Cão infernal - Capítulo 1

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Dia 1

Hoje será o último dia de aula, antes de entrarmos de quarentena. Na realidade, nem teremos aula, só vamos ficar na escola até a hora do almoço e depois seremos dispensados. Os professores irão explicar como as aulas vão funcionar, depois vão distribuir alguns materiais necessários e por último explicar maneiras de nos prevenir do vírus CWD. Dizem que existe uma cura quase pronta na China, mas não sei se acredito. As mortes aumentam cada dia mais, e os infectados ficam com uma aparência horrenda.
-Sabe o que você deveria fazer hoje? - Yumi perguntou, me tirando de meus pensamentos. Estamos a caminho da escola, e nosso silêncio é de certa forma, assustador.- Não vamos poder ir para escola por muito tempo, então você não vai poder mais ficar flertando com o Hyunjin através de olhares. Você deveria pedir o número dele, para vocês conversarem por mensagens.- Essa é a minha gêmea, estamos no meio do fim do mundo e a ideia mais genial dela até agora foi essa.
- Eu não flerto com ninguém, eu nem sei fazer isso.- Isso é verdade, mas nem tanto. Eu realmente fico encarando muito o Hyunjin, mas é porque eu duvido que ele seja real, a beleza dele definitivamente não é deste mundo.
- Desiste Yumi, ela não vai pedir o número dele e vai se arrepender pelo resto da quarentena.- Changbin disse colocando o braço no ombro de Yumi que suspirou enquanto negava com a cabeça.
- A Minsun vai morrer virgem.- Jisung disse em seguida e Yumi quase chorou de rir.
- E qual o problema disso? - Perguntei e todos me encararam com tédio.- Eu não vou dar lição de moral, só quero dizer que isso não é algo que deveríamos nos importar no momento. Quero dizer, pensar em romance e sexo no meio de um apocalipse parece fútil e sem sentido. - Imagina se eu fosse dar uma lição de moral. Changbin é o único que tem coragem de revirar os olhos para mim e dizer que eu sou entediante.
- Pois eu e o Changbin vamos tirar o atraso, logo mais papai proíbe ele de pisar lá em casa.- Yumi como podem ver, é muito aberta com sua vida pessoal. Jisung fingiu vomitar e eu tive que lhe imitar. Qual é, minha gêmea e meu melhor amigo, isso é no mínimo traumatizante.
Quando chegamos na escola, meus olhos começaram a agir por conta própria, procurando pelos olhos rasgados de Hwang Hyunjin. Não tardou para que eu os encontrasse. Normalmente não nos cumprimentamos, muito menos esboçamos qualquer sinal de que querer nos aproximar, mas hoje ele sorriu para mim, e movimentou a mão levemente, como se quisesse me dar oi. Retribuí o sorriso da forma que consegui, meio morrendo, meio tendo um treco.
-Vai lá garota! Ele já deu o sinal que quer falar com você, só faça isso logo! - Yumi disse segurando-me pelos ombros e eu me soltei, logo sentando em meu lugar de sempre, pela última vez por um longo tempo.
- E porque ele não pode vir falar comigo? - Eu perguntei e Yumi encarou Changbin, esperando ele me responder a altura.
- Ela tem razão, se ele quem deu o primeiro sinal, ele que deveria avançar. - Changbin disse e eu sorri vitoriosa para Yumi, que bufou e se sentou ao meu lado.
- Eu só queria que você pudesse conversar com ele pelo menos uma última vez. Eu ando me sentindo tão estranha ultimamente, parece que tudo vai acabar depois que ficarmos presos em casa.- Yumi disse mais serena, após alguns segundos em silêncio. Encarei a maluquinha, e vi que ela realmente não estava se sentindo bem. Talvez seja alguma coisa sobre gêmeas, mas nós costumamos ter um sexto sentido muito aguçado. Sempre que existe algo errado, nós somos as primeiras a sentir ou descobrir as coisas.
- Você é uma bela de uma chantagista. Eu vou, mas só porque eu não estou vendo muito motivos para não fazer isso.- Me dei por vencida e Yumi me agarrou em um abraço grudento, dei dois tapinhas nas costas dela e ri.
- Que bom que você fez isso por si mesma, eu ia me passar por você e ia pedir o número para ele.- Yumi disse simples e tirou uma lixa do estojo. Não duvido nada, isso é bem cara dela fazer mesmo.
Depois de pegarmos todos o nossos materiais necessários para o ensino a distância, e ouvir várias instruções dos professores e coordenadores, começamos a ir em direção da saída e Yumi estava caçando Hyunjin com os olhos da mesma forma que um leão caça seu jantar.
-Ali está ele.- Changbin disse apontando para Hyunjin que caminhava lentamente pela rua.
- Forças criança, só não fale sobre seu hobby de bater nas pessoas.- Jisung mal acabou de falar e eu já estava lhe socando. Minhas mãos começaram a suar e apressei meus passos em direção à Hyunjin, e estava prestes a dar meia volta quando ele percebeu que eu estava perto dele.
- Olá…- Ele disse parando e fez uma breve reverência. O imitei e tentei sorrir da forma mais simpática e lhe estendi a mão.
- Sou Han Minsun, estamos na mesma turma de química.- Falei assim que ele apertou minha mão. A mão dele estava tão suada quanto a minha, e isso me pareceu tão reconfortante que consegui agir mais naturalmente.
- Hwang Hyunjin.- Ele disse simples e voltamos a caminhar.- Eu gostaria de ter falado com você mais cedo…Digo, antes de toda essa loucura acontecer.- Hyunjin disse e colocou as mãos nos bolsos.- Sinto muito por não ter sido corajoso, mas espero que possamos ser amigos agora. Digo… se você quiser me passar seu telefone, podemos conversar por mensagens.- Para alguém envergonhado, ele estava bem desinibido, mas obviamente não iria falar isso, só deixaria ele acanhado. Tirei uma caneta preta do bolso e segurei sua mão.
- Às vezes eu posso demorar para responder, é porque eu moro num hospício e é difícil lidar com as pessoas.- Eu disse enquanto escrevia o telefone na palma da mão dele.
- O Jisung é o que seu? - Hyunjin perguntou virando a esquina comigo.
- É meu cachorro.- Falei simples e ele gargalhou.- Por mais incrível que pareça, somos irmãos. Eu não preciso falar nada sobre Yumi né…- Falei risonha e ele negou com a cabeça.
- Acho que vocês são as únicas gêmeas idênticas que eu conheço. Changbin já deve ter passado por cada situação constrangedora, confundindo as duas.- Hyunjin disse risonho e eu balancei a cabeça.
- Só uma vez eu estava usando um short da Yumi e ele me deu um tapa na bunda e disse "oh lá em casa". Depois de levar um tapa no meio da fuça, ele nunca mais confundiu.- Eu disse e ficamos rindo. Estávamos prestes a subir as escadas para a rua de cima, quando alguém simplesmente despencou morro abaixo. Hyunjin me segurou pelo braço, afim de me proteger e nos afastamos ao ver a pessoa se revirando no chão.
- Cara, você está…- Hyunjin não conseguiu completar a frase. O homem se levantou com a boca ensanguentada, olhos negros e grunhia como um animal faminto.
- Minsun! - O grito estridente de Yumi me fez puxar Hyunjin pelo braço e correr até eles, onde Jisung estava caído no chão enquanto se contorcia.
- O que foi que aconteceu? - Perguntei me abaixando para ajudar Changbin a levantar Jisung.
- Eu não faço ideia, Jisung gritou e depois ficou assim.- Yumi disse desesperada e apontou para o tornozelo dele. A barra da calça estava rasgada e o sangue escorria da mordida dada por um animal.
- Um cachorro derrubou ele, e depois o mordeu. A única coisa que eu consegui fazer foi prender o cachorro dentro de uma lata de lixo que estava jogada no chão. Melhor irmos antes que ele se solte.- Changbin disse e Hyunjin me puxou para trás, tomando meu lugar para carregar Jisung que estava quase inconsciente.
A rua estava um caos, estávamos vendo o apocalipse acontecer diante de nossos olhos. Pessoas correndo uma das outras, lugares em chamas, as vidraças das lojas em pedacinhos.
Quando chegamos em casa, minha mãe veio em nosso encontro e ficou horrorizada ao ver o estado de Jisung, que com apenas uma mordida de um cachorro, estava em uma espécie de estado vegetativo. Dava para ver o suor frio escorrendo pela testa, seu coração estava tão acelerado que podia-se ver pela camiseta branca da escola. Jisung ficou ofegante, e Yumi simplesmente não conseguia mais ver a cena.
-Minsun, pegue álcool e o kit de primeiro socorros. Changbin, vá até o meu quarto, na última gaveta tem algumas camisetas brancas velhas, traga duas e as rasgue para mim.- Minha mãe falava e nós começamos a correr pela casa.- Querido, eu sei que não nos conhecemos ainda, mas eu preciso que você pegue aquele pano de prato e coloque na boca do Jisung, e depois segure os pulsos dele com firmeza. Acho que minha filha entrou em estado de choque.- Ela disse e Hyunjin apenas tirou a mochila das costas e lhe obedeceu. Yumi cobriu os olhos e se virou de costas, enquanto minha mãe virava o frasco de álcool na mordida, que acabei de reparar que era bem maior do que aparentava. Tivemos que segurar Jisung com força, pois ele estava se contorcendo demais.
- Changbin, pegue mais camisetas, temos que expelir o máximo desse pus. - Minha mãe disse apertando a perna de Jisung entorno da mordida, fazendo um pus esverdeado e mal cheiroso escorrer para fora.- Querida, o seu pai…- Só agora que eu percebi que minha mãe estava chorando, a ponto de ficar com os olhos vermelhos.- Seu pai vai chegar em alguns minutos, e pode ser que ele esteja pior que Jisung. Me prometa que não vai deixar ele entrar, huh? - Ela pediu e jogou mais álcool em cima da ferida, fazendo Jisung gritar. Changbin pressionou mais dos panos para conter o pus.
-Como assim mãe? Vamos ter que ajudar ele também! - Falei totalmente confusa e ela apertou os olhos por alguns instantes e respirou fundo, parecendo segurar o choro.
- Minsun, a confusão que está acontecendo lá fora, começou em um surto no trabalho do seu pai. Isso não tem cura, eu estou fazendo o que eu posso pelo Jisung, mas não vai adiantar. Vamos ter que pensar bem no que faremos com ele.- Ela disse e percebemos que o pus diminuiu, e agora Jisung estava inconsciente. Mesmo depois de jogar mais álcool em cima da ferida, ele continuou imóvel. Enrolamos uma camiseta em volta da ferida e amarramos com duas tiras de panos que Yumi conseguiu cortar, apesar de ainda parecer estar em estado de choque. Eu, Changbin e Hyunjin carregamos Jisung até o quarto de hóspedes, a pedido de minha mãe que não queria correr risco de deixá-lo perto de nós.
- Querido, eu sinto muito, mas você não vai poder ir embora. Changbin, pegue alguma roupa do Jisung e empreste para ele. Depois conversamos um pouco, eu vou levar isso para queimar no quintal de trás.- Minha mãe disse para Hyunjin, que apesar de nervoso, apenas balançou a cabeça positivamente. Minha mãe colocou luvas e pegou os panos encharcados de pus, e os jogou dentro de um saco preto. Depois de pegar álcool e fósforo, ela foi até o quintal de trás.
Eu e Yumi ficamos sozinhas por alguns instantes e nos encaramos. O pavor nos olhos dela era palpável.
-Vamos ficar bem, mamãe vai dar um jeito em tudo, não se preocupe. Tiramos todo aquele pus de dentro dele, o álcool vai matar qualquer coisa dentro dele.- Falei tranquilamente e a mesma me abraçou. No minuto seguinte bateram na porta e larguei Yumi que se sentou e fui até a janela da sala, onde dava para ver quem é que estava na porta.
- É o papai, parece que ele está bem.- Falei, vendo que ele estava em pé e parecia paciente enquanto esperava que alguém abrisse a porta. Olhei no olho mágico duas vezes antes de destrancar a porta. Já estava girando a maçaneta e abri um pouco da porta, quando fui surpreendida por Hyunjin, batendo a porta com força para fechar e a trancou em seguida.- O que está fazendo? É o meu pai! - Falei e ele segurou meus pulsos ao ver que eu ia tentar abrir a porta novamente. Antes que pudesse falar algo, a porta fez um barulho estrondoso, como se alguém quisesse arrombar. Era meu pai.
- Você ouviu sua mãe… seu pai estava no lugar onde tudo começou. Ele não conseguiria chegar aqui ileso.- Hyunjin disse com pesar e sério, voltamos a nos assustar com o barulho.
- Saiam da porta.- Minha mãe falou rigidamente e me assustei.- Uma hora ele terá que parar.- Ela disse e meio desnorteada, me joguei no sofá.- Crianças, eu sei que estão cansadas, mas precisamos conversar - Ela falou se sentando em sua poltrona. Nos sentamos lado a lado no sofá e lhe encaramos.- Vocês precisam entender o que está acontecendo de verdade. Eu trabalho no governo, sei do que estou falando, então apenas confiem em mim.- Minha mãe nunca esteve tão séria desde a vez que Yumi fez a brincadeira do primeiro de abril, dizendo que estava grávida.- A Coreia do Norte criou um vírus, que inicialmente foi feito apenas para espalhar uma doença entre os soldados, para enfraquecer as forças armadas. Mas o tiro saiu pela culatra, eles fizeram experimentos com animais e quando este vírus contagiou ratos, ele se modificou a ponto de eles mesmos não saberem como controlar. Metade do norte foi dizimado, todos estão tentando esconder isso. A fórmula para cura chegou a ser encontrada, mas o procedimento para criá-la é demorado. Aqui na Coreia temos menos de mil prontas, mas a china conseguiu reproduzir em uma quantidade excelente para imunizar um país de terceiro mundo, em um hospital de virologia. Eles iam começar a liberar as vacinas ontem, mas aconteceu alguma coisa e perdemos o contato com todos. Isso soa muito estúpido, mas de certa forma, as pessoas viraram zumbis. Apesar de estarem vivos, a única coisa que realmente pode matá-los é atingindo diretamente o cérebro. Facadas, tiros em qualquer outro parte é totalmente inútil, eles se alimentam de carne crua, seja humana ou animal. - É muita informação para assimilar, mas o que podemos concluir, é que o apocalipse zumbi realmente começou.
- E o que faremos com o Jisung? - Yumi finalmente perguntou e minha mãe suspirou.
- Eu e Minsun vamos até o hospital central de virologia em Gangnam, tentar pegar a vacina. Jisung vai ficar preso no quarto até que voltemos, vocês três precisam ficar aqui sem fazer barulho, se ele acabar se soltando, vocês precisam se esconder até conseguirem se trancar em algum cômodo.- Minha mãe estava passando uma confiança que acabei perdendo o medo por alguns minutos.
- Nós iremos agora? - Perguntei e ela negou com a cabeça, vendo que meu pai continuava na porta, batendo a cabeça repetitivamente.
- Amanhã pelo amanhecer nós vamos, por enquanto temos reunir tudo que possa nos proteger.- Ela disse se levantando e eu a acompanhei. Yumi se jogou no colo de Changbin, e Hyunjin pareceu deslocado.
Eu peguei meu taco de beisebol e comecei a encher de pregos, até que ficasse cheio. Minha mãe pegou duas armas (que eu nem tinha ciência de existir nessa casa), pegou os tacos de golfe do papai, juntou cordas, fósforos, álcool e mais uma penca de coisas dentro de uma mochila, tendo cuidado para não ficar pesado demais.
-Você vai fazer como nos filmes que assistiu. Enrole um pano no antebraço, coloque um papelão por cima e depois coloque mais uma camiseta. Depois pensamos em algo para cobrir as mãos.- Ela falou e não pude deixar de lhe olhar com admiração. Nem sei o que seríamos de nós sem ela aqui. Ela sorriu e me deu um beijo na testa.- Sua irmã me contou que aquele garoto é sua paixão platônica. Se deu bem hein, vai ficar presa com ele aqui.- Ela disse e eu gargalhei.
- Yumi e sua língua solta. Mas diz aí, ele é bonitão não é? - Perguntei baixo e ela concordou comigo.
- Vá ficar com eles, eu vou fazer a janta e conversamos mais depois.- Minha mãe disse me empurrando e fui até o meu quarto, onde os três estavam em silêncio. Yumi estava deitada no colo de Changbin, enquanto ele fazia tranças em seu cabelo. Hyunjin estava sentado no chão ao lado da janela, vendo o caos que acontecia ali fora.
- Poderíamos estar nos divertindo no momento desses, mesmo com toda essa confusão lá fora. Jisung ia inventar um jogo e irritaria Minsun até que ela gritasse e faria todos nós rir.- Yumi disse melancolicamente, e revirei os olhos para Hyunjin, que acabou rindo.
- Você conseguiu falar com alguém da sua família? - Perguntei baixo para Hyunjin que olhou o celular por alguns instantes.
- Meus pais… trabalham ao lado da fábrica de peças automotivas.- Hyunjin disse e levei alguns instantes para assimilar.
- Onde o meu pai trabalha… ou trabalhava.- Falei e ele balançou a cabeça positivamente. Era óbvio que ele estava tentando segurar o choro e a dor dentro de si, e isso é horrível. Meu pai virou um zumbi, eu estou destruída, mas é reconfortante saber que minha família está ao meu lado para superarmos juntos. Hyunjin parece estar sozinho nessa.- Você é filho único? - Perguntei apenas por curiosidade e ele balançou a cabeça positivamente. Hyunjin desviou o olhar e voltou a encarar a rua. Ele realmente precisa de um ombro amigo. Encarei Changbin e Yumi que estavam gesticulando para que eu fizesse algo, mas não faria nada com eles ali. E eles entenderam aquilo, pois saíram silenciosamente e Hyunjin nem notou.- Hyunjin…- Eu o chamei e segurei sua mão que estava em cima de suas pernas.- Você pode chorar. Eu sei que está no meio de desconhecidos, mas todos esses meses nos olhando pode ter servido para algo. Somos amigos, certo? - Ele sorriu discretamente, e uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha.- Nada do que eu disser vai te ajudar agora, além do fato de que agora seremos uma nova família, você vai aprender a nos suportar.- Eu disse e Hyunjin continuou derramando lágrimas silenciosamente. Sem pensar muito nas minhas ações, soltei a mão dele e o puxei cuidadosamente para lhe abraçar. O choro dele foi mais sofrido, e ele se agarrou em mim como se fosse sua única chance para se recuperar.
Depois de algum tempo, ele se recompôs e agradeceu. Assim que todos estavam de banho tomado, nós jantamos e minha mãe conversou bastante com Hyunjin. Ela disse que coração de mãe sempre cabe mais um e ele ficaria bem conosco.
Jisung continuou inconsciente o resto do dia, e na hora de dormir, Changbin teve permissão para dormir com Yumi, Hyunjin ficaria com a cama de Jisung e eu ficaria na minha.
A madrugada foi silenciosa, e barulhenta ao mesmo tempo. Meu coração continua disparado e minha mente não para um minuto sequer.
Como de costume, minha mãe se levantou as duas da madrugada para ir ao banheiro e tomar um copo de água. Quando ela ligou a luz do corredor, pude ver que Yumi e Changbin estavam brincando com as mãos e Hyunjin estava encarando teto fixamente. Parece que eu não sou a única com insônia.
Um barulho alto na cozinha nos fez sentar ao mesmo tempo. Fui a primeira a me levantar, coloquei os chinelos e peguei o taco de beisebol.
-O Jisung saiu do quarto.- Changbin sussurrou e pegou a primeira coisa que viu pela frente para atacar em Jisung caso ele tentasse nos atacar. Corremos pelo corredor quando ouvimos o grito ensurdecedor de minha mãe. Quando chegamos na cozinha, era tarde demais.
Minha mãe estava com a garganta aberta, enquanto Jisung comia o resto de carne que lhe sobrou ali. Yumi colocou a mão na boca para conter o vômito e se afastou. Jisung nos encarou ao ouvir o grunhido de Yumi. Ele parecia um demônio, com as escleras dos olhos totalmente pretas, sua pele estava acinzentada, veias verdes como o pus que tiramos mais cedo estavam por toda extensão de seu pescoço, além das várias pretas estouradas.
Fiquei paralisada ao ver ele correndo em nossa direção, simplesmente não podia dar com o taco na cabeça dele, então Hyunjin o fez por mim. Pegou a cadeira que estava na sua frente e atirou com força em cima de Jisung que caiu. Changbin agiu rápido e pegou o saco preto que estava no batente e enfiou na cabeça de Jisung dentro e amarrou em seguida. Apesar de se debater por alguns minutos, ele logo parou.
-Ele vai morrer sufocado! - Yumi gritou e eu segurei ela que queria tirar o saco de sua cabeça.
-Ele não precisa mais de oxigênio.- Eu disse com a voz trêmula.- Vamos trancar ele no quarto, e pensamos o que faremos.- Falei me mantendo firme, da mesma forma que minha mãe faria. Foi um sacrifício, já que Jisung se debatia como peixe fora d'água. Depois de trancá-lo, voltamos para cozinha, com exceção de Yumi que estava vomitando.
Não ousamos tocar no corpo de minha mãe. Tínhamos medo de puxar seu corpo e a cabeça continuar no mesmo lugar, uma vez que o pescoço já estava dilacerado. Nunca chorei tanto em minha vida. Depois de cobri-la com sacos pretos grandes, a única coisa que consegui fazer foi me ajoelhar e chorar em cima da poça de sangue em torno do corpo. 
Esse foi o dia mais longo de toda história da humanidade. Meu pai e meu irmão viraram zumbis, minha mãe foi morta pelo meu irmão e o meu crush me salvou pela segunda vez no dia. Tenho medo de perguntar se as coisas podem ficar piores, uma vez que ainda tenho entes queridos para perder.

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