Paralelas

Depois do beijo

Mais um quentinho pra animar essa sexta 

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Andrea 

Aquelas palavras duras foram um estopim para as lagrimas caírem, eu não queria que ela me visse chorar. Arranquei meus saltos na entrada da casa e no desespero não achei meu carro.

Então corri pela chuva que molhava meus cabelos, minhas roupas, lavando minha alma e misturando minhas lágrimas com a água que caia do céu. Não acreditava nas palavras duras de Miranda. Chorei pela minha inocência de achar que, talvez ela pudesse sentir o mesmo que eu sentia por ela.

Doce ilusão de uma garota apaixonada. Não deveria ter vindo até aqui e agora sei, se arrependimento matasse eu estaria morta.

Eu precisei extravasar, chorar e gritar toda a mágoa presente dentro do meu peito. Queria chorar o não implícito em suas palavras, o amor não concretizado, a ausência de seus braços. E por isso fugi, corri muito até achar um lugar para me esconder dela.

Achei um gazebo no meio da propriedade, era lindo, que com certeza seria perfeito pra me abrigar até a chuva passar. Era formado por quatro pilastras de madeira com pedras na base, o telhado de madeira, grandes sofás confortáveis dispostos na lateral rodeando uma lareira de pedra enorme. Um lugar bem romântico para se ter um encontro, o que não era o caso agora e pena não poder aproveitar, pois Miranda não colaborou nem um pouquinho.

Corri os olhos pelo local procurando por algo com que acender a lareira e achando fósforos em um cantinho. Coloquei algumas lenhas e enchi de gravetos, risquei o palito torcendo para pegar fogo logo e poder me aquecer. Após alguns longos minutos, finalmente as chamas crepitavam alto, aquecendo meu corpo e talvez conseguisse fazer com que as roupas secassem.

Ali olhando o fogo, comecei a refletir em suas palavras e sinceramente não conseguia aceitar o fato. O beijo tinha sido fantástico, suas mãos em minha cintura, seu calor, foi tudo tão perfeito mas qual era o problema então? Não é porque trabalhamos juntas que não podemos nos relacionar. Mas ela não acredita no amor, não acredita no que eu sinto. Ela deve estar me odiando agora.

O que Miranda não entende, é que mente pra mim, porque parece a melhor coisa a se fazer. Eu vi em seus olhos o quanto ela me queria, seu corpo me mandou todas as mensagens, mas ela negou todas.

Ouvi passos pisando nas poças de chuva e na escuridão não conseguia enxergar quem seria. Fiquei gelada de medo, meu corpo endureceu e tive que aguardar, pois não conseguia sair do lugar. E então ela apareceu, com o cabelos nevados ensopados, grudados na testa e no pescoço. Aliviada suspirei e relaxei meu corpo.

Ofegante me olhou e soltou:

-- Finalmente te achei!

-- Porque está me procurando Miranda?

--Porque precisamos conversar, eu sei que me excedi na forma como te trarei e quero me

desculpar. Você saiu nessa chuva forte, poderia ter caído, se machucado, ficado doente ou ser picada por algum bicho.

--Eu só queria ficar sozinha. Se arrependeu de ter me beijado? Foi tão ruim assim? – disse irritada.

--Debaixo dessa chuva? Poderia ter acontecido algo – me olhou arrependida.

--Mas não aconteceu, eu estou viva e inteira. E você não respondeu minhas perguntas.

Ela revirou os olhos e me puxou pela mão me fazendo ficar perto do fogo para me secar.

Pensei em como falar o que estava sentindo mas como não sou dessas, acabei soltando bruscamente:

-- Você me magoou Miranda, eu precisava espairecer e sair da sua zona de conforto. Não percebe as palavras duras que me disse?

Ela suspirou e encostou próxima a lareira retirando o casaco ensopado e o colocando para secar.

-- Você é uma garota talentosa, charmosa, linda, capaz e determinada. O beijo foi o melhor que já tive em toda minha vida, foi perfeito. Durante a vida toda você encontra milhares de pessoas e nenhuma delas te tocam. E então encontra uma pessoa e sua vida muda. Para sempre. Eu errei Andrea e quero consertar as coisas. Dentro de mim há um turbilhão de sentimentos que preciso resolver, minha vida esta um caos e eu não quero te envolver nisso e eu já tomei minha decisão.

Oh boy, isso não era real!!!

--Miranda, você precisa entender que você ainda é você! Você ainda existe, independente do que passou. Do que você sofreu e a vida continua e é linda.

-- Me precipitei em ter beijado você Andrea. Isso foi um erro.

--Isso não foi um erro, você quis tanto quanto eu. Quero que saiba que eu correspondi ao seu beijo porque também te quero. Mas não posso querer sozinha.

Frustrada, me aproximei da lareira, minha blusa estava colada e eu não poderia tirar para secar, como ela fez com seu casaco. Reparei que seus olhos baixaram até onde a blusa colava em meus seios e minha barriga. E passou a língua pelos lábios rapidamente. Eu sabia que ela me queria, eu não estava enganada. O que a fazia vacilar e não se entregar, já que estava claro que existia o desejo e os sentimentos?

--Miranda, você uma mulher maravilhosa, linda, perfeita, super competente e incrivelmente sexy. Eu seria uma tola se não sentisse nada por você.

Olhando para a chuva que caia a nossa volta ela fez um meio sorriso. E eu me senti vitoriosa e decidi então arriscar ou nunca a teria de verdade.

Fui me aproximando e olhei bem dentro daquele mar azul dos olhos dela.

--Não se precipitou, sabia exatamente o que estava fazendo.

Ela me encarou enquanto eu me aproximava e invadia seu espaço pessoal. Coloquei as mãos em seu rosto, lhe olhei profundamente tentando expressar tudo que estava sentindo e disse:

-- Eu não sei aonde chegaremos com isso, mas eu não consigo me segurar mais. E então eu a beijei.