Sixty Four

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Poin't View Anna Julia.

Eu já tinha percebido a presença de alguém assim que descemos do carro, fiquei pensando que era paranoia minha, até um barulho suspeito nas árvores e Esther falar, comecei a me preparar, roubar aquele jogo de facas de arremesso foi a melhor coisa que eu já fiz, eu era boa com uma arma ou em uma luta corpo a corpo, mas arremessando uma faca eu era muito melhor. Contei as passadas dele, sim eu sabia que era um homem pelo peso da passada e o barulho que fazia, segurei a respiração para ouvir melhor, mas nem foi preciso, ele fez um leve barulho entre os arbustos, como uma das facas já estavam preparada na minha mão, eu joguei, não sabia se acertaria para matar, mas ele iria denunciar a posição dele de alguma forma. Ele gritou, deixei outra cair pela manga da jaqueta e fiquei esperando, estava escuro, atirar seria um grande erro para eles, ficamos todas quietas, Lud estava com a arma abaixada para não revelar que estava armada, Esther estava atrás de mim.

- Anna?! - A voz saiu gemida do meio dos arbustos.

- Parece com a voz do Eduardo. - Esther falou e quando ela ameaçou sair de trás de mim, eu a segurei e balancei a cabeça negativamente, fiz sinal para ela ficarem alertas.

- Por que não se identificou antes?

- Você não me deu tempo, eu espero que a Brunna esteja com vocês. - Ouvi passos de outra pessoa. - Se identifica antes que ela te dê uma facada. - Ele gritou.

- Oliveira, sou eu. - Era Vanessa, foi aí que eu finalmente relaxei. Brunna e Esther correram em direção aos arbustos para ajudar o Eduardo e Vanessa veio ao nosso encontro, ela estava horrível, parecia não ter dormido direito, mas ainda assim tinha um sorriso meio triste no rosto. - Fico feliz que vocês estejam bem.

- Vanessa, obrigada por me salvar. - Lud disse abraçando-a. - Não tive tempo de dizer isso antes, porque eu estava inconsciente.

- Vai ficar sentimental agora, Lud? - Elas soltaram o abraço, algo em mim dizia que tinha alguma coisa errada.

- Onde estão os outros? - Ela virou o rosto e meu coração disparou. - Vanessa, cadê o resto do pessoal? - Minha voz saiu mais alta, eu não queria gritar, mas só de pensar que algo poderia ter acontecido, eu ficava nervosa.

- É, algo aconteceu. - Ela levou as mãos ao rosto e começou a chorar, Lud me olhou com lágrimas nos olhos também. - Eu... não sei... foi tudo tão rápido... troca de tiros... - Eu não sabia o que tinha acontecido, mas algo em mim me dizia que era algo ruim, me aproximei dela e a abracei, ela soluçava no meu ombro, a dor física não se fazia presente. - Ele ficou para nos salvar... o Kania... ele... - Ela não conseguiu terminar a frase, ouvi Lud chorar ao meu lado, eu ainda não conseguia acreditar, ele não podia ter morrido, as lembranças começaram a vir com força, às vezes que estávamos rindo, as brincadeiras, os desafios idiotas, tudo o que fizemos, foi como um filme passando em câmera lenta e a voz dele ecoou para mim como se ele estivesse ali ao meu lado; "tudo vai ficar bem, Nana." Por que eu não conseguia chorar? Eu estava sentindo tanta dor, mas não consegui expressar nada. - Rodrigo também não conseguiu. - Aos soluços Vanessa conseguiu falar.

Foi como se o mundo parasse para mim, meus dois amigos, minhas irmãs, não era possível, passamos por tantas coisas juntos e sobrevivemos, por que agora? Por quê? Levantei o rosto por um segundo e vi Esther chorando atrás de Vanessa, quando percebi Brunna abraçava a Lud e Eduardo estava de cabeça baixa. Eu estava me sentindo sufocada pela dor, eu precisava extravasar, soltei o abraço de Vanessa com um pouco de violência, mas eu precisava sair dali, as lembranças, os momentos compartilhados, eu queria que Vanessa começasse a gargalhar falando que era uma de suas brincadeiras, mas eu sabia que não era. Então, eu fiz algo para extravasar toda a minha dor, toda a raiva que eu sentia, eu corri para longe deles, não sei o quanto eu corri ou para onde corri, estava escuro, eu cheguei a margem de um rio ou lagoa, não lembrava que aquela casa tinha aquilo. A dor agonizante dentro de mim queria sair de alguma maneira. Um grito saiu com toda a força que chegou a queimar meus pulmões, eu cai de joelhos e agora as lágrimas caiam com violência, eu comecei a socar o chão, eu queria externar minha dor de alguma maneira, apenas chorar não era o suficiente para lidar com toda aquela dor e raiva que estavam dentro de mim.

The MissionOnde histórias criam vida. Descubra agora