História ganhadora do Wattys 2019 🏆
Alfinetadas, piadas de mau gosto e sorrisinhos irônicos: é assim que as coisas funcionam na realeza adolescente de Shepherd High. Não há uma alma inocente nesse grupo totalmente clichê composto por patricinhas...
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No interior do salão luxuoso, um silêncio sepulcral perdurava entre os presentes. Lá dentro, todos aguardavam de pé o início da cerimônia. O chão era muito limpo e as paredes cinzentas sustentavam arranjos de flores brancas. No fim do corredor, havia um caixão de madeira aberto, onde apenas um véu fino cobria o corpo do jovem defunto.
Madison estava junto à porta, vestida de preto. Ela não queria entrar. Conhecia aquele lugar porque já estivera ali antes: era o funeral de Quentin Cashwell.
"Não, de novo não" ela queria falar, mas não encontrava a própria voz.
Sua boca não a obedecia, assim como o resto de seu corpo. Cada músculo pesava uma tonelada e a ausência absoluta de qualquer som penetrava seus ouvidos como algodão. O pânico se espalhou por seus pensamentos como sangue na água. Algo de muito ruim estava prestes a acontecer e Madison queria fugir para bem longe dali o quanto antes.
Quando achou que as coisas não poderiam piorar, um rosto conhecido surgiu ao seu lado. Bane Decker usava uma combinação modesta de terno e gravata, ambos escuros. Ele sorria para ela. Era um sorriso triste, que não alcançava seus olhos azuis.
Os, para sempre vidrados, olhos azuis.
Madison sentiu que poderia desmaiar. Aquela cena estava além de qualquer explicação racional que pudesse conceber, desafiava a lógica e tudo aquilo que havia experienciado nos últimos dias.
— Venha, Madison — Bane lhe estendeu a mão. — Só falta você.
"NÃO" seus lábios tremeram, quase se moveram dessa vez.
De repente, ela percebeu que, no fundo do salão, o caixão se encontrava tão aberto quanto vazio. Poderia jurar que, momentos atrás, o corpo de Cash repousava ali, preparado para o descanso eterno.
O coração de Madison batia em um compasso de puro terror.
"Onde está?" queria perguntar "Para onde ele foi? Onde está o Cash?".
Desespero fervilhava dentro de Madison enquanto procurava uma saída. Moore sabia que precisava correr, mas ao invés disso fechou os olhos.
"Isso não é real. Isso não é real. Isso não é real."
Quando abriu os olhos novamente, ela estava em casa, na mansão dos Moore. O fogo estalava na lareira e um par de braços fortes a abraçava. Um perfume masculino familiar tomou seu nariz. Era o cheiro de Cash. A pele dele estava quente e macia debaixo de seus dedos. Lágrimas de alívio correram por seu rosto.
— Eu não acredito nisso — ela soluçou, abraçando-o de volta. — Você não é real.
Cash estava vivo e respirando, por isso, ela sabia que aquilo era um sonho.
— Tudo bem — franziu o cenho em confusão. — Eu sei que sou bonito demais para ser verdade, mas você está exagerando.
Madison secou as bochechas com as costas das mãos e voltou a olhar para ele. Sobrancelhas fortes, olhos castanhos brilhantes e uma boca inclinada em um sorriso arteiro. Cash estivera em sua casa tantas vezes naquele verão que aquela poderia muito bem ser mais uma tarde de sexta em que não tinham nada para fazer. Estavam ajoelhados em frente a lareira, sobre o tapete caríssimo de sua mãe. A única diferença daquele sonho para a realidade era que Madison tinha consciência de que, na vida real, ele estava morto há dias.