Capítulo vinte e quatro

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E lá estava ela novamente, naquela mesma floresta sombria. Daquela vez, Anne Smith voltará lá por vontade própria. Como havia ido parar ali novamente através de um sonho, ainda não sabia bem. Mas fora escolha, tinha certeza que sim, pois dormirá implorando para o que quer que lhe levasse a ver Charles em sonho, funcionasse daquela vez que ela realmente queria.

  Abraçou seus braços, embora quisesse ir parar ali, o medo por realmente ter conseguido era inexplicável. Naturalmente, não sentia medo apenas por ter conseguido decidir com o que e com quem sonharia, mas também por ele ter vida própria em seu sonho e não ser um personagem seguindo um roteiro. Além do mais, ver a si mesma em fotos que não havia tirado, era a coisa mais torturante de todo o universo.

Bem, estava completamente em choque, como qualquer um ficaria, no entanto precisava conseguir lembrar o que quer que fosse que tinha esquecido, mas o fato era que havia esquecido uma vida inteira. Ela queria gritar, chorar e exigir que o universo lhe enviasse sinais e lhe esclarecesse o que estava acontecendo com sua vida, por que ela parecia ter estado com os olhos vendados todos aqueles malditos anos?

  - Charles? - gritou para a noite escura, seu grito saiu cheio de dor enquanto chamava por ele. Sua vontade era simplesmente desistir mas precisava entender o que havia se tornado sua vida. - Charles? - ia rodando enquanto gritava em todas as direções. - Você está aí?

  - Você me chamou. - O garoto vinha surgindo entre as árvores, as mãos enfiadas dentro dos bolsos. - Eu estou aqui.

  - Acho que acredito em você. - Eles estavam distante o que a fez ter que gritar, quando as palavras saíram de sua boca Anne se sentiu estranha, como se estivesse colocando sua vida nas mãos daquele desconhecido. E estava. - Mas eu preciso saber, Charles... Eu preciso saber de tudo.

  - O que te fez mudar ideia? - perguntou o louro, se aproximando aos poucos, com um sorriso de satisfação querendo surgir.

  - Tinham fotos minhas no álbum de memórias de Cassandra. - Quando falou aquilo em voz alta percebeu o quanto a situação era pior do que pensava. Aquilo realmente estava acontecendo. - Mas eu, eu não entendo...

  - Você está pronta para toda a verdade, você a quer? - Tanto suas palavras quanto o tom de alerta em sua voz era um lembrete de quão ruim as coisas poderiam ficar, o quanto sobrenatural sua vida estava se tornando e aceitar a magia em um mundo como o seu, era se entregar por completo para a insanidade.

  - Estou pronta. - Garantiu, suando de nervoso. Sabendo perfeitamente que nunca estaria pronta para ouvir coisas como aquelas, mas a muito tempo não era mais questão de querer saber, e sim de precisar.

  - Eu vou lhe contar como chegamos até aqui. - Ele segurou a mão de Anne e a sentou no tronco, seu toque não lhe passou tranquilidade nenhuma. - Eu já disse antes, somos meio irmãos, vivemos em um mundo com magia, bruxos, fadas... Mas enfim, eu também sou meio irmão de Sebastian, Príncipe dos bruxos. Minha mãe casou-se com o rei do reino inimigo logo após se divorciar de nosso pai, mas esse tempo todo, Mia... Ela estava sobre um feitiço forte do amor. Eu não fui embora com ela, fiquei vivendo no reino das fadas com você e papai, até que sofremos um ataque, um ataque que matou muitos dos nossos e sugou a magia de nosso povo. Eles queriam o nosso reinado, a nossa coroa, queriam que nos encurvássemos perante eles e seríamos seus criados. E sim, eles conseguiram, mas tudo graças a dois traidores, Colin e Austin. Eles eram membros da guarda real e abriram os portões para os inimigos.

  - Mas como, nas imagens que eu vi, eles e eu parecíamos tão próximos... - O cérebro dela absorveu as informações com rapidez e mais e mais perguntas surgiram, como se nunca tudo fosse estar realmente esclarecido.

  - Isso antes da traição. Eles costumavam ser nossos aliados... - Ele parecia tão convicto no que dizia, narrando para Anne momentos ao qual no passado ela havia presenciado, mas ela não possuía as lembranças. - Sebastian se aproximou de você, na época era muito inocente, tanto que se apaixonou pelo inimigo e pela ideia de unirem os dois reinos e conquistarem a paz. Ele manipulou você, fingiu te amar e querer a paz tanto quanto a princesa bondosa que você costumava ser. Era mentira, mas na época você não sabia e viveu com ele um romance as escondidas, um do qual somente Austin e Cassandra sabiam. Mas eles também eram os inimigos, eles sabiam do plano de meu irmão desde o início...

  - Espera. - Precisava de tempo para digerir tudo, a cada nova revelação um novo choque e mais e mais dúvidas. - Então Sebastian é um bruxo e eu uma fada? Fomos apaixonados?

  - Você foi. Ele fingiu ser. - Disse de modo calmo, como se não fosse realmente importante aquela parte de sua narrativa.

  -Por favor, continue... - Pediu segurando com força o choro que queria derramar. Ela queria lembrar, antes pensava que era tudo maluquice de sua cabeça, na verdade, passou anos de sua vida achando que havia algo de errado com sua existência e naquele momento, tudo parecia fazer sentido. Fadas, bruxos, magia, reinos... Tudo aquilo parecia mesmo estar em sua cabeça, como se ouvisse falar sobre algum filme que havia assistido.

  - Como queira. - ele disse aquilo por pura formalidade pois não tinha a menor consideração pelo peso que estava soltando em cima da menina, para suas lágrimas contidas ou sua expressão assustada, queria apenas terminar de contar a história que destruiria a vida que Anne conhecia.  - Bem, também tem Cassandra. O nosso povo, nosso pai, sua mãe, nós a acolhemos em nosso reino. Ela era apenas uma humana que sofria maus tratos. Quando menina você tinha encantamento pelos mundanos, Candice permitiu que você comemorasse um de seus aniversário na terra e nesse tempo você a conheceu, se aproximou e apegou-se a garota, viraram amigas e você pediu para sua mãe resgata-la daquele mundo horrível. Sua vontade foi feita. Cassie cresceu no nosso mundo mas assim como Austin, nos traiu.

  - Por-por que ela me traiu? Se eu fui tão boa com ela... - todos os esforços que Anne fizerá para conter o choro, foram em vão. Na verdade, tudo que ela tentou manter em controle, não estava mais.

  - Você era uma princesa, literalmente. E uma fada. Ela não era nada, não era ninguém. Ela te invejava e queria o seu lugar, não sei o que prometeram para ela, mas era mais do que ela tinha como simplesmente a amiga humana da futura rainha. - cada vez mais que Charles falava, mais e mais suas palavras ficavam duvidosas. Porque acreditar em uma vida após a morte, acreditar em um reino e em magia, era como acreditar que papai Noel existia.

  - Tem mais alguma coisa? - perguntou sem saber o que deveria esperar, principalmente porque não sabia mais como agir diante de toda aquela história.

  - Em uma das guerras que travamos contra os bruxos, você morreu, Anne. Mas graças a Deus ressuscitou e reencarnou nessa vida. - Charles tinha um jeito de quem sabia exatamente do que estava falando, como se soubesse tudo de sua vida de cor e por um momento, Anne sentiu inveja dele, queria tanto saber o que aconteceu em sua vida passada, era estranho conhecer a si mesma através da boca de outra pessoa. - Isso não passou despercebido por eles, e vieram atrás de você querendo terminar o que começaram, porque se você não retornar para o nosso reino, a magia também não retornará, você é a única que ainda a possui. Se eles te matarem, matam a todos nós.

  - Eu não quero morrer. - ela disse, sentindo a verdade em suas palavras. Havia evitado a todo custo acreditar naquilo tudo, mas dado aos fatos não havia como negar, além disso, Anne sentia que a magia existia. - E eu não quero lutar para sobreviver, não quero nada disso, eu só quero que as coisas voltem ao normal.

  - Mas você precisa voltar, precisa voltar no dia do seu aniversário ou todos que você ama aqui e aqueles que amou na outra vida, eles vão sofrer as consequências. - Aquilo mudou tudo, Anne não sabia aonde estava se metendo, mas faria tudo pelas pessoas que amava, então sim, ela lidaria com a bomba relógio que fora jogada em sua vida. Era uma fada. Uma princesa. Uma garota reencarnada. Tudo bem. Ela conseguia. - Olha... Você só precisa fingir que não se lembra de nada. - e na verdade, ela realmente não lembrava. - Eu vou te manter segura até seus dezessete anos e então vamos para o Reino Encantado, você ganha a batalha final e volta para cá. Eu prometo que vai ser fácil, manteremos contato, e as coisas vão ficar mais claras.

  - Tudo bem. - disse simplesmente, dando um passo em direção a loucura.

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora