O espião

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Nikolai.

Eu não quis, eu não quis machucar ninguém, não foi minha intenção.

Aquele homem... eu podia tê-lo matado quando cruzei a rua correndo ontem à noite. Só consigo lembrar deste momento, não sei o que fiz antes disso, mas sei que provavelmente não foi nada bom.

Minhas memórias simplesmente apagam, esta amnésia é o que me faz odiar ainda mais as transformações, apagamos vidas e nossas memorias não nos punem por isso? é cruel, é injusto, sei que no mínimo, deveria ser atormentado pelas lembranças, pelo sangue inocente em minhas mãos.

― Precisa parar de pensar nisso, consigo ouvir seus pensamentos do outro lado da rua ― Dakota invade meus devaneios, entrando pela porta da sala.

― Entrar na mente para ouvir os pensamentos e dar conselhos sobre eles, é o equilíbrio perfeito para ajuda-lo ― Elliot a encara, dando um sorriso falso.
Dah força um sorriso e enruga o nariz com infantilidade.

― Então pare de entrar na minha mente ― falo, irritado.

― Temos que encontrar uma forma de parar... de não machucar as pessoas mais... está saindo do controle ― falar sobre isso é indispensável e já me embrulha o estômago. Meu irmão cruza as pernas em cima do sofá e termina de beber seu whsiy puro numa golada, sem fazer careta.

― E quando é que tivemos controle Dah? Somos Lobos! ― Faz questão de enfatizar isso, embora não esteja tão preocupado quanto nós. Ele sempre foi o mais passivo quando o assunto é discutir nossos erros pelo caminho.

― Vou ignorar as suas piadinhas sarcásticas agora, levando em conta que não somos cães domésticos rebeldes, somos muito piores, muito mais
violentos, por causa da...

― Não se atreva a falar disso! ― Interrompe rispidamente, apertando um copo de vidro com tanta força que estoura em mil pedaços na sua mão.

Os olhos castanhos dela o encaram, deixando claro seu desagrado no resultado da impulsividade do mais velho.

Elli suspira, como um pedido de desculpa.

― Por mais que queira fingir que não, a natureza nos fez assim Elliot ― A voz dela sai com a força de uma pedrada direto no peito do nosso irmão.

Sei o quanto odeia que falemos disso, sei o quanto odeia ser assim e fazer o que faz... mas, não há volta, não há conserto. Ainda mais para os que ela escolheu destinar mais do lado sombrio do que para os outros... muito mais... e não nos ensinou como controlar, nunca ensinará.

Alguns acabam não conseguindo e são dominados, resistindo ou não, sempre vem.

Ele se culpa dia e noite. Nos culpamos tanto quanto as vítimas nos culpariam se pudessem falar, é o nosso fardo, nosso tormento... porque elas tiveram suas vozes silenciadas.

Entramos numa disputa interna e fútil sobre qual de nós é pior, obviamente ele não aceita esse título e muito menos, essa disputa.

― Temos um novo problema, a perícia... vão descobrir tudo se forem bons ― Levanta do sofá para limpar os cacos, formulando algo internamente.

― Eu posso dar um jeito nisso ― falo, tomando iniciativa.

Afinal, dei brecha ontem e nos coloquei na linha de fogo.

― Não, vocês não irão fazer nada, deixa comigo, tive uma ideia ― Estalo os dedos com um sorriso orgulhoso, acaba de ter uma ideia.

Ambos se olham, apreensivos e curiosos.

― Vamos escutar a ideia do gênio, sabemos que sempre vamos nos ferrar mesmo, então solta logo ― Elliot fica em pé e cruza os braços, me subestimando.

Os escolhidos pela lua-Noites sangrentas. REESCREVENDO Onde histórias criam vida. Descubra agora