Em algum canto do Katathorium, ouviu-se o suspirar de um menino.
Keiha abriu os olhos.
O rapaz de olhos celestes teve seu corpo reconstruído em um lugar somente imaginado em suas ideias mais fantásticas. Respirou com calma, imitando o ritmo da água; água que estava ali, à sua frente. Sua cor em um saturado tom de ciano saltava aos olhos, complementando o resto da paisagem natural em tons de verde, marrom madeira e branco na qual se encontrava:
Rochas claras meticulosamente esculpidas pelas mãos mais delicadas que podiam haver no universo; além da Terra. Uma obra do divino. Ouvia-se o som de cachoeiras.
"Bem-vindo às Cataratas da Concórdia, Mishima-san." disse uma voz familiar.
Rodeado pela imensidão de Motus em forma de água que caía por todos os lados, estava Keiha. À sua frente, a figura de uma garota vestida de longas mangas brancas esperava pacientemente: Shizui.
O rapaz caminhou até ela, com seus pés descalços, pisando sem muito jeito pela água, rocha e musgo:
"Shizui-san..! Onde está Satou-senpai?" perguntou, olhando ao redor, apreciando a beleza do cenário.
"Em Serenata. Agora, Umegaki-san é um Guardião Lacrimal, como você também será ao concluir suas provações." ela sorriu. "Venha... Vamos começar." Seguindo para uma grande rocha que havia ao epicentro do lugar, deu as costas a Keiha.
O jovem fotógrafo amador não a questionou, somente a acompanhou. Juntos, sem demora, subiram e sentaram-se em cima da pedra, em postura de lótus:
"Muito bem, Keiha. Sejamos breves. Não podemos perder muito tempo. Caso esse lugar não o traga seu despertar, você seguirá em até outras cinco etapas até que floresça em seu corpo sua Motus Marcam."
"E o que devo fazer?"
"Sinta."
Keiha fez silêncio, olhando para o céu e para as massivas quedas d'água. Ao trazer os olhos de volta para a direção onde estava Shizui, viu-se sozinho.
Pôs-se a meditar.
De olhos fechados, concentrava-se em sua respiração, na tentativa de desvincular-se de todos os pensamentos que podiam o atormentar. Ouvia o som dos fluxos de água por todos os cantos. Com o objetivo de alcançar sua serenidade, Keiha entrou em uma luta constante e duradoura dentro de si mesmo: como o aprendiz que era, podia ver uma única gota de água cintilante a dançar na escuridão, em um vazio profundo. Aos poucos, seus movimentos intensificavam-se ao que o rapaz tentava se livrar de todo o que havia em sua mente.
O som da água refletia na imagem de uma singela lágrima flutuante a qual encolhia como se vaporizando-se. O som cada vez mais alto da queda d'água transformava-se em ruído aos ouvidos do jovem Mishima. Ouvia gritos; ouvia dor. Cada vez mais alto. E mais alto.
Keiha estremeceu. Sem conseguir manter todo seu foco, teve sua mente invadida. Um distúrbio causado por alguém ou algo. Podia enxergar a destruição acontecer na Terra. As pessoas, fora de controle, tornavam-se verdadeiras bestas irracionais; agentes do caos. Em um flash, nas profundezas da mente do rapaz, sua lágrima imaginária colapsou na forma da cabeça de um ser maligno. Sem olhos, rugia. O som propagou-se por sua mente em múltiplas camadas, simultaneamente em um estridente agudo e no mais poderoso dos graves. Uma catástrofe.
Keiha arquejou em espanto: abrindo seus olhos, derramou uma única lágrima.
E viu-se em um novo lugar.
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Katathorium
AventuraKeiha Mishima é um jovem estudante universitário apaixonado pela arte da fotografia. Ao meio de uma misteriosa crise global de surtos emocionais, Keiha é surpreendido por uma oculta face da realidade conhecida como "O Katathorium", que passa a se ma...