Primórdio

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Os rapazes não eram capazes de tirar de seus rostos a mais pura e genuína contemplação.

Tomados pela suprema sensação reconfortante da imensidão emocionante, não falavam.

Keiha desprendeu-se de Satou com cuidado, para dar alguns passos à frente, segurando seu braço com aquele que podia mover. Sem tirar os olhos da vasta paisagem, pisou na grama pintada em seu característico azul bioluminescente.

E derramou uma lágrima.

"Oh..!" percebeu Keiha, olhando de canto para a bochecha por onde escorria sua emoção.

Passando o dedo indicador sutilmente por cima dela, a enxugou e fungou uma vez.

Quando foi surpreendido por Satou:

"O que é isso?! O que está havendo?!" ouvia-se a voz do veterano, incrédulo.

"Hm?" sem entender a reação de seu superior, o aspirante a fotógrafo virou-se na direção dele, apenas para espantar-se tanto quanto ele:

Satou podia guiar uma pequena gota brilhante a flutuar sobre a ponta de seu dedo indicador. Sem entender, ele fazia de tudo para tentar desfazê-la, balançando a mão agressivamente, tentando expulsa-la.

"O que..?" confuso, Keiha observou Satou por um momento.

Foi então que percebeu.

Num instante, os olhos do rapaz entregavam sua desconfiança e pressentimento assustado. Instintivamente, olhou na direção de seu dedo, com seu braço abaixado:

Sua lágrima estava lá.

Espantado, paralisou. Sua respiração falhou por um segundo, puxando mais ar para dentro do que o quanto expirava a seguir.

Ele sorriu, encantado. Devagar, trouxe sua mão, mantendo seu indicador levantado, até à frente de seu rosto. Assim, observou o sublime.

Keiha deixou escapar o resto do ar por pura emoção. Não podia acreditar no que estava vendo.

Usando sua mão como um regente o faria, conduzia sua própria lágrima em uma elegante dança no ar. Seus movimentos deixavam um breve rastro que se dissipava pouco depois.

Satou, tendo desistido de rejeitar sua lágrima, percebeu a ação tomada por seu amigo e intrometeu-se:

"Keiha! O que está fazendo? Ei!"

O rapaz fingia não ouvir. Prosseguia com sua performance, desenhando no ar com sua nova descoberta, sorrindo. Era como se todas as suas dores houvessem desaparecido.

"Ei..! Keiha!" insistiu, Satou.

"Eu estou me divertindo, Satou-senpai..!"

Ele se virou, sorrindo com os olhos, na direção de seu mentor.

"E você devia, também!"

O alívio que estava em Keiha encontrou-se com Satou; um sopro de vida.

Ao meio da imensidão azul da planície em seu florescer de estrelas, os dois garotos passaram a correr. Corriam juntos, risonhos e despreocupados; simples. Perseguindo um ao outro, ignorando toda dor e amargura, sentiam a mais bonita tranquilidade se propagar dentro de seus corações e espalhar-se por todo o seu ser. Eles seguiam enfeitando os céus e o espaço com os rastros de suas lágrimas luminosas e flutuantes tingidas de ciano e naval; Keiha e Satou, respectivamente.

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