Capítulo quarenta e sete

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   Do lado de fora do quarto de Cassie, Austin, Mia e Sebastian estavam parados, conversando baixinho sobre o quanto estavam preocupados com a arqueira. Enquanto isso, sentimentos transbordavam pelos olhos dela, em uma sessão sem fim de sofrimento.

- Deixem que eu vou. - o príncipe deu uma olhada rápida para dentro do quarto escuro, suspirou cansado e tomou a decisão.

- As coisas mudaram desde que você esteve ausente. - Mia havia dito que não era uma boa ideia e quando fez menção de alcança-lo, Austin a parou, pousando a mão em seu ombro. - Cassandra não o teme ou o odeia mais. Eles são bem próximos agora.

- Grande mudança, eu diria. - a princesa riu com a ironia da situação. Em pé ao lado do guardião, deitou sua cabeça no ombro dele e ficaram quietos observando Sebastian entrar no cômodo.

- Ei, humana... - O príncipe se sentara ao lado dela na cama, o colchão cedendo um pouco com o acréscimo de peso. Pensará em mil formas de iniciar aquela conversa, mas nada era bom o bastante. Cassie não reagiu, ela apenas se escondeu ainda mais nas cobertas. O bruxo olhou para a porta, aonde os dois amigos esperavam com expectativa, eles lhe fizeram sinais para que o mesmo prosseguisse e ele revirou os olhos antes de retomar a falar com calma. - Você já não passou por isso antes? Nós dois sabemos que a única forma de resolver um problema é lidando com ele.

- Você só entendera pelo o que eu estou passando, quando estiver no meu lugar.

- Cass... Está doendo em mim também. - Ele murmurou baixinho, depois de um momento em silêncio de olhos fechados.

- É, eu sei. Mas você tem uma família ainda. - ela se sentou, estava acabada, Sebastian nunca havia a visto daquele jeito, nem em seus piores momentos. - Ele era o único adulto que eu tinha. O único que podia me deixar ainda ser uma adolescente. Eu não tenho mais ninguém. Meus pais... Faz dezessete anos que eu não os vejo. Entende o que eu estou dizendo? Dezessete anos, não dias, semanas ou meses. ANOS. Eles estão velhos, se já não estiverem mortos. E eu deveria ter dezessete anos a mais e nem ao menos vivi direito.

Sebastian ouviu e digeriu tudo e principalmente, a entendeu. Mas não podia demonstrar pena por ela, a mesma já sentia muita pena de si mesma. Não podia ajudar naquela tortura, precisava dar a ela um choque de realidade, um daqueles esporros que damos em alguém, mas para o seu bem. Ele segurou-a pelos ombros e olhou fixamente dentro de seus olhos.

- Então tente ser feliz hoje, e por todas as pessoas que não podem mais viver, viva.

Cassandra o encarou por uma fração de segundos antes de abraça-lo. Ele a abraçou de volta, como se aquele abraço fosse um analgésico para a dor que ambos sentiam.

- Eu não consigo dormir. - ela murmurou para ele, aparentemente sem dormir a muito tempo, estava notoriamente cansada.

- Deita. - ele deu batidinhas no travesseiro, deixando o espaço vago para ela se aconchegar. - Eu fico com você.

Grata ela se deitou e o sentiu fazer o mesmo, com a presença protetora do amigo, não tardou muito a dormir. Sebastian olhou para a porta aonde os outros dois ainda os fitavam com curiosidade e um pouco de preocupação.

Após quase duas horas ao lado dela, ele se sentiu confiante o bastante para deixa-la descansar sozinha. Os amigos já haviam se recolhido também. Levantou da cama cuidadosamente e puxou o cobertor para tampar a humana, o mais delicadamente que sua estrutura muscula permitia.

Saiu do quarto e desceu as escadas, sem o menor interesse de entrar para seu quarto. O bruxo sorriu um pouco ao perceber que igual a ele, outra pessoa também não estava conseguindo dormir. Ali, parada dentro de uma camisola rosa de seda, com cabelos ondulados e ruivos caídos graciosamente as suas costas, em frente a um rio límpido, rodeada de rosas vermelhas e girassóis, fitando o céu escuro e estrelado, Mia estava mais linda do que nunca.

- Perdeu o sono, princesa? - com os braços cruzados ele chamou a atenção daquela criatura divina que conseguia transformar qualquer cenário comum em algo belo, simplesmente por sua ilustre presença.

- Príncipe. - Ela o cumprimentou de forma formal, descendo seus olhos para os dele, que conseguiam ser incrivelmente mais azuis e bonitos do que o céu que anteriormente ela fitava.

- Por que tanta formalidade? Não costumávamos ser tão formais um com o outro... - ele riu de forma descontraído e divertido, provocando uma onda de calor na garota e deixando-a ruborizada.

- Desculpe. Eu... Não sei como as coisas ficaram entre nós. - Para disfarçar, ela colocou um mecha de seu cabelo delicadamente para trás da orelha, confusa com a tranquilidade dele depois de tudo.

- Mia, eu enfrentei céus, mares e infernos para estar com você. - Ele não se importou com o quão clichê aquilo soasse. - Eu estive esperando por você por literalmente dezessete anos. Nós dois tivemos que enfrentar tanto para podermos estarmos juntos, sem nunca realmente tivermos tido tempo para isso. Porque mal saímos de uma guerra e entramos em outra. Eu não aguento passar mais um único segundo sem viver o que estamos sentindo. Quer saber como ficamos? Eu digo. Juntos. Porque garota, eu te amo e não me importa quem você foi ou fez quando não estava comigo, quando não se lembrava de mim, eu sou a última pessoa no mundo que pode te julgar, porque eu fiz pior e sabendo exatamente quem eu era e o que estava fazendo.... Você ainda é a mesma pessoa que eu conheci, que me encantou, me salvou, que eu amei e odiei pelos mesmos motivos.

- Você é o amor da minha vida, Sebastian. - Cada segundo que passava já com as memórias de volta, se tornava mais dificultoso para ela não dizer aquilo. - E não é justo que tenhamos que passar por tanto para sermos felizes. Mas cada obstáculo que encontramos, superamos. Porque o nosso amor, ele vale apena.

A cor e o brilho nos olhos dela quando ela o olhou, criou uma cor nova para a paletas de cores, a cor do amor.

Realmente, eles haviam passado por mais coisas que casais normais para ficarem juntos, mas bem, eles não eram um casal normal e Sebastian não precisou ouvir mais nada para ter certeza de que precisavam um do outro e que acima de tudo, precisavam de um momento, um especial.

A partir dali, tudo aconteceu em uma fração de segundos, foi só Sebastian formar o cenário em sua cabeça que ele tomou forma fora dela. Em pouquíssimos segundos tudo se tornara romântico, as flores ficaram ainda mais belas, pétalas começaram a cair do céu e uma musica suave surgiu ao fundo, luzes bonitas refletiam sobre eles.

- Você me deve uma dança. - Ele falou, abrindo um sorriso tão bonito quanto o cenário que havia proporcionado a ela.

- Você é inacreditável, príncipe. - soltou uma risada espontânea movendo seus cabelos ao virar levemente a cabeça para o lado enquanto ria.  Por um momento ele ficou parado a olhando, abobalhado com o quanto o sorriso dela era bonito.- Bem... Da ultima vez que íamos dançar, fomos interrompidos por um ataque. - ela disfarçou erubescendo cada vez mais.

- Olha aqui, universo.... - Sebastian abriu os braços de forma teatral e exagerada, olhando para cima como se falasse com um superior. - Nada que você mande vai me impedir de dançar com essa garota a noite toda.

- Você é um bobo. - Ainda rindo, verdadeiramente alegre, Anne se aproximou dele e rodeou o pescoço do rapaz com suas mãos.

- Só com você. - fez beicinho só para vê-la rir daquela forma novamente, encaixando suas mãos com perfeição na cintura de Mia.

- Que clichê. - ela fez exatamente o que ele esperava, tombou um pouco sua cabeça e gargalhou com vontade. Já havia começado a dançar, antes mesmo que percebesse.

Sebastian a girou, e depois a inclinou levemente para trás, mantendo-a seguras com suas mãos fortes. Fez isso tão rápido que a garota exclamou, surpresa. E ele continuou a guiando por uma dança emocionante e romântica, fazendo piadinhas e arrancando risadas dela, que o acompanhava com a mesma habilidade.

Eles tentaram aproveitar o momento o máximo possível. Tinham tanta conexão que sabiam perfeitamente que movimento o outro faria a seguir, por isso quando o bruxo a enrolou em seus braços e a desenrolou lentamente, Mia buscou um pouco de distância e correu para ele, sendo erguida para o alto.

Depois de girar com ela no colo e suas risadas se misturarem, ele colocou ela no chão, olhos nos olhos o tempo inteiro. O príncipe analisou cada detalhe do rosto dela, com amor nos olhos. Ele se inclinou um pouco para frente e a beijou com calma, como se tivesse medo de quebrá-la, mas Mia o queria com toda intensidade então tomou as rédeas da situação e o beijou com todo desejo que podia atribuir a um beijo. Ela suspirou entre os lábios dele, concluindo que o beijo deles era tão perfeito quanto se lembrava. 

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora