Capítulo 3

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Jaque

Meu primeiro dia de aula na escola nova foi de pura ansiedade. Segui para a sala que me indicaram na secretaria e, ao chegar na classe, perguntei para uma aluna que estava na porta onde havia um lugar vago.

A menina de cabelos loiros descoloridos e alisados me olhou de alto a baixo.

- Você é nova?

- Sou - concordei.

- Aqui no canto da parede. - Ela apontou. - Nas duas últimas carteiras não têm ninguém.

Agradeci e fui me sentar. Aff, que sensação horrível era aquela de chegar em um lugar e ter a impressão de que todo mundo estava olhando para mim.

Não sou uma pessoa que gosta de chamar atenção. Prefiro ficar na minha e não ser notada. No entanto, aquela não era uma opção. A sala foi enchendo e não tinha um aluno que não me encarava de forma curiosa.

Um rapaz alto, magro e de óculos se sentou na minha frente e se virou para mim.

- Você é nova na escola? Veio de onde?

- Do Santa Rosa - respondi.

- Ah, veio do particular. Sou o Heitor. - Ele se apresentou.

- Jaqueline. - Sorri ainda um pouco desconfortável.

- Quer trocar de lugar comigo? Sou mais alto que você.

- Aqui na parede não faz muita diferença, mas se você não se importar, eu prefiro mesmo sentar um pouco mais na frente.

- Não me importo. - Ele se levantou e eu também.

Nós trocamos de lugar e vi que à minha frente havia uma garota negra de cabelos encaracolados e descoloridos nas pontas, que, sentada de lado, sorriu pra mim.

- Oi, sou a Carol - ela disse.

- Oi, Jaqueline, mas pode me chamar de Jaque.

Nesse momento o professor, que descobri depois ser de matemática, entrou na sala e, assim que ele me viu, pediu para eu me levantar e me apresentar para os outros alunos.

Senti o meu rosto esquentar e, morrendo de vergonha, fiz o que o professor pediu. Ele me deu as boas-vindas, me perguntou qual era o assunto na matéria que eu estava vendo na outra escola e, finalmente, me deixou em paz.

No intervalo das aulas, mais alguns alunos vieram falar comigo e se apresentaram. Contudo, logo notei um grupo de três meninas olhando para mim, rindo e cochichando, o que me inquietou um pouco.

- Não ligue para elas - Carol disse se aproximando. - São umas chatas esnobes. Devem estar é com inveja de você.

- Inveja de mim? Por quê? Acabei de chegar.

- Primeiro, porque elas são assim mesmo, nojentas. Segundo, porque você é uma garota bonita. Aliás, adorei seu cabelo. Ele é assim mesmo? Ondulado só nas pontas? - Ela tocou neles e deslizou os dedos por uma mecha que ia até a minha cintura.

- Sim, é. Não faço nada no meu cabelo. Só corto as pontas de vez em quando.

- Está lindo do jeito que está. Espero que não entre na onda das meninas daqui que têm essa mania de fazer progressiva.

Sorri para ela. Aparentemente eu havia feito uma amiga, o que me tranquilizou um pouco e diminuiu minha ansiedade.

Meus olhos percorreram o pátio em busca do rapaz que eu tinha visto saindo da sala do diretor no dia anterior, porém não o vi em lugar nenhum. Nem naquele dia, nem nos dois seguintes.

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