2. Resgatando Memórias

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Ao contrário do que muitos podem imaginar, apesar de na época do ocorrido, ter acabado de completar meus três anos de vida eu era, perfeitamente, capaz de lembrar-me do que havia ocorrido na noite em que perdi meus pais biológicos

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Ao contrário do que muitos podem imaginar, apesar de na época do ocorrido, ter acabado de completar meus três anos de vida eu era, perfeitamente, capaz de lembrar-me do que havia ocorrido na noite em que perdi meus pais biológicos. Afinal, os traumas são sempre os que mais marcam e os que nunca esquecemos. Não é verdade ?

Havíamos acabado de retornar de uma festa e papai ainda segurava mamãe nos braços e ensaiava com ela uns passos de dança no meio do tapete. Eles sorriam se entreolhando e me fitando. Fiquei no sofá, pois, já estava sonolento!

Papai acendeu um cigarro e fumava na janela. Enquanto ele foi até a cozinha, pegar uma latinha de cerveja, mamãe veio se juntar no sofá me ajeitando, confortavelmente, em seu colo e acarinhando minha cabeça. Como eu os amava!

Nossa casa era bem simples, tínhamos poucos móveis e eu não me importava com isso. Sobrava em amor, vivíamos felizes ,com o que tínhamos e isso me deixava confortável.

Apesar de saber, com a consciência de hoje, que vivíamos beirando o limite para ter uma vida aceitável. Carlos trabalhava fazendo bicos, topava o que aparecesse para ser o chefe da família.
Enquanto Liliane passava, cozinhava, arrumava a casa, cuidava de mim e fazia suas cocadas para sairmos diariamente batendo de porta em porta, tentando um lucro para aumentar a nossa renda.

Mesmo sendo uma criança já tinha acionado o meu alerta de que algo estava errado. Peguei mamãe chorando várias vezes e sempre que perguntava se estava triste, ela desconversava.

Ficava pensando se eu era o culpado por vê-la daquele modo e juro, que me comportava o máximo, para não magoá-la. Ficava quietinho!

Com aquele aconchego que recebia, meus olhos lutavam contra o peso do sono, para continuarem abertos. Durante minhas tentativas de continuar com minha mãe ou descansar, fui vencido e acabei dormindo.

Perdendo o pouco tempo que tínhamos!

Fui acordado por uma falta de ar e uma tosse insistente, mas, eu não estava adoentado. Esfreguei meus olhos com o dorso da mão antes de me dar conta do que acontecia.

Fiquei assustado!

Havia uma espécie de bola alaranjada subindo pela parede e uma fumaça preenchia toda a sala. Vi mamãe deitada do meu lado e a balancei, enquanto corri com os olhos a procura de papai.

—Mamãe! Acorda mamãe!

Chamei uma, duas, três e somente pela quarta vez que fui atendido.

— O que foi querido?

— O que é aquilo?

Apontei para o que vi na parede e logo seus olhos se arregalaram.

— Fogo! Nossa casa está pegando fogo.

— O que faço mamãe?

— Onde está seu pai?

— Não sei.

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