Tomei seus lábios com pressa, quase o deixando sem ar, justo ele que não podia ter fortes emoções. Mas, meu desejo gritou alto e não me contive, eu não podia!
Foi foda demais passar anos perdidamente apaixonado e esconder meu sentimento, contudo, cogitando a hipótese de que talvez nunca mais fosse vê-lo sinto a necessidade de demonstrar, ao menos uma vez, tudo que eu trancafiava em meu peito.
Naquele instante não me importava com quem fosse chegar de repente e nos encontrasse ali, tão entregues, trocando um carinho. Talvez fosse breve o pouco que tínhamos e era injusto demais não dar a ele a oportunidade de saber que foi desejado como homem, querido como amigo e por toda minha vida o meu primeiro amor.
Minha cabeça estava uma confusão dos infernos, meu mundo se desfazendo pouco a pouco, eu conflitava comigo mesmo e pesava na balança o que mais me faltava perder.
Tive sorte, não nego!
Fui adotado por duas mulheres maravilhosas essas quais, eu podia orgulhosamente, chamar de mães.
Estudei em bons lugares, vivia confortavelmente, era um rapaz de vinte e seis anos que acabava de assinar um contrato espetacular que alavancaria minha carreira de modelo. Havia conseguido ser notado por uma grande agência publicitária e teria meu rosto, sendo espalhado pelo mundo inteiro, voaria alto!
Porém, senti minhas asas sendo arrancadas ao receber a fatídica notícia do avanço da doença de Arthur. Na verdade, eu sempre soube que sua saúde era fragilizada devido ao seu problema de nascença.
Entretanto, era o meu coração que precisava de grandes reparos!
Eu sentia como se uma bala ricocheteasse, infinitas vezes, dentro do meu peito. Como se o atingisse em todas as suas cavidades e o fizesse partir-se em pedaços incapazes de se recuperar.
Eu não queria ir para lugar algum onde ele não estivesse. Não tinha ânimo para as sociais que meu contrato glamoroso me obrigava ir, estava inerte em meu próprio espaço e perdido demais dentre as minhas emoções.
O coração de um jovem saudável, entre 15 e 20 anos, costuma bater no mínimo 60 e no máximo 90 vezes por minuto. Quando o coração bate fora deste ritmo, é uma arritmia cardíaca que deve ser avaliada por um especialista.
Não quero ser pessimista, mas, meu padrinho Hugo foi bem sincero e me disse que as chances dele são bem poucas e gostaria que fosse eu ali.
" Nunca pensei muito em como eu morreria, mas morrer no lugar de alguém que eu amo parece ser uma boa maneira de partir." Essa frase da Bella Swan do Best-seller Crepúsculo fica indo e vindo na minha cabeça. Ela nunca fez tanto sentido como neste momento em minha vida.
O que não daria para ser eu fadado naquele leito? De livre e espontânea vontade, se Deus me permitisse abdicaria da minha saúde se fosse para Arthur ficar bem. Para que ele pudesse viver!
- O que está fazendo, Guga? - Ele me perguntou pausadamente quando me afastei mal conseguindo falar.
- Eu te amo!
Disse com um alívio absurdo enquanto sentia meu coração pulsar frenético.
Seus olhos fitaram os meus e observei uma lágrima solitária deslizar por sua bochecha.
- Eu não deveria ter feito isso!
Ele balançou a cabeça em negativa e disse com a respiração entre cortada.
- Sempre quis isso!
Uma de suas mãos tocou os lábios e suas palavras soaram como música para meus ouvidos. Me sentia levitando, tocando os céus. Estava nas nuvens !
Porra! Ele queria tanto quanto eu. Como pude ter sido cego o bastante para não perceber isso?
Quando me dou conta estou estampando meu melhor sorriso e sentindo-me a pessoa mais especial.
Ainda assim, havia algo que eu precisava saber e minha curiosidade me fez perguntá-lo de uma só vez.
- Porque nunca disse nada?
- Jamais pensei que seria correspondido.
Ele era tão inseguro quanto eu e respondeu com uma dificuldade absurda que me senti um monstro ao fazê-lo falar.
- Você foi um bobo, Arthur!
Ele forçou um riso.
- E...u... te .... a...mo!
Nunca um selinho teve um gosto tão bom e me fez sentir-me, tão radiante, como agora. Ele me correspondia!
Foram as últimas palavras, que seus lábios sussurraram, antes de seus olhos se fecharem.
O aparelho ao qual, ele estava conectado, emitiu um som de apito e a equipe médica entrou, abruptamente, o carregando naquela maca até a sala de cirurgia.
Elevei meu olhar para o céu e cai ajoelhado, implorando que não fosse da vontade divina levá-lo.
Eu não suportaria!
Eu não queria dizer adeus, não poderia.
Fiquei ali, deitado naquele chão, me acabando em lágrimas. Me escolhi tanto e agarrei-me aos joelhos que acabei ficando em posição fetal!
Nunca me senti tão desprotegido, perdido e machucado. Como a vida pode ser tão injusta?
Arthur me amava também e nunca me dei conta disso e quando tomo ciência do seu sentimento somos separados da pior forma possível.
Me recuso a aceitar que é tarde demais. Preciso de outra chance.
_ Deus ! - Gritei em meio ao desespero que sentia. _ Não pode fazer isso comigo. Quantas pessoas que amo ainda vai me levar ? Onde está tua benevolência?
_ Guga !
Ouvi a voz de meu padrinho Hugo que ao abrir a porta e me encontrar no chão correu para me amparar em seus braços.
_ Não sou bom o bastante para Ele.
_ O que diz meu menino ?
_ Deus me detesta.
_ Não .Deus é amor!
_ Então, me explica a razão, que existe em tantas punições. Não suporto mais perder quem amo!
_ Muitas vezes, não entendemos suas vontades e acabamos fazendo um julgamento equivocado.
_ Você o defende, Dindo?
_ Arthur vai ficar bem. Ele vai sair desse hospital!
_ É uma verdade ou o que quer que eu acredite ?
Vi as lágrimas descerem pelas bochechas do meu padrinho e percebi que estava descontando todas as minhas frustrações sobre ele.
_ Me desculpa! Sei que está querendo me ajudar.
_ Tudo bem. Vamos fazer a única coisa que podemos nesse momento.
_ O que ?
_ Rezar!
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Feito para Você
DragosteGustavo sempre guardou, as sete chaves, o sentimento que descobriu ainda na infância. Seu primeiro amor aconteceu aos 9 anos e desde então permaneceu imutável. Primeiramente, acreditou que pudesse ser um delírio de sua mente fértil e que estivesse...