Ganhei flores.
Era tudo o que pensava no trajeto que fazia até minha casa segurando aquele imenso buquê. Estava maravilhada com a beleza do ato em si e sabia que pelo caminho havia vários olhares curiosos e alguns até expressando inveja pelo meu precioso presente.
Estávamos saindo a pouco mais de um mês, mas nosso vínculo era tão... Único que pareciam séculos de companheirismo.
Era inevitável o sorriso que estampava meu rosto todo vez que lembrava da cena.
Ali estava ele com sua única camisa social, jeans e as flores cobrindo boa parte do seu rosto. Sábia que estava sorrindo, pois podia sentir sua felicidade me atingindo e vice versa. Nosso relacionamento finalmente começou naquele momento e eu senti no fundo da alma que ele era o amor da minha vida.Com meus 22 anos havia deixado minha família que vivia em um cidade minúscula da Bahia e peguei um ônibus - depois de juntar dinheiro durante dois anos - com destino para São Paulo. Dei a cara a tapas para poder ter um chance. Demora até você perceber que existem outras oportunidades além daquela caixinha que você foi designada. Depois de ver meu pai trabalhando 20 horas em roça por um salário mínimo e minha mãe fazendo sopa com as verduras que nem estavam no seu tempo de colheita só para que a gente não fosse dormir com fome... Entendi que precisava aprender voar sozinha.
Quando cheguei em São Paulo não demorou muito para que arrumasse um emprego. Fui caixa de um supermercado grande e tinham benefícios que nem sonharia ter na minha cidade natal. Comecei a fazer faculdade de administração e minha vida parecia caminhar para a linha de chegada... Até que me perdi nas minhas emoções e meu coração tomou a liderança.
Conheci-o no próprio mercado. Ele ficou maravilhado com o meu sotaque e puxou papo enquanto passava sua minúscula compra. Tamanha minha surpresa quando sai apressada para pegar o ônibus e lá estava ele me esperando... Justificou-se dizendo que precisava de uma oportunidade para me conhecer pois sentia que tínhamos sido feito um para o outro.
E acreditei nisso.
Acreditei tanto que com menos de um ano de relacionamento recebi a noticia de que seríamos pais.
Não passou muito tempo até que as coisas começaram a ficar complicadas.
Quando estava com dois meses de gestação e sem muita estrutura financeira para conceber uma criança, comecei a conhecer de verdade o futuro pai do meu filho ou filha.
Hoje consigo identificar que aquilo ali era terror psicológico. Começou com pequenas agressões verbais que tiravam minha estrutura mental e desestabilizava meu espirito... Não conseguia compreender seu jogo manipulador, mas em todo término de frase me ridicularizando era completada com algum comentário dizendo que se eu não confiasse em sua opinião, teria que criar minha filha no meio do mato comendo capim... Aquilo me mortificava, pois havia aberto mão de muita coisa para esta ali... Não podia voltar ao inicio e ainda trazer uma criança junto comigo. Acreditava nele e no fim acabava fazendo tudo que me pedia. Até que em um certo momento a vida se esvaiu dos meus olhos e veio as agressões físicas.
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Short StoryContos baseados em histórias reais trazendo átona vivências e convivências. E ai, Tu conta ou eu conto? ** Campeão Geral do concurso Curtas&Boas ** ** Terceiro lugar no concurso Carmina Burana com o conto "Prazer" **