Olhava para todos os lados, com um medo surreal, buscava entender aonde estava e porque tudo o que via era neve em um espaço vazio, sem edifícios avista. Estava muito frio e suas roupas não eram propícias ao inverno, afinal de contas, antes de ser roubada do conforto de seu esconderijo, vestia apenas roupas de dormir.
- Olá? Alguém? - sua voz ecoava enquanto ela protegia seu corpo do frio, sabia perfeitamente que não estava segura ali, os traidores haviam lhe raptado e agora do nada, se encontrava em um vazio imenso, repleto de branco.
- Estou aqui, maninha. - o alívio foi imediato quando a única pessoa dentre todas as que confiava naquele novo mundo, apareceu.
- Charles. - aquela simples palavras que pronunciou, estava carregada de emoção e para comprovar isso, correu sobre a neve e abraçou com força seu irmão. - Mas como você...
- Você está sonhando. - ele a interrompeu, percebendo que ela estava perdida com sua presença.
- Claro. - ela se afastou e sorriu com compreensão, deveria ter entendido desde o inicio o que aquilo era. - Aonde eu estou?
- Na casa do inimigo. - ele a respondeu calmo demais perante a situação e quando Anne se preparava para um surto, o rapaz ergueu sua mão pedindo paciência e em seguida acrescentou: - Tudo bem. Isso é vantajoso para nós, não se preocupe.
- Como pode ser vantajoso para nós? - ela o questionou, preocupada.
- Nós temos um plano, Anne. - Charles persistia com a calmaria do início. - Precisamos que você esteja aí para coloca-lo em prática. Sabemos que por ora, os traidores não farão nada contra você.
- O que eu terei de fazer? - as palavras e a cautela dele não foram suficientes para acalma-la.
- Abrir os portões para que possamos entrar. - ele continuava com seu tom sereno, mas seus olhos brilharam de forma doentia.
Quando despertou, havia vozes altas vindo da outra sala, eles pareciam discutir algo e isso inquietou ainda mais Anne. Conhecia aquelas vozes, após o sonho esclarecedor com seu irmão, sabia perfeitamente aonde estava.
O sonho com Charles terminou com ele dizendo exatamente o que ela deveria fazer, era também um plano de resgate. Tudo parecia detalhadamente estudado e tinha grandes chances de dar certo, mas nada daquilo diminuía o pavor que a garota estava sentido naquele momento, sentada sobre uma cama desconhecida, vestindo apenas uma camisola de seda fina.
Respirou fundo, sentindo cada célula de seu corpo protestar contra o que estava prestes a fazer. Mas enchendo-se de coragem, vagarosamente se colocou em pé, suas pernas tremiam e seu coração batia acelerado. Sabia quem veria. Mas não sabia o que eles haviam destinado para ela.
Pé por pé desceu escadas de madeira, se escondeu o melhor que pode em uma parede e ficou espiando para a outra sala, aonde pode ver três homens e uma mulher.
- Temos que agir rápido e lembra-la de quem é! - Cassie dizia, ela não sabia que o alvo da conversa podia ouvir tudo claramente e tinha um bom acesso deles.
- Já sabemos o que temos de fazer. Hoje mesmo devemos leva-la dar um passeio para ver se reconhece algo do reino. - A ruiva se voltou para o dono da voz e teve a imagem de Sebastian em seu campo de visão. Ele estava com os braços apoiados rigidamente na mesa, estava sério.
- Ela não pode ser vista pelos cidadãos, não ainda, não até que esteja de volta ao normal. - Fora um homem aparentemente mais velho que havia tomado a palavra, ficou surpresa ao reconhece-lo como um dos professores de sua escola, mas continuou a analisar o que falara antes dele, mesmo que o garoto não lhe encarasse, suas bochechas coraram e sentiu algo estranho na boca de seu estômago.
- Uma metamorfose resolverá isso. - Embora tivesse conhecimento sobre a existência da magia, não pode deixar de ficar boquiaberta com a ideia de Austin. Já havia lido e visto filmes aonde aquele acontecimento anormal acontecia, jamais pensará que metamorfose fosse passar de seus livros e filmes de fantasia.
- Podemos usar a aparência de Cassandra. - Colin aceitou o plano do guardião com um aceno de cabeça e acrescentou sua própria colaboração a ele. - Todos pensarão que é ela e não levantaremos suspeitas alguma...
- Merda... - Anne praguejou baixinho quando sentirá a intensidade de um olhar azul e intimidador sobre ela, fora descoberta.
- Olá, princesa. - sua voz rouca disse sem sorrir, ela ficou paralisada encarando suas íris azuis cheias de mistérios.
- Olá, príncipe. - todo seu corpo reagiu, como alguém podia lhe causar tantas sensações como um simples olhar? Ainda assim não deu demonstrações de ter sido afetada.
- Mia, quanto tempo. - Somente outra voz surgindo para que eles parecem de se fitar com tanta intensidade.
- Agora eu me chamo Anne. - ela voltou seu olhar ameaçador para o homem desconhecido, odiava quando lhe chamavam por aquele outro nome, fazia-a sentir que não conhecia a si mesma.
- É um prazer conhece-la de novo, Anne. - Ele a cumprimentou com um aceno de cabeça e uma voz suave. Estava conseguindo lidar bem com a situação, como um psicóloga entrando no jogo do paciente.
- Sinto muito, mas devido as circunstâncias, não posso dizer o mesmo. - retrucou-o, mantendo sua postura na defensiva.
- Nós é que sentimos muito por tê-la... - Austin encontrava as palavras, escolhendo-as com cuidado. Todos os presentes já estavam preparados para serem tratados como os vilões, pois fora nisso que Charles levará a garota acreditar.
- Sequestrado? - ela sugeriu com uma sobrancelha arqueada e o tom frio.
- Você não percebe agora, mas estamos fazendo o melhor para você. - Austin avisou-a sentindo o ódio que sua princesa estava assumindo por eles, mas estava disposto a suportar a dor de não ser mais amado por sua melhor amiga e salva-la.
- Eu não acredito em você. - Ela manteve seu queixo erguido e desafiador, mas por um momento se viu questionando a si mesma se realmente não acreditava. Havia tantas lacunas para serem preenchidas... No entanto, Charles lhe mostrará a verdade, fora ele quem acenderá a luz quando ela estava no escuro.
- Volte para o quarto. - Fora uma ordem dada por ele, mas não como costumava ser quando sequestradores falavam com seus reféns, ele a olhava com carinho e seu tom de voz era amoroso. - Nós temos um plano para salvar suas memórias, e então... Você acreditará em mim.
- Como quer que eu acredite em você se quer me manter presa? - lutava com todas suas forças para não ser intimidada. Ela não estava vulnerável, seu irmão iria busca-la, ele tinha um plano.
- Você não está presa. - Esclareceu, percebendo como as coisas estavam parecendo se vendo do ponto de vista de Mia.
- Mais uma vez, eu não acredito em você. - ouvindo-a com tanta desconfiança na voz doeu o coração de Austin, afinal de contas ele deveria lhe passar segurança por ser seu guardião.
- Sinto muito. - ele murmurou pois olhou para os olhos esverdeados de Anne e sentiu que algo também a atingia, naquele momento, eles compartilhavam sentimentos de magoa enquanto se fitavam.
Ela não o respondeu, apenas lhes deu as costas e entrou para o quarto e mais uma vez, Austin sentiu como se tivesse falhado...
- Um dia ela irá nos agradecer. - Colin murmurou e apertou o ombro do guardião, todos sabiam como Mia era importante para ele. Todos estavam cansados com a situação exaustante.
- Vamos fazer a poção. - se certificou de respirar profundamente e controlar suas emoções antes de se voltar para o restante do grupo.
- Venha, vamos. - com o coração pesado e um pouco perturbado pelo o que acontecerá ali, Sebastian saiu do aposento e levou Cassie com ele.
Levou um tempo para que ficasse pronto, mas com um pouco de magia, um fio de cabelo louro e ingredientes estranhos, a poção metamorfose estava finalizada. E eles estavam beirando o primeiro passo que dariam ao resgate das memórias de Mia Tate, a princesa do Reino Encantado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoado
FantasyA batalha final havia terminado, mas outra aventura estava a caminho. Mia Stone mal imaginava que naquela história, ela seria a vilã.... Um erro, foi só o que bastou para ela não ser mais a menina cheia de luz, e com a vinda de um segredo atona, u...