Miranda
"Ela não era fria, mas aprendeu a preservar no gelo todos os seus sentimentos" Felipe Rocha @tipobilhete
Depois do divórcio, passei momentos muito conflitantes de sentimentos e resolvi tirar uns dias para mim, afastada de tudo. Frustração por mais um casamento acabado, mais um pai para as meninas que se vai. Outra desilusão por mais um marido que me trai, outras dores e revolta. Eu estava sufocada e o estresse com a imprensa era tamanho que eu não conseguia mais suportar.
Minhas filhas eram constantemente seguidas por paparazzis e pedi que passassem um tempo com o pai, pelo menos até a poeira abaixar e não nos importunarem mais.
Chorosas, me disseram para ter calma, ter esperança e não desistir de encontrar um amor. Pensar em amor é perda de tempo, pois o amor ideal é quase um devaneio.
Vendo os dias passarem, fico cada dia mais descrente até porque o amor nunca resolveu meus problemas. Amo o concreto, o tangível que é o meu trabalho e minhas filhas. Eu amo a Runway e dediquei anos de minha vida para o crescimento da revista, para torna-la referência de moda no mundo todo.
Mas neste momento era necessário sair de cena por uns dias. Eu necessitava de um tempo para organizar minhas idéias.
O que eu sentia era bem explicado por terapeutas, era rejeição. Costumeiramente é causado por inúmeras experiências negativas. A maioria das pessoas nos levam a acreditar que merecemos sermos rejeitados. Com o abalo emocional vem a vontade de se isolar. Pois qualquer um que se dirija a você ou que se preocupe, vai parecer raso, falso, cheio de comiseração.
Você desconfia dos sentimentos de todos, das boas intenções, da amizade, do amor ou de qualquer outro sentimento e que gera uma agressividade latente, repudiando qualquer ato de carinho como se fosse algo asqueroso.
E então a culpa vem de uma forma brutal, as lágrimas caem quentes pelo rosto como se fosse um rio caudaloso, o coração dói como se estivesse sendo esmagado dentro da caixa torácica, a culpa deixando o peito sem ar, como se fosse possível.
Você se isola, sem vontade de conversar e nem de expor os sentimentos, pelo menos até digerir tudo isso. Suprimir dentro do peito a rejeição para continuar vivendo, suprimir a dor, as mágoas, as palavras que machucam.
Sim, eu precisava desse tempo, precisa sair deste vale escuro, dessa tormenta que me invade a alma e com alguns gatilhos sempre volta à tona.
E por isso me isolei. Optei por me resguardar em minha casa de campo e tentar aplacar essa dor até estar pronta pra voltar, sendo novamente a rainha de gelo. A que todos temiam mas que mal sabiam de toda dor guardada.
Enquanto eu processava tudo isso, a tranquila paisagem do parque Delaware passava diante dos meus olhos, eu dirigia até minha casa de campo localizada em um tranquilo vale da floresta, dentro do parque, não muito longe de NY e umas 3 horas dirigindo. Tinha uma vista linda para um dos principais rios da região, onde se praticam esportes aquáticos, pesca, aventura ao ar livre, entre outras coisas.
E hoje à tarde estava maravilhosa, o sol se punha no horizonte, com algumas nuvens avermelhadas contrastando com as águas escuras do Rio, em uma típica tarde de outono. Eu nunca tive muito tempo para apreciar a natureza, mas este período isolada seria perfeito para isso, fazer o que sempre tive vontade, relaxar e apreciar a natureza em toda sua magnitude.
Comprei essa casa quando namorava com Steven e viemos ao parque somente três vezes, por falta de tempo e de nunca conciliarmos nossas férias.
Quando cheguei na entrada da propriedade, o portão de ferro pesado se abriu me dando passagem, meus dois funcionários: Roy, meu mordomo e Cara minha cozinheira, já estavam de prontidão em frente à belíssima casa.
A casa estava impecável como sempre, Roy e Cara eram excelentes em seu trabalho. Assim como Andrea, sempre adivinhando o que eu quero antes que eu peça. E me pego pensando nela, assim em como todos os dias anteriores a este, em como gosta de agradar e em ler meus pensamentos. Andrea vibrava, produzia, exaltava, antecipava tudo com muito arrojo, colocando brilho e dinamismo em tudo.
Ou seja, de uma competência que a muito tempo não via igual. Ela amadureceu muito na Runway, desabrochou a olhos vistos, aprendeu a se vestir e achou seu próprio estilo, que valorizava muito seus belos traços.
Seu cabelo castanho escuro emoldurava o rosto fino, com sobrancelhas bem desenhadas e grandes cílios e intensos olhos castanhos. O nariz era fino e os lábios carnudos me faziam suspirar, quase pedindo para serem beijados. Um sorriso que se perde na boca sempre que me via. As roupas bem escolhidas valorizavam seu corpo, o qual eu sempre analisava minuciosa e criteriosamente, com algumas ressalvas que me faziam salivar.
Neste momento meu coração geralmente errava uma batida, pois ela sempre abria aquele sorriso de quebrar qualquer geleira e sempre saia rebolando da minha sala para minha agonia. Andrea me deixava tonta com a sua intensidade, e se não fosse meu medo de ser rejeitada eu arriscaria uma relação.
Divagando sobre meus sentimentos e desejos pela minha segunda assistente, subi para meu quarto para preparar um banho de banheira, enquanto Roy trazia minhas malas.
Liguei a água quente e deixei encher enquanto separava uma roupa confortável para usar antes do jantar. De banho tomado e já mais calma, desci para tomar uma dose de whisky e abrir meu apetite antes do jantar. Para minha surpresa, Roy me avisou que Andrea estava chegando na propriedade. O que essa menina tola veio fazer aqui? Eu deixei bem claro para Emily que eu não queria ser incomodada.
Será que eu não teria sossego para organizar minhas ideias e esse rebuliço de emoções, de mágoas, culpa, rejeição e desejos?
Teria mais uma vez que olhar nos intensos olhos castanhos, no brilho do olhar e no sorriso dela. E o que eram esses desejos?
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Paralelas
FanfictionMiranda Priestly decide tirar um tempo para si em sua casa de campo, para repensar sua vida depois do divórcio com Stephen e a atração crescente que sente por sua assistente. Andrea Sachs chega de surpresa para ver Miranda a pedido da advogada, muda...