Ao contrário do que muitos podem imaginar, apesar de na época do ocorrido, ter acabado de completar meus três anos de vida eu era, perfeitamente, capaz de lembrar-me do que havia ocorrido na noite em que perdi meus pais biológicos. Afinal, os traumas são sempre os que mais marcam e os que nunca esquecemos. Não é verdade ?
Havíamos acabado de retornar de uma festa e papai ainda segurava mamãe nos braços e ensaiava com ela uns passos de dança no meio do tapete. Eles sorriam se entreolhando e me fitando. Fiquei no sofá, pois, já estava sonolento!
Papai acendeu um cigarro e fumava na janela. Enquanto ele foi até a cozinha, pegar uma latinha de cerveja, mamãe veio se juntar no sofá me ajeitando, confortavelmente, em seu colo e acarinhando minha cabeça. Como eu os amava!
Nossa casa era bem simples, tínhamos poucos móveis e eu não me importava com isso. Sobrava em amor, vivíamos felizes ,com o que tínhamos e isso me deixava confortável.
Apesar de saber, com a consciência de hoje, que vivíamos beirando o limite para ter uma vida aceitável. Carlos trabalhava fazendo bicos, topava o que aparecesse para ser o chefe da família.
Enquanto Liliane passava, cozinhava, arrumava a casa, cuidava de mim e fazia suas cocadas para sairmos diariamente batendo de porta em porta, tentando um lucro para aumentar a nossa renda.Mesmo sendo uma criança já tinha acionado o meu alerta de que algo estava errado. Peguei mamãe chorando várias vezes e sempre que perguntava se estava triste, ela desconversava.
Ficava pensando se eu era o culpado por vê-la daquele modo e juro, que me comportava o máximo, para não magoá-la. Ficava quietinho!
Com aquele aconchego que recebia, meus olhos lutavam contra o peso do sono, para continuarem abertos. Durante minhas tentativas de continuar com minha mãe ou descansar, fui vencido e acabei dormindo.
Perdendo o pouco tempo que tínhamos!
Fui acordado por uma falta de ar e uma tosse insistente, mas, eu não estava adoentado. Esfreguei meus olhos com o dorso da mão antes de me dar conta do que acontecia.
Fiquei assustado!
Havia uma espécie de bola alaranjada subindo pela parede e uma fumaça preenchia toda a sala. Vi mamãe deitada do meu lado e a balancei, enquanto corri com os olhos a procura de papai.
—Mamãe! Acorda mamãe!
Chamei uma, duas, três e somente pela quarta vez que fui atendido.
— O que foi querido?
— O que é aquilo?
Apontei para o que vi na parede e logo seus olhos se arregalaram.
— Fogo! Nossa casa está pegando fogo.
— O que faço mamãe?
— Onde está seu pai?
— Não sei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Feito para Você
RomanceGustavo sempre guardou, as sete chaves, o sentimento que descobriu ainda na infância. Seu primeiro amor aconteceu aos 9 anos e desde então permaneceu imutável. Primeiramente, acreditou que pudesse ser um delírio de sua mente fértil e que estivesse...