16 - Filha de peixe, peixinho é

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O medo da morte nos faz incapazes de raciocinar direito. A esperança de que tudo irá acabar bem é destroçada. Nosso cérebro emana imagens de momentos importantes de nossas vidas em uma fração de segundos. Diante de nossos olhos, a esperança esvai sem delicadeza. De repente tudo o que se espera é a escuridão completa. A morte é tão fácil... A vida, não. A vida é mais complexa, turbulenta, difícil.

Esmeralda sentia fortes câimbras em suas pernas. Seu corpo estava suspenso pelo cinto de segurança. Ao poucos percebeu que o carro onde estava com sua mãe e Alan, despencará de uma altura considerável. Olhou para o seu lado, percebeu que Alan estava do mesmo jeito que ela, suspenso pelo cinto, contudo ainda se encontrava desacordado. O rosto do rapaz estava sangrando, percebeu também que o braço direto do rapaz tinha marcas de garra, provavelmente do momento em que ele tinha sido segurado por um dos lobisomens. Esmeralda tentou falar algo, mas não conseguia. Suas forças estavam se esvaziando.

Ao olhar para a frente do automóvel, em direção ao banco do passageiro, percebeu que sua mãe não se encontrava lá. Pensou as piores coisas do que poderiam ter acontecido como a mesma ter sido lançada para fora do carro, enquanto ele capotava. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos, pensando no desespero, em como sair dali, afinal de contas era possível sentir um cheiro forte de gasolina. O carro poderia explodir a qualquer momento.

De repente um barulho se formou. Num piscar de olhos, a porta do passageiro é arrancada. Esmeralda juntou as forças que tinha para formar um grito de desespero. Pensou que poderia ser outro lobisomem, mas ficou aliviada ao ver o rosto apavorado de sua mãe biológica.

- Você esta bem? - perguntou sua mãe, encarando-a.

Esmeralda não conseguia responder.

- Vou tirar você daí, certo?

A garota assentiu.

- Coloque suas mãos no teto do carro. - pediu Cristal. - Irei soltar o cinto de segurança.

Com mãos hábeis, Cristal conseguiu desamarrar o cinto de segurança que prendia a filha. Esmeralda quase caiu com a cara no teto do veiculo, que agora se encontrava revirado, Cristal a segurou com precisão, fazendo-a sair do carro com cuidado. Tempo depois foi a vez de Alan. O rapaz acordou assustado, bastante nervoso, sentindo muitas dores musculares.

- Vai ficar tudo bem. - disse Cristal ao rapaz.

Assim que todos saíram do veiculo, Cristal conseguiu pegar a bíblia que dera a Alan segurar. Era possível ver no rosto da mulher loira uma fenda de sangue em sua testa. Seus braços estavam cortados, cacos de vidros se espalhavam no decote de sua roupa. Era possível ver seu sutiã manchado de sangue de lobo. Em falar em lobo, a parte de cima do monstro se encontrava dentro do veiculo. O cheiro era horrível.

- Fora os arranhões, vocês estão bem? - perguntou Cristal, com a voz fadigada.

Tanto Alan, quanto Esmeralda assentiram. Os dois tinham dificuldade para respirar devido a adrenalina. Era impossível de crer que ambos estavam vivos apesar da queda.

- Precisamos ir andando pela mata, até encontrar a saída. - continuou Cristal. - É provável que existam mais lobos espalhados por aí, tentando nos encontrar.

Aos poucos eles caminharam lentamente, seguindo uma trilha feita pela natureza. A escuridão tomava conta do lugar, contudo, a lanterna do celular de Cristal ainda era útil. Alan caminhava mancando segurando seu braço machucado, enquanto Esmeralda ficava ao seu lado sentindo tonturas. Pouco tempo de caminhada, eles ouviram uma grande explosão. O carro tinha pegado fogo.

- Meu Deus do céu... - sussurrou Alan.

Esmeralda nada disse, estava em choque. Só em pensar que eles estavam dentro daquele carro alguns minutos atrás...

Sangue & Cristais ( 2° Livro da série S&E)Onde histórias criam vida. Descubra agora