Sixty Seven

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Estava ali parada olhando para Calixto sem reação, sentia a presença masculina alta ao meu lado, mas não consegui entender mais nada, meu pai estava vivo, eu deveria estar feliz, mas eu não sabia o que sentir, se sentia ódio por ele ter me deixado naquele orfanato ou se sentia felicidade por eu finalmente poder conhecer meu pai, depois que descobri que meu pai de verdade era um "bom" homem e não aquele maldito, parte de mim ficou em paz, uma parte que a muitos anos vivia atormentada. Ouvi a cadeira fazer barulho e ele se sentou à mesa com a gente. Respirei fundo, era uma das formas de tomar coragem para virar e ver o rosto do meu pai, mas quando olhei para ele, seu rosto já era conhecido por mim, o que me deixou ainda mais surpresa.

- Eu sei que você tem muitas perguntas, mas não podemos conversar aqui. - Calixto falou olhando para o relógio. - Nós encontre em quinze minutos num estacionamento que fica a duas quadras daqui.

- Se for uma armadilha, você já sabe. - Me levantei e fiz sinal para Vanessa parar de apontar o laser, sai de lá atordoada, minha respiração começou a falhar e eu comecei a tentar puxar o ar, mas parecia que ele não estava ali, senti meu coração palpitar assim que entrei no carro.

- Anna, o que houve? Meu Deus, você está muito pálida. - Ela pegou o celular, bem desesperada. - Brunna, a Anna está pálida, sua respiração está fraca, o que eu faço?... Tá. - Ela abaixou o banco e eu estava tentando controlar minha respiração, eu não podia ter um infarto ali. Senti Vanessa colocar a cabeça no meu peito. - Você está com dor, Anna? - Eu não conseguia falar, apenas neguei. "Respira e inspira", minha respiração foi voltando ao normal e eu ajeitei o banco. - Graças a Deus ela está voltando a cor normal. - Vanessa parecia bem assustada.

- Dirige. - Falei ainda com um pouco de dificuldade. - Estacionamento... duas quadras... vai. - Falei e coloquei a mão no coração, precisava me certificar que ele não estava parando.

- Você está bem? - Vanessa perguntou desviando rapidamente os olhos da estrada.

- Estou. - Me sentia muito melhor agora.

- O que houve lá? - Ela perguntou.

- Meu pai está vivo. - O carro dançou na pista e algumas buzinas puderam ser ouvidas.

- Puta que pariu. - Ela acertou o carro na pista. - Que loucura... eu não sei nem o que dizer. - Ela falou boquiaberta.

- Nem tem o que dizer. - Eu abaixei minha cabeça lentamente e fiz pressão na minha nuca, geralmente quando minha cabeça se enchia de pensamentos isso ajudava a aliviar, mas hoje isso não estava funcionando. - É muita coisa acontecendo, Vanessa, eu acho que vou pirar. - Senti o carro parar.

- Anna, olha pra mim. - Eu continuei na mesma posição. - Olha pra mim, Anna Julia. - Ela me sacudiu e eu levantei a cabeça.

- Eu não sei o que fazer Vanessa, eu não sei lidar com isso. - Minha respiração começou a pesar.

- Se você não conseguir lidar com isso, todos nós vamos morrer. - Ela falou séria, soltou a respiração e abaixou a cabeça negando. - Anna, precisamos de você, estamos... eu estou tão perdida. - Levantei a cabeça. - Perdemos o Rodrigo e o Kania, estamos sem rumo e sem saber o que fazer. Emily ta arrasada e a Natalie... ela está grávida. - Pela primeira vez minha mente ficou em branco, eu não conseguia pensar ou assimilar nada.

- Caralho Vanessa e agora? - Foi a primeira coisa que eu consegui dizer e ela começou a gargalhar.

- Parece até que eu falei que você era o pai. - Ela parou de rir. - Mas eu te entendo. - Ela deu dois tapinhas nas minhas costas. - Anna, eles devem estar te esperando.

- É. - Respirei fundo e abri a porta do carro.

- Quer que eu vá com você? - Eu apenas neguei.

The MissionOnde histórias criam vida. Descubra agora