8- Ser mais do que o menos oferecido

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É incrível como as pessoas tendem  a olhar com olhos de piedade ou incapacidade quem é incomum

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É incrível como as pessoas tendem  a olhar com olhos de piedade ou incapacidade quem é incomum. Parece que somos extraterrestres ou algo do tipo bizarro, pisando em solo desconhecido.

Como é desagradável a sensação de não aceitação que nos passam e no quanto me sinto diminuída com isso. Entretanto, não me permito abaixar a cabeça ou recuar. Não darei gostinho para ninguém ou vestirei um cartaz de incapaz, quando sei, o quão longe desejo e posso chegar. 

Sento na primeira cadeira da fileira da frente e ouço pelas minhas costas cochichos e risadinhas. Pelo grupinho que faz barulho, sei que o assunto em destaque, sou eu! A garota desajustada que cursa medicina. Nunca fiz nada para a Michele, porém, ficou claro que ela nunca gostou de mim. 

Lanço um olhar de soslaio e percebo que um dos garotos me encara com um semblante de desaprovação. Gostaria de saber se pelo fato de ter me pego os espionando ou se pelo que está ouvindo? Tanto faz.Balanço a cabeça e prendo minha atenção na figura masculina de calças escuras e blusão amarelo que entra na sala carregando uma pasta marrom abaixo do braço. 

—Bom dia, Turma!

— Bom dia, Sr. Viana! 

O professor Augusto de Anatomia era o mais querido, sempre brincalhão, como ele me lembrava meu pai Murilo. Era impossível ficar triste em suas aulas e logo tratei de acompanhar cada um de seus ensinamentos e agradeci ao silêncio, que em todas as suas aulas, era algo pedido.

*

Havia conseguido uma mesa na cantina, perto das janelas, que davam para o pátio e comia meu bolo de cenoura com cobertura de chocolate quando ele parou na minha frente com uma bandeja nas mãos. 

— Oi! Flora não é? 

Assenti e ele continuou.

— Tem problema se eu me sentar aqui ?

Balancei a cabeça em negativa e o acompanhei se ajeitando na cadeira de frente para a minha. Estranhei que Miguel estivesse se sentando ali, ele era da patotinha de Michele e ninguém que andava com ela, se dirigia a minha pessoa.

— Lamento que talvez tenha ouvido o comentário das meninas na sala.

— Na verdade não ouvi. — Coloquei na boca mais uma garfada. 

— Já pedi que parassem com os comentários, porém, não tive muito sucesso.

— Acho que toda turma escolhe por ano um para Judas, não é ? 

— No início do ano letivo, até concordo com alguns trotes nos calouros, mas já somos veteranos. 

Ele deu uma mordida no seu pão de queijo e o reparei mais demoradamente. Sempre o achei lindo, entretanto, era como se ele fosse uma estrela. Sabe? Daquelas que a gente olha e contempla, mas sabe que não pode ter. 

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