trinta e dois

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Sua melhor amiga havia lhe dado um susto, no meio da noite Anne recebeu uma ligação de que Zoe havia caído da escada e estava no hospital. Imediatamente, ela e sua família foram as pressas para o hospital e após chegarem na sala de recepção, tiveram que esperar por noticias, todos estavam agoniados e exaustos de continuarem a esperar.

Tanto Anne quanto sua mãe, seu pai e seu irmão, temiam pelas notícias que a mãe da menina iria trazer. Eles eram tão família dela quanto a mulher que lhe derá a luz. E andavam inquietos de um lado para o outro, reunidos na sala de espera.

  Pensamentos tristes passavam pela mente de todos, o clima era tenso e ninguém se atrevia a dizer uma única palavra, embora seus rostos molhados por lágrimas contasse muita coisa.

   Anne nunca virá Jason tão vulnerável, ele não parará um segundo desde que chegará ali e assim como ela, estava a aparência física do desespero. Por sua vez, a melhor amiga da infame nunca havia sentido tanto medo, seu corpo doía e seu coração também.

   - Oi. - A ruiva engoliu em seco e ouviu todos os presentes fazerem o mesmo, quando finalmente Aranel apareceu, sua aparência não era nada tranquilizadora, a mulher tinha o rosto marcado de quem passará horas em pranto. 

  - E Zoe? - Perguntou Anne em desespero, sentindo seu mundo todo sendo invadido pelo medo de perde-la.

   - Ela... Ela vai ficar bem. - respondeu com seus olhos lacrimejantes por lágrimas. Sua aparência era exausta, por ser uma pessoa deprimida sempre aparentava cansaço, mas após o acidente de sua filha, ela estava destruída.

  - E o que aconteceu com ela? - a mãe de Anne quis saber, mais calma ao perceber que a jovem que via como filha, ficaria bem. Todos pareciam aliviados mas ainda estavam sentidos.

  - Ela disse que tropeçou e caiu, mas... - voltou a liberar lágrimas que caiam desenfreadas sem conseguir terminar a fala.

  Anne entendeu imediatamente o que realmente havia acontecido e sentiu seu coração ser despedaçado após sua própria conclusão. Aquilo nada mais era do que o resultado do relacionamento tóxico e abusivo ao qual Zoe estava. Em silêncio se aproximou de Aranel e a envolveu em um abraço, a mulher fungou em seu peito e desabou ainda mais, tendo-a como apoio para sua dor. Sua família e Anne trocaram olhares penalizados e compreensivos.

  - Quando ela recebe alta? - Perguntou se segurando para não chorar também, a situação toda era muito triste.

  - Hoje a tarde. - deixou um soluço escapar sem se afastar do abraço da adolescente que naquele momento parecia mais forte do que ela.

  - Leve Aranel para casa, querida. Ela precisa descansar - Elisa disse para a filha, secando lágrimas que também deixará rolar, a tristeza daquele momento também lhe atingirá, mesmo que ela não soubesse o que a mãe e a melhor amiga da menina sabia. Zoe estava daquela forma por conta do amor que sentirá por um rapaz. - Seu pai e eu iremos esperar por Zoe.

   Anne ajudou a mulher, a tristeza se refletia nos olhos e nos movimentos cansados dela, desde pequena era aquela lembrança que Anne tinha dela, alguém triste, danificado, destruída pela vida, era isso o que a depressão fazia.

   Elas entraram no carro em um silêncio mútuo, era realmente irritante não saber o que dizer em uma situação como aquela, para uma pessoa que fora agredida a vida toda pelo marido, deveria ser realmente ruim ver a história se repetindo na vida de sua única filha.

  - Ela não quis denuncia-lo. Disse que o ama. - Após o silêncio, Aranel suspirou e uma lágrima rolou solitária por sua face, sem que ela tivesse tirado seus olhos da  paisagem que via através da janela. Anne concordou com a cabeça e continuou fitando a estrada.

  - E o que você acha?

  - O amor não é violento, depois que eu amei alguém que me agrediu, eu entendi que eu amava sozinha.

  Anne tentou afastar a imagem perturbadora daquela doce mulher e sua filha sendo agredidas por alguém que deveria ama-las e protege-las, sentiu repulsa de todos os homens que destruíram corações e infâncias daquela mesma forma.

  - Você é especial porque conseguiu nadar em uma situação aonde a maioria se afogou.

  - Obrigada. - ela sorriu, mas infelizmente não fora um sorriso sincero, tão pouco feliz.  - Mas eu demorei demais para começar a nadar, e afundei minha filha comigo. Nascendo aonde nasceu e vivendo como viveu, Zoe acredita que o amor que outra pessoa diz sentir por nós, justifica tudo.
 
  Anne não pode fazer muito se não sorrir compreensiva e triste para ela. Não demoraram muito para chegar e após descerem, ela ajudou a mulher exausta a se acomodar, ficando só com seus pensamentos enquanto Aranel dormia. Suspirou, em poucas horas Zoe chegaria e ela teria de lhe convencer a denunciar  seu agressor.

(CONTINUAÇÃO) Encantada - O reino amaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora