Katathorium

Euforia

Em um novo lugar do Katathorium, ouviu-se o arquejar de um menino.

Keiha Mishima chorava uma única lágrima.

Deixando-a correr por seu rosto, a permitia deslizar sobre seu semblante espantado, revelando seus olhos arregalados e boca semiaberta a respirar em um leve ofegar.

A lágrima solitária uniu-se ao solo, enfim, ao nele tocar.

Keiha olhou ao redor.

Recompondo-se do choque, pôde ouvir o som de uma flauta à distância.

Uma doce melodia, em um timbre tão característico, aproximava-se. Keiha levantou-se, ainda com seu corpo fragilizado e a tremer, de sua postura de lótus. Aos poucos, controlava sua respiração, para poder escutar o som. Caminhando sem muito saber onde estava, ele viu árvores grandes; uma grande floresta pintada de tons amarelos e verdes.

Estranhamente, naquele lugar, os raios de sol ainda existiam, traçando seu caminho através das copas e alcançando seus doces olhos azuis.

A música chegava ainda mais perto.

E então, parou subitamente.

Apenas para que uma voz aguda e infantil se revelasse:

"Hey! Aqui em cima!!" disse, do alto.

Keiha buscou pela origem do som e o encontrou: vagando pelos galhos das árvores, estava alguém. 

Um garoto de cabelos loiros bastante volumosos e desgrenhados, como se pouco se importasse de penteá-los. Bem no meio de seu rosto, uma marca do Gênesis, o característico losango preto. A Motus Marcam do garoto espalhava-se por seu rosto como marcas tribais, desenhando-se por suas bochechas. Seus olhos eram como a cor do mel.

Suas orelhas eram felpudas e macias, como as de um feneco. Ele também tinha uma cauda.

Suas roupas eram como as de um Guardião Lacrimal, em branco, porém, sua vestimenta possuía um estilo característico, vestia-se como um nativo; vindo da natureza, e com adereços em dourado e amarelo. Tinha uma pena de Motus sobre uma de suas orelhas. Ele carregava uma flauta de pan que irradiava um característico amarelo brilhante...

Sua Gun Lacrimam.

"Olá..." cumprimentou, Keiha, já a sorrir. "Que bela música..!"

"Muito obrigado, muito obrigado! Eu sei, eu sei, eu tenho o jeito pra coisa, não acha!?" risonho e malandro, o garoto-feneco ria de alegria. "Bem-vindo à Floresta da Prosperidade! Eu sou Allegro e serei seu companheiro durante essa provação!!"

"Muito prazer, Allegro. Eu sou Keiha Mishima." respondeu.

"É, eu já sei disso, mané!" ele gargalhou, sorrindo muito com os olhos, deitando-se sobre o galho em que estava.

Keiha sorria graças a contagiante felicidade do menino. Ele perguntou:

"E o que eu devo fazer nessa provação?"

Allegro sorriu, mostrando seus dentes. Seus caninos eram afiados. Ele saltou alto, agarrando-se pelas árvores e tocando sua melodia, até que chegou ao chão, bem à frente de Keiha, ao fim de sua apresentação:

"Brincar comigo!"

Keiha sorriu, em animação, infantil:

"Ah! Certo..! E do que vamos brincar?"

...

"Espera, eu disse brincar? Eu quis dizer brigar!!"

Em um avanço imediato, Allegro empunhava sua Gun Lacrimam: a flauta de pan dividia-se em oito partes; oito lâminas. Em um ato de puro instinto, no mais incrível reflexo, com um arregalar de olhos repentino, Keiha Mishima derramou sua lágrima e, com um único corte diagonal, quase caindo para trás, bloqueou o golpe vindo do garoto brincalhão:

"O que?!" recuando, já com sua arma guiada por seu indicador, Keiha espantou-se um pouco.

"Relaxa, amigo! É só uma brincadeira! Vamos lá, é necessário pra se provar!" riu Allegro. "Siga os meus passos!!"

A Gun Lacrimam do menino de orelhas felpudas voltava a seu estado original, para que ele a pudesse tocar. Soprando por seus furos, formava bolhas como as de sabão, em um cintilante amarelo. Elas cresciam, tornavam-se mais densas e voavam. Repentinamente, iam na direção do guardião em treinamento.

「Motus Liberação: Minha Felicidade!! 」

Em um poderoso crescendo, as bolhas tornavam-se enormes, fazendo grandes sombras sobre seu alvo.

「 Kagayaku Iki!! 」

Keiha não se amedrontou. Preparou-se, correndo em direção às bolhas com um sorriso no rosto. Sentiu-se feliz. Com vontade, como uma criança o faria, as golpeava com cortes diagonais, horizontais e verticais, partindo-as, Feito isso, todavia, essas não estouravam, multiplicavam-se em partes menores.

Allegro ria, em genuína diversão. Juntando-se à brincadeira, manobrava-se no ar ao saltar por cima das bolhas, fatiando-as com sua própria Gun Lacrimam. Em uma verdadeira festa, Keiha e seu mais novo amigo riam. O festival de bolhas amarelas e brilhantes subia em direção aos céus...

O menino-feneco usou mais uma vez uma de suas bolhas como trampolim, para avançar na direção de Keiha, o surpreendendo e o golpeando com suas lâminas, apenas para ser contra-atacado novamente. Os dois sorriram, começando a trocar golpes que não os acertavam:

Dançavam.

Como fogos de artifício, as bolhas aos céus finalmente se rompiam, criando um espetáculo de luzes coloridas que os enchiam de alegria. Em euforia, Allegro tocava sua música e continuava a bailar com Keiha, em seu combate amigável; rodopiavam.

Rindo e girando, Keiha não podia conter sua felicidade. Ria como uma criança, fechando seus olhos e chorando lágrimas de alegria.

O som vindo da Gun Lacrimam de Allegro dissipou-se, até que não pôde mais ser ouvido.