Sabe aquela família que não permite que a pessoa cresça, que não a deixa decidir, escolher, correr risco, errar? Então, não é a minha. Sempre fui motivada e estimulada!
Meus pais me criaram para que eu fosse independente e tivesse autonomia, para executar desde pequenas tarefas as mais complexas com sucesso. Eles repetiam diversas vezes o quanto eu era, perfeitamente capaz, de conquistar o mundo inteiro se quisesse.
Falavam e lembravam-me de como eu era uma garotinha forte, corajosa e criança como qualquer outra da minha idade que precisava brincar e ser feliz. Acho que na verdade, eles nunca se deram conta, que a maior felicidade era tê-los por perto!
Recordo do tempo em que passei no Criança Feliz e como numa simples manhã, enquanto brincava como de costume, no balanço tive a vida completamente mudada. Deus vive escrevendo certo por linhas tortas, ouço meu pai Murilo, dizer bastante essa frase e até adotei ela como o meu lema. Quem diria que ,depois de ter sido abandonada por minha família biológica, logo que receberem a notícia da Trissomia 21 receberia essa recompensa?
Eu não tinha apenas bons pais, não! Deus havia me presenteado com as maiores bênçãos que quem é deixado para trás poderia ter. No início, a rejeição me doía, como uma lâmina que corta e causa cicatrizes, porém, quando consegui enxergar que quem saiu ganhando fui eu. Apenas, agradeci!
Eu tinha dois pais, avós incríveis, tias maravilhosas que me deram um irmão mais velho, uma tia que parecia a pequena Sereia com os cabelos avermelhados, um tio bem engraçado e um pinguinho de gente que eu queria apertar as bochechas o tempo todo - eu era um perigo - mas, não resistia com tanta fofura.
Fui crescendo cercada de mimos, amor, proteção e carinho! Recebi tanto colo, cafuné, aconchego e abraços que tinha a sensação de viver no meu próprio Reino Encantado. O que mais uma garota poderia querer? Sinceramente, eu me sentia completa!
Quando terminei o ensino médio já estava decidida sobre minha profissão. Seguiria os passos do meu pai Hugo e cursaria medicina, porém, meu sonho era atender crianças e ter a chance de acompanhá-las em seu crescimento ou até mesmo salvá-las, assim como, haviam feito comigo.
Na escola, apesar de ser mais nova três anos que ele, eu tinha um protetor. Gustavo sempre me defendia no recreio das crianças maldosas que puxavam o prendedor do meu cabelo ou daquelas que davam um tapa na minha mão para que meu lanchinho caísse.
Perdi as contas das vezes em que Guga dividiu sua merenda comigo e dizia que estávamos fazendo um delicioso piquenique.Quando me sentia insegura, lá estava a mão dele na minha, me mostrando por onde eu deveria seguir. Era como se eu fosse um barco e ele o meu farol.
Quando ninguém queria brincar comigo na pracinha, por eu ser diferente ou me apelidavam com palavras feias, que me faziam chorar. Ele também estava lá, secando minhas lágrimas e me empurrando no balanço.
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Feito para Você
RomansGustavo sempre guardou, as sete chaves, o sentimento que descobriu ainda na infância. Seu primeiro amor aconteceu aos 9 anos e desde então permaneceu imutável. Primeiramente, acreditou que pudesse ser um delírio de sua mente fértil e que estivesse...