Capítulo 2

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William

O sol brilhava sobre a metrópole, trazendo ânimo e um pouco de calor naquela manhã fria de inverno.

Recostado em minha cadeira giratória, eu analisava os mapas de alteração do campo magnético da Terra quando a porta da minha sala se abriu e Louise entrou afobada.

- William, está na hora!

Observei o semblante ansioso da jovem de olhos verdes e cabelos loiros ondulados, que havia conquistado meu coração há quase duas décadas.

- O que está na hora? - indaguei.

- Eles vão se encontrar, finalmente, a Júlia e o Ricky, quero dizer, agora Jaqueline e Vinícius. - Ela sorriu. - Ainda troco os nomes deles.

- Lou, você não é mais guardiã da garota. Não deve segui-la desse modo.

Louise fez uma expressão desolada.

- Eu sei que não sou, mas não tenho como não ficar ansiosa. Eu os amo. É um momento tão importante para eles e estou tão animada. Vem comigo?

Ergui uma sobrancelha. Eu também tinha um grande carinho por aqueles dois. Ricky, ou Vinicius, seu nome atual, se tratava de um grande amigo. Ele era como um irmão de alma, e eu estava torcendo pelo sucesso dele e da garota nessa nova jornada.

- Por favor - ela implorou com os olhos pidões.

Eu ri. Como negar algo àquela mulher?

- Está certo - concordei sorrindo. - Mas, agora?

- Ainda temos algum tempo. Você está muito ocupado?

Observei a tela colorida à minha frente.

- Eu não diria ocupado, mas...

Louise se aproximou para ver no que eu estava trabalhando.

- Está tudo bem? - Ela apontou para a tela com um semblante preocupado.

- Por enquanto, sim. Mas recebemos um alerta de tempestades solares que podem causar perturbações no campo magnético.

- Você acha que corremos o risco de abrir alguma fenda?

- Espero que não.

- Eu também espero que não. Agora você não tem mais o Ricky, quero dizer, Viny... - Ela fez uma pequena pausa diante da confusão de nomes e eu sorri. - Enfim, você não tem mais um caçador do nível dele para te ajudar. Na última grande fenda você quase esgotou suas energias... - Ela estreitou os olhos me repreendendo.

- Fiz o que precisava ser feito - justifiquei-me. - Não tenho o Ricky, mas ainda tenho a Zoe, e ela evoluiu bastante nos últimos anos.

Louise suspirou e me abraçou pelo pescoço por trás da cadeira. Eu entendia a preocupação dela. De tempos em tempos, o campo magnético da Terra sofria perturbações que possibilitavam a abertura de brechas entre o mundo espiritual e o terreno. Quando isso acontecia era um problema, pois ocasionava fugas em massa de almas presas no inferno, o que costumava dar bastante trabalho aos nossos caçadores. Além de ser complicado fechá-las.

- Fica tranquila, Lou. A tempestade solar não é tão intensa desta vez. Provavelmente não vai acontecer nada.

Como Arcanjo incumbido de zelar e coordenar as operações espirituais nesta região da Terra, eu tinha que ficar sempre atento a qualquer evento, natural ou não, que significasse um risco potencial aos humanos sob a minha responsabilidade.

Não era uma tarefa fácil ou simples.

As pessoas tinham seu livre-arbítrio e não nos era permitido interferir em tudo. Muitas vezes, a crueldade e a ambição dos homens causavam grandes estragos ao seu redor. Guerras, chacina, violência... Nosso trabalho, aqui na Terra, basicamente, era diminuir os danos e socorrer as almas sofredoras no meio dessa grande e criativa confusão chamada humanidade.

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