Crônicas de uma adolescente - Parte 1 - Primeiro Amor

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Ensino médio: acordar cedo fazer chapinha todo dia, passar maquiagem forte no rosto e vestir uma camisa preta e jeans. O ensino médio é mágico.
Bom dia depressão, pronta para mais um dia sufocante? O primeiro ano nos aguarda e junto com ele a descoberta de que trocaram todo mundo de sala e que irei estudar com pessoas que não conheço.
Entrei na sala sabendo que passaria um ano focada nos estudos já que não iria fazer amigos. Estou na classe mais nerd de todas e é isso. Escola de bairro é aquela coisa que nunca entra gente nova, sempre as mesmas caras e os mesmos grupinhos.
Hora do intervalo, encontro o pessoal e junto deles um cara barbudo que parece repetente de cinco anos seguidos. Qual é a desse cara? Zero interesse.
Garotas de ensino médio adoram caras mais velhos, nunca entendi isso. As meninas estavam babando pelo barbudo que descobri um tempo depois que se chamava Lucas, ele era só dois anos mais velhos então provavelmente aquela barba toda era colada? Talvez.
Encontrei o Vitor mais afastado de todos. Ficamos conversando um longo período de tempo.
Vitor é o meu melhor amigo, ele sempre está ali, sabe? Mas é excessivamente depressivo e antissocial, odeia todo mundo e não sei como não me odeia, ele me empodera a ter depressão.
Poucos dias depois o barbudo fazia parte do grupinho e eu havia feito uma amiga. Larissa.
Larissa faz uma luta estranha que se eu conseguir lembrar o nome deveria receber algum Oscar. Ela é ótima! Toda empolgada e centrada, amém Larissa!
As coisas não estão tão fáceis, na verdade. Meu pai é alcoólatra desde que me entendo por gente, as vezes encontro minha mãe chorando nos cantos e eu sinto que ela não aguenta mais. Meu irmão morre de medo dele, eu já tive esse medo, hoje só consigo sentir raiva. Uma raiva tão intensa que desejo freqüentemente que ele morra. Não, calma. Ele não bate na gente, porém xinga e atormenta. Minha mãe é tão maravilhosa... Que só de pensar que ele está fazendo mal para ela isso já me machuca.
Esse ano ela vai fazer uma cirurgia, odeio confessar, porém estou morrendo de medo e em base é por conta de todos esses detalhes que quando estou no banho acabo sedento a vontade de me cortar. Não sei se quero me matar... Só queria ter um propósito. Será se é entendível?
Eu não choro. A tempo que não faço isso. Então quando as coisas apertam muito pego o gilete e fico vendo o sangue manchar meu braço e se dissipar na água quente.
Tenho 14 anos e já sinto que carrego tudo nas costas, a dor sufoca.
Talvez por isso que estou aqui nessa praça enchendo a cara pela primeira vez com a Larissa, Camila e o Vinícius.
Eu fiquei com o Vinícius. Meu deus, estou namorando o Vinícius.
Decidimos cabular aula, era um dia fodido onde a depressão não tinha só batido na porta, tinha era arrombado a fechadura. A Camila mais familiarizada com bebidas disse que deveriam beber para esquecer os problemas, aceitei. Mas, quem vai comprar as bebidas?
- Tem o Vinícius, ele tem cara de quem já tem 18. - Sugeri.
- Quem é Vinícius? Onde ele mora? - Camila juntando as nossas moedinhas perguntou.
- É o menino que a Clara anda conversando, vamos segurar vela. - Dei um sorrisinho, eu estava curtindo o Vinícius, mas não gostando de fato. Conheci ele na época que estudava em um colégio de freira e sempre achei ele intrigante. Fazia anos que não o via, recentemente havíamos mantido contato.
- Ele mora naquela escola perto da praça lá em cima, vou ligar para ele e vamos lá.
Dito e feito, depois de encontrar o Vinícius conseguimos uma garrafa de contini com as nossas economias de R$10 e estávamos bebendo na praça.
Em algum momento Vinícius e eu nos beijamos e as meninas bêbadas voltaram para a escola. A Larissa tinha uma quedinha pelo Lucas, o menino barbudo.
Bebida é uma coisa linda, Larissa chegou na frente da escola e se declarou para o Lucas, Camila quase caiu várias vezes na frente de todo mundo e eu? Aceitei o pedido de namoro do Vinícius.
No outro dia Larissa se sentia arrasada.. Ela havia se declarado para o Lucas, mas não era recíproco. Como uma ótima amiga disse que ajudar ela a conquistar o boy. Fui bater um papo com o Lucas no Facebook.
Nunca havíamos conversado e ele achava que eu nem sabia o seu nome ( sendo franca só lembrei mesmo depois que a Larissa começou a gostar dele) ficamos uma semana inteira conversando e ele era foda! Curtiamos as mesmas bandas, fazíamos um e o outro rir e ainda tinha aquela dose mínima de putaria e flerte. O que diabos estou fazendo?
Duas semanas depois não aguentava mais manter a novela com o Vinícius. Precisava terminar. Faltava uma semana para o dia dos namorados e não fazia a mínima ideia como fazer isso, nunca havia namorado e do mesmo nível que eu era depressiva o Vinícius também era, alerta vermelho! Tinha que cair na real, estava atraída pelo Lucas.
No dia em questão cabulamos de novo para beber, dessa vez o Lucas veio junto e obviamente a Larissa tentou investir nele. O Vinícius também estava, começamos a beber e quando já estávamos no nível um de álcool no sangue , Larissa começou acariciar o Lucas e eu senti meu estômago embrulhar, tinha bebido demais? Não, estava com ciúmes. Decidi sair dali, sabia o quão errado era sentir aquilo, fui então para a casa do Vinícius decidida a transar como a última tentativa de sentir algo por ele, travei. Minha virgindade ia permanecer intacta.
Cheguei em casa decidida. Precisava terminar e também precisava parar de sentir aquelas coisas pelo Lucas.
Primeiro, Vinícius.
Liguei para ele, disse que era um erro e não dava para continuar e eu não sabia como terminar porque era nova naquilo mas não queria que ele fizesse nenhuma besteira porque ele era ótimo. Ele entrou em brandos.
- Você gosta de outra pessoa, né?
- Gosto ...
- É aquele menino? - Bingo Vinícius! Parabéns.
- Sim, mas não estou terminando com você para ficar com ele, a Larissa gosta dele e respeito isso.
- Mas você não sabe se ele gosta dela.
Ótimo, segunda etapa falar com o Lucas.
Era fácil encontrar ele online porque geralmente ficávamos nos falando a madrugada toda.
- Oi, preciso falar uma coisa com vc
- Pode falar
- A Larissa gosta de você, como percebeu hoje. E ela é uma garota ótima, mesmo. Comecei a falar com você para ajudar ela a te conquistar, mas eu tô gostando de você e isso é péssimo, desculpa por isso vou precisar me afastar por ela.
- Clara, eu não gosto da Larissa, gosto de você.
UM MINUTO PARA RESPIRAÇÃO OFEGANTE, CACETE MEU CORAÇÃO TA ACELERADO.
- Mas não podemos ficar juntos, ela me mataria.
- Eu não posso ser forçado a gostar dela, ela vai entender.
ESQUECE O MENINO, ESQUECE O MENINO, BOLA PARA FRENTE GAROTA.
Continuamos conversando durante dias, nunca pessoalmente para não levantar suspeitas, mas cada dia que passava me aprofundava naquele sentimento.
Nunca imaginei que uma pessoa seria a base da minha felicidade, que uma pessoa tiraria seu sono e me colocaria de pé de manhã mesmo depois de só dormir duas horinhas. Era incrível.
Ficamos dias sem chegar perto um do outro, meses sem nos tocar ou ficar a sós até que finalmente o dia chegou.
Larissa estava doente, atestado de dois dias, era os nossos dois dias.
Ele sentou do meu lado no intervalo e a conversa foi tão fácil e fluiu como se fizéssemos aquilo a tempos.
- Quer minha blusa? Dificilmente sinto frio. - Não estava fazendo a donzela, realmente estava com frio.
- Tudo bem. - Ah! O cheiro dele, era aquele cheirinho suave de sabonete que fica na memória para sempre.
No segundo dia do nosso pequeno paraíso, ele me abraçou e eu juro que senti meu coração parando. Eu estava apaixonada, simples assim.
No terceiro dia tudo desmoronou.
Larissa havia voltado para a escola porém Lucas não sabia. Estava encostada na janela enquanto o professor da outra aula não chegava quando o ele em um gesto surpresa me abraçou enquanto estava despercebida. Minha primeira reação foi olhar dentro da sala de aula e encarar uma Larissa furiosa.
Ela levantou pegou a bolsa e saiu bufando. Droga, droga, droga!
Não encontrei ela em lugar algum! Ela também não voltou para as outras aulas, que merda eu fiz?
Quinta feira: nada. Sexta: nada.
No final de semana decidi ligar para ela, sem sucesso. Liguei para uma amiga dela que me disse que ela estava mega chateada e que não acreditava que eu havia feito aquilo, o quão filha da puta eu tinha sido?
Eu sabia mesmo que estava fazendo algo errado, mas nunca tinha sentido aquilo antes, era como se o Lucas fosse o meu propósito. Nunca trocaria nossa amizade assim, se eu tivesse que escolher abriria mão dele, mas não seria fácil, ia ser doloroso e me quebraria por dentro.
Foi isso que disse para a Larissa no intervalo na segunda feira. Ela lutava sabe-se-la-o-que e eu estava morrendo de medo de levar uma surra que seria merecida, claro.
Luize me olhou e disse
- Eu entendo, só fiquei brava por você não ter me contado.
- Eu sei, esse foi meu maior erro por que deveria ter sido sincera, sobre gostar dele não foi algo que escolhi, aconteceu. Mas se não for pra ficarmos juntos eu também irei aceitar isso, vou superar.
Nos abraçamos. No fim Luize disse que não era como se ela estivesse apaixonada por ele, ela só achou interessante e queria dar uns beijos. Ainda sim por respeito a ela decidi me afastar dele. Impossível.
O Lucas se tornou meu porto seguro e nem havíamos nos beijado ainda.
Em breve aconteceria e junto teríamos nossa primeira briga.
Era intervalo, havia dito a ele que respeitava a Larisaa a ponto de não ficar com ele e esse foi o estopim. Pretendia conversar direito com ele na hora da saída, mas quando cheguei perto simplesmente fui ignorada. Aquilo me destruiu.
Tempos sem chorar e lá estava eu andando freneticamente pela rua soltando lágrimas e mais lágrimas. Do meu lado um dos anjos da minha vida, Well.
Ele me dizia coisas reconfortantes e eu fala entre os soluções o quanto gostava do maldito Lucas. E es que de longe escuto o Lucas me chamando.
Ele vem correndo na minha direção, me abraça e diz que eu deveria parar de chorar porque ele sempre estaria ali por mim e pede desculpas, no processo de encara-lo acabamos nos beijando. Nossos dentes se batem e sinceramente isso não importa.
Não sei exatamente quando foi que começamos a namorar, talvez naquele beijo mesmo ou naquele dia que estávamos abraçados e aquela menina chegou perguntando se éramos namorados e ele disse " Sim, somos" bom, não sei. Só sei quando terminamos.

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