Capítulo trinta e oito

41 10 2
                                    

   Olhava para todos os lados, com um medo surreal, buscava entender aonde estava e porque tudo o que via era neve em um espaço vazio, sem edifícios avista. Estava muito frio e suas roupas não eram propícias ao inverno, afinal de contas, antes de ser roubada do conforto de seu esconderijo, vestia apenas roupas de dormir.

- Olá? Alguém? - sua voz ecoava enquanto ela protegia seu corpo do frio, sabia perfeitamente que não estava segura ali, os traidores haviam lhe raptado e agora do nada, se encontrava em um vazio imenso, repleto de branco.

- Estou aqui, maninha. - o alívio foi imediato quando a única pessoa dentre todas as que confiava naquele novo mundo, apareceu.

- Charles. - aquela simples palavras que pronunciou, estava carregada de emoção e para comprovar isso, correu sobre a neve e abraçou com força seu irmão. - Mas como você...

- Você está sonhando. - ele a interrompeu, percebendo que ela estava perdida com sua presença.

- Claro. - ela se afastou e sorriu com compreensão, deveria ter entendido desde o inicio o que aquilo era. - Aonde eu estou?

- Na casa do inimigo. - ele a respondeu calmo demais perante a situação e quando Anne se preparava para um surto, o rapaz ergueu sua mão pedindo paciência e em seguida acrescentou: - Tudo bem. Isso é vantajoso para nós, não se preocupe.

- Como pode ser vantajoso para nós? - ela o questionou, preocupada.

- Nós temos um plano, Anne. - Charles persistia com a calmaria do início. - Precisamos que você esteja aí para coloca-lo em prática. Sabemos que por ora, os traidores não farão nada contra você.

- O que eu terei de fazer? - as palavras e a cautela dele não foram suficientes para acalma-la.

- Abrir os portões para que possamos entrar. - ele continuava com seu tom sereno, mas seus olhos brilharam de forma doentia.

Quando despertou, havia vozes altas vindo da outra sala, eles pareciam discutir algo e isso inquietou ainda mais Anne. Conhecia aquelas vozes, após o sonho esclarecedor com seu irmão, sabia perfeitamente aonde estava.

O sonho com Charles terminou com ele dizendo exatamente o que ela deveria fazer, era também um plano de resgate. Tudo parecia detalhadamente estudado e tinha grandes chances de dar certo, mas nada daquilo diminuía o pavor que a garota estava sentido naquele momento, sentada sobre uma cama desconhecida, vestindo apenas uma camisola de seda fina.

Respirou fundo, sentindo cada célula de seu corpo protestar contra o que estava prestes a fazer. Mas enchendo-se de coragem, vagarosamente se colocou em pé, suas pernas tremiam e seu coração batia acelerado. Sabia quem veria. Mas não sabia o que eles haviam destinado para ela.

Pé por pé desceu escadas de madeira, se escondeu o melhor que pode em uma parede e ficou espiando para a outra sala, aonde pode ver três homens e uma mulher.

- Temos que agir rápido e lembra-la de quem é! - Cassie dizia, ela não sabia que o alvo da conversa podia ouvir tudo claramente e tinha um bom acesso deles.

- Já sabemos o que temos de fazer. Hoje mesmo devemos leva-la dar um passeio para ver se reconhece algo do reino. - A ruiva se voltou para o dono da voz e teve a imagem de Sebastian em seu campo de visão. Ele estava com os braços apoiados rigidamente na mesa, estava sério.

- Ela não pode ser vista pelos cidadãos, não ainda, não até que esteja de volta ao normal. - Fora um homem aparentemente mais velho que havia tomado a palavra, ficou surpresa ao reconhece-lo como um dos professores de sua escola, mas continuou a analisar o que falara antes dele, mesmo que o garoto não lhe encarasse, suas bochechas coraram e sentiu algo estranho na boca de seu estômago.

- Uma metamorfose resolverá isso. - Embora tivesse conhecimento sobre a existência da magia, não pode deixar de ficar boquiaberta com a ideia de Austin. Já havia lido e visto filmes aonde aquele acontecimento anormal acontecia, jamais pensará que metamorfose fosse passar de seus livros e filmes de fantasia.

- Podemos usar a aparência de Cassandra. - Colin aceitou o plano do guardião com um aceno de cabeça e acrescentou sua própria colaboração a ele. - Todos pensarão que é ela e não levantaremos suspeitas alguma...

- Merda... - Anne praguejou baixinho quando sentirá a intensidade de um olhar azul e intimidador sobre ela, fora descoberta.

- Olá, princesa. - sua voz rouca disse sem sorrir, ela ficou paralisada encarando suas íris azuis cheias de mistérios.

- Olá, príncipe. - todo seu corpo reagiu, como alguém podia lhe causar tantas sensações como um simples olhar? Ainda assim não deu demonstrações de ter sido afetada.

- Mia, quanto tempo. - Somente outra voz surgindo para que eles parecem de se fitar com tanta intensidade.

- Agora eu me chamo Anne. - ela voltou seu olhar ameaçador para o homem desconhecido, odiava quando lhe chamavam por aquele outro nome, fazia-a sentir que não conhecia a si mesma.

- É um prazer conhece-la de novo, Anne. - Ele a cumprimentou com um aceno de cabeça e uma voz suave. Estava conseguindo lidar bem com a situação, como um psicóloga entrando no jogo do paciente.

- Sinto muito, mas devido as circunstâncias, não posso dizer o mesmo. - retrucou-o, mantendo sua postura na defensiva.

- Nós é que sentimos muito por tê-la... - Austin encontrava as palavras, escolhendo-as com cuidado. Todos os presentes já estavam preparados para serem tratados como os vilões, pois fora nisso que Charles levará a garota acreditar.

- Sequestrado? - ela sugeriu com uma sobrancelha arqueada e o tom frio.

- Você não percebe agora, mas estamos fazendo o melhor para você. - Austin avisou-a sentindo o ódio que sua princesa estava assumindo por eles, mas estava disposto a suportar a dor de não ser mais amado por sua melhor amiga e salva-la.

- Eu não acredito em você. - Ela manteve seu queixo erguido e desafiador, mas por um momento se viu questionando a si mesma se realmente não acreditava. Havia tantas lacunas para serem preenchidas... No entanto, Charles lhe mostrará a verdade, fora ele quem acenderá a luz quando ela estava no escuro.

- Volte para o quarto. - Fora uma ordem dada por ele, mas não como costumava ser quando sequestradores falavam com seus reféns, ele a olhava com carinho e seu tom de voz era amoroso. - Nós temos um plano para salvar suas memórias, e então... Você acreditará em mim.

- Como quer que eu acredite em você se quer me manter presa? - lutava com todas suas forças para não ser intimidada. Ela não estava vulnerável, seu irmão iria busca-la, ele tinha um plano.

- Você não está presa. - Esclareceu, percebendo como as coisas estavam parecendo se vendo do ponto de vista de Mia.

- Mais uma vez, eu não acredito em você. - ouvindo-a com tanta desconfiança na voz doeu o coração de Austin, afinal de contas ele deveria lhe passar segurança por ser seu guardião.

- Sinto muito. - ele murmurou pois olhou para os olhos esverdeados de Anne e sentiu que algo também a atingia, naquele momento, eles compartilhavam sentimentos de magoa enquanto se fitavam.

Ela não o respondeu, apenas lhes deu as costas e entrou para o quarto e mais uma vez, Austin sentiu como se tivesse falhado...

- Um dia ela irá nos agradecer. - Colin murmurou e apertou o ombro do guardião, todos sabiam como Mia era importante para ele. Todos estavam cansados com a situação exaustante.

- Vamos fazer a poção. - se certificou de respirar profundamente e controlar suas emoções antes de se voltar para o restante do grupo.

- Venha, vamos. - com o coração pesado e um pouco perturbado pelo o que acontecerá ali, Sebastian saiu do aposento e levou Cassie com ele.

Levou um tempo para que ficasse pronto, mas com um pouco de magia, um fio de cabelo louro e ingredientes estranhos, a poção metamorfose estava finalizada. E eles estavam beirando o primeiro passo que dariam ao resgate das memórias de Mia Tate, a princesa do Reino Encantado. 

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora