O que era pior: sair do armário sem sequer saber se eu estava nele ou negar que eu estava nele quando tudo indicava que sim?
Na primeira hipótese, eu poderia passar por todo o transtorno de uma conversa séria com meus pais que eu ainda não tinha me preparado para ter. Se eu estava confusa antes, ter beijado Gianina transformou todas as minhas dúvidas em um vazio. Eu simplesmente não conseguia pensar naquilo sozinha, porque além de tudo havia a nossa amizade em jogo. Eu estava com raiva da minha melhor amiga ou apenas reprimia o fato de ter gostado de beijar ela? Eu tinha gostado de beijar ela porque ela beijava bem ou porque, no fundo, me sentia atraída por ela?
Não sendo essa opção, eu fingiria que nada havia acontecido nem estava acontecendo, mas mantinha as suspeitas dos meus pais. E depois da infelicidade de minha mãe ter ouvido uma frase sem contexto de Gina, eles com certeza jurariam de pés juntos que nós éramos um casal. O lado bom disso era que eles também fingiriam que nada estava acontecendo, o que me dava algum tempo para esclarecer as coisas na minha mente, acho eu. Já o lado ruim era a expectativa de quando eles tocariam no assunto, o que poderia me pegar desprevenida. De qualquer forma, eu continuaria tensa pelos próximos dias.
Mas, pelo menos naquele sábado, eu não pensaria em nada além de eu estar prestes a conhecer a Hayley Kiyoko.
Na segunda, consegui desconversar quando minha mãe perguntou o que Gianina tinha falado – ela sabia o que era, com toda certeza, do contrário não teria voltado nesse assunto. De terça a sexta, para endossar minha resposta de que não era nada demais, evitei falar com e de Gina além do necessário, sem visitá-la ou chamá-la para minha casa. No sábado de manhã, inevitavelmente estávamos juntas por conta do cursinho, que eu já tinha faltado na semana anterior e nem em sonho minha mãe me deixaria faltar de novo. E na real, a animação para o evento de mais tarde era tanta que eu mal havia dormido, acordando antes do despertador para a aula.
Já estava tudo finalmente organizado: depois do curso, eu voltaria para casa para deixar meu material e me arrumar, então Gianina viria me encontrar e iríamos juntas com algum carro de aplicativo. Dizia ela que o problema com o nosso responsável já tinha sido resolvido, e eu imaginava que ela tinha feito alguma chantagem emocional com tia Martha para que ela nos acompanhasse, uma vez que meus pais estavam completamente fora de cogitação. De última hora, eu tinha descoberto que eles iriam passar parte do fim de semana na serra, pois era não só dia dos namorados, mas também a comemoração de bodas de prata deles. No fim, nem mesmo achei ruim a notícia, porque significava que eu teria a casa toda para mim até segunda de manhã. Com meus pais fora da cidade e Gianina em cargo de resolver nosso problema, realmente não restava muito além da mãe dela. Era fácil imaginar a minha surpresa, contudo, quando abri a porta e, além da minha amiga, vi Liam ali.
– Ué?! – escapuliu pelos meus lábios. Gina riu, divertida, estendendo as mãos para mostrar Liam como um objeto à venda.
– Eis aqui a nossa salvação!
– Eu vou acompanhar vocês – disse ele, meneando a cabeça para os lados, não exatamente animado.
– Desculpa, eu não sabia que você vinha – me dei conta da minha falta de educação. – Entrem, eu já tô quase pronta.
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I L.G.B.T.?
Teen Fiction17 anos, uma lista de paixões platônicas e o sonho de conhecer a ídola da música. Tudo absolutamente normal para Amelia, exceto que ela não se sentia normal. Sob o estresse de esconder quem ela realmente é, como será a semana decisiva em sua vida?