De volta ao lar - Capítulo 8

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Uma semana havia se passado, os exames e acompanhamentos de Jisung obtiveram ótimos resultados.
Naquele momento, ele estava suando até às pontas dos dedos. Pela primeira vez em semanas, ele veria a luz do sol, mesmo que fosse vê-lo sem toda sua cor.
— Para quieto, parece um bicho grilo. – Minsun disse, ao ver Jisung abrir as malas e fechar um milhão de vezes, roer as unhas e bater o pé no chão repetitivamente.
— Que horas nós vamos? – Jisung perguntou cruzando os braços e começou a balançar o corpo.
— Em dez minutos. Agora se acalme. – Yumi disse segurando ele pelos ombros e lhe deu um tapa no rosto. Jisung resmungou e colocou a mochila de Yumi nas costas. — Pode deixar que eu levo. – Ela disse pegando a mochila, mas Jisung se virou.
— Você não vai ficar carregando peso. – Jisung disse e Yumi lhe encarou com tédio.
— Ele tem razão, quanto menos esforço você fizer, melhor. – Changbin disse e Yumi bateu o pé no chão.
— Não sei se vocês lembram, mas quando eu lutei contra um zumbi e atirei em um idiota, eu já estava grávida. Eu não estou doente e minha gravidez é perfeitamente saudável. Parem com essas idiotices. – Yumi disse e arrancou a mochila das costas de Jisung com brutalidade. — Viu, é por isso que eu não queria contar! – Ela esbravejou e saiu do quarto enfurecida.
— Não se preocupem, parte do piti foi por causa dos hormônios. Mas ela está coberta de razão. – Minho disse comendo um danone.
— Cara, toda vez que eu olho pra você, você está comendo algo. – Hyunjin disse para Minho e Minsun gargalhou enquanto concordava.
— É meu passatempo. – Ele respondeu e acabou rindo.
Assim que acabaram de reunir suas coisas, foram ao encontro de Felix, Bang e Yumi, que estavam no térreo os esperando.
— Essa mala tem doses o suficiente para um ano. Estamos produzindo tanto que logo mais teremos que abrir um novo andar para poder guardar tudo. – A médica Kim disse entregando uma mala preta e pesada para Changbin. — Lembrem-se, caso alguém seja infectado, é necessário retirar o pus antes e jogar álcool para ajudar. Se Jisung voltar a mostrar algum sintoma, dê um calmante a ele e depois aplique o antídoto. – A médica agora se dirigia à Minsun, que visivelmente era a responsável por todos.
— Muito obrigada por toda ajuda, doutora Kim, nunca vamos esquecer e esperamos poder retribuir algum dia. – Minsun disse dando um aperto de mãos com a médica.
— Boa sorte à vocês. Eu preciso ir agora, façam boa viagem. – Ela disse e reverenciou brevemente antes de sair.
Um soldado veio ao encontro deles, e Felix novamente foi o tradutor. Eles foram escoltados até uma van e novamente, Yumi sentou-se ao lado de Jisung que estava na janela.
— Eu vou conseguir um daqueles óculos pra você. – Yumi sussurrou para Jisung, que observava a paisagem.
— O que óculos? – Jisung perguntou e Yumi sorriu.
— Aqueles que você pode ver as cores. Não faço ideia onde conseguir, mas vou procurar até achar. – Yumi disse e segurou a mão do mesmo. Jisung sorriu e bagunçou os cabelos dela.
— Finalmente os irmãos Han reunidos de novo. Nossa família é tão linda. – Yumi disse agarrando Minsun e Jisung pelo pescoço e os apertou contra si.
— Nós seremos Han também? – Seungmin perguntou sorrindo bobo e Yumi negou com a cabeça enquanto sorria.
— Jamais. – Ela disse animada e ele lhe mostrou a língua.
— Ainda bem, porque é um sobrenome horrível. Han? Eu sou o que? Uma espécie de sapo? – Minho perguntou com as bochechas cheias.
— Não, você é um dragão mesmo. Come demais! Pare de comer, está me deixando agoniada! – Yumi disse e colocou a mão na barriga por reflexo.
— Espero que tenham sacolas aqui, se o Minho fizer Yumi vomitar vai ser trágico. – Changbin disse e Yumi lhe olhou com olhos afiados.
— Eu já disse pra parar com isso! – Yumi lhe deu um tapa na cabeça e Changbin lhe devolveu o tapa. — Aí, não faz isso eu tô grávida! – Ela disse e todos riram.
A viagem havia sido divertida, e quando entraram no avião, descobriram que havia mais pessoas sendo levadas para Coréia.
— Por favor, se comportem. – Minsun pediu enquanto via Yumi, Jisung e Minho se sentando nas poltronas lado a lado.
— Pode deixar, chefe. – Yumi disse batendo continência.
— Eu sou um cara feliz por não ter minha namorada grudada em mim o tempo todo. Mas acho que sinto falta. – Changbin disse indo até a próxima fileira de poltronas.
— Eu vou sentar com o Hyunjin e o Felix. Faça bom proveito da companhia do Bang. Seungmin e Jeongin estão sentados nas poltronas de dois lugares, do outro lado. – Minsun disse, e deu dois tapinhas no ombro dele, para lhe dar força. Changbin suspirou e foi até Bang Chan, que estava com o headphone no pescoço e um MacBook no colo.
— Com licença. – Changbin ainda se sentia desconfortável com Bang, mas o mesmo continuava o tratando normalmente, como se não soubesse da pequena raiva que Changbin nutria por si.
— À vontade. Se quiser sentar na janela, eu não me importo. – Bang disse sinalizando e Changbin apenas negou. Do corredor ele poderia ver Yumi e os dois bobões mais à frente. Apesar da ideia, sua atenção foi chamado pela tela de mixagens do macbook.
— Isso deve ter sido caro. – Changbin disse sobre o MacBook e Bang sorriu enquanto concordava.
— Essa é a melhor parte, eu nunca vou acabar de pagar porque não tem à quem pagar. Eu comprei de um amigo, e estava pagando para ele todo mês. Aí ele virou zumbi e a dívida foi perdoada. – Bang disse e Changbin acabou rindo. Ele voltou a atenção para a tela, e Changbin ficou curioso sobre o que ele estava fazendo.
— Você produz? – Changbin perguntou, o atrapalhando novamente.
— Só por hobby. Era meu sonho ser produtor musical, mas quando seu pai trabalha na aeronáutica fica meio difícil seguir seus próprios caminhos. – Bang disse e fechou o Macbook.
— Você teve notícias dele? – Changbin decidiu deixar as diferenças de lado e conversar com Bang.
— Ele estava pilotando quando tudo aconteceu, estava indo para o Japão. Muitos aviões estavam transportando infectados, e todos eles caíram. Foi um número bem grande, levaria meses para descobrir o paradeiro do avião que meu pai estava pilotando. – Bang apesar de sorrir, tinha a feição triste.
— Eu nem consigo pensar como meus pais estavam quando aconteceu tudo. Nem tive muito tempo para pensar neles, foi tudo muito rápido. – Changbin disse e Bang balançou a cabeça positivamente.
— Onde vocês estavam no momento? – Bang perguntou e Changbin suspirou.
— Voltando da aula. A Minsun tinha ido conversar Hyunjin pra pedir o número dele, e eu estava mais a atrás com os irmãos pancadas. Daí algumas pessoas passaram correndo por nós, e antes que pudéssemos pensar, um Akita ensanguentado e nervoso nos atacou. – Changbin disse e encarou Bang. — O cachorro tentou atacar Yumi, mas Jisung empurrou ela para calçada e chutou o cachorro, foi quando o Akita prendeu a perna de Jisung nos dentes e o mordeu. – Changbin disse e Bang abriu mais os olhos, impressionado com aquilo.
— O Jisung salvou a Yumi. – Bang concluiu e Changbin balançou a cabeça positivamente.
— Eu ia contar no dia em que fomos visitá-lo, mas ele pediu que não contasse. Não entendi o motivo, mas deve ser algo sobre não dar moral aos irmãos. – Changbin disse e os dois riram. Houve um momento de silêncio constrangedor, mas Changbin apenas continuou sendo simpático. — E eu não agradeci você, por ter ajudado a Yumi. Então… obrigada e sinto muito se eu fui grosseiro com você. Ela é tudo pra mim, e só de pensar em perdê-la eu me desespero. – Changbin disse e estendeu a mão para Bang, que a apertou e sorriu.
— Sem problemas, cara. Ela é realmente uma estrelinha, inicialmente eu fiquei triste em saber que ela já é comprometida, mas vendo vocês dois juntos eu esqueci totalmente disso. – Bang confessou, rindo sem graça. — Posso te dar uma ideia? – Ele perguntou e Changbin apenas concordou. — Peça ela em casamento, quando tudo se ajeitar. Depois de arrumar nossos novos dormitórios e de nos adaptar ao lugar. – Bang Chan disse e Changbin sorriu, achando a ideia incrível.
— Você é um gênio! É o melhor momento, agora que vamos ter um filho e nossa vida está uma loucura. – Changbin disse se endireitando na poltrona.
— Na internet tem documentos prontos para casar. Claro que não são oficiais, do governo ou algo do tipo, mas é algo que firme o relacionamento. – Bang disse e de repente, os dois se pegaram planejando o casamento.
As duas horas passaram voando. Yumi, Jisung e Minho fizeram brincadeiras onde os outros passageiros se incomodaram com a barulheira dos risos, e principalmente quando a brincadeira envolvia uma boca cheia de água e o desafio de não rir. Os três tomaram o banho do dia com isso.
A situação na Coréia parecia menos caótica do que quando saíram dali. As ruas pareciam mais vazias, como se tivessem retirado todos os carros e postes quebrados ou atingido pelos infectados. Além de todos os cacos de vidros e sangue espalhados.
Parte das pessoas que estavam no avião com eles, foram levadas para outros edifícios, que eram pontos de segurança para os sobreviventes. O edifício em que ficaram tinham sessenta andares, e os dormitórios não eram apenas dormitórios, mas sim apartamentos, e cada andar havia cinco apartamentos. Minsun fez as contas por cima, e presumindo que em cada apartamento teriam dez pessoas, o edifício seria o suficiente para abrigar cerca 2.500 pessoas, contando que alguns andares seriam de centros de controle, com médicos, militares e administradores. Levando em conta cenário atual, aquele número era ótimo.
— Vocês serão levados para uma sala onde será passado o plano de contingência. Deixem as bagagens no apartamento e me encontrem em cinco minutos, aqui está a chave. – Chaewon, a guia deles, os instruiu e sinalizou para que eles fossem até o elevador. Minsun viu o número 33 na chave e presumiu que ficariam naquele andar. Achar o apartamento foi simples, seus nomes estavam grudados numa folha de papel na porta. O apartamento era consideravelmente grande, e todos conseguiriam viver ali confortavelmente.
Yumi colocou os chinelos antes de descerem e se encontrarem com Chaewon novamente.
Eles foram levados até um auditório para duas mil pessoas, e todos os lugares estavam sendo ocupados. Um representante foi até o palanque e começou a explicar a situação atual.
— Boa tarde à todos, eu me chamo Lee Saeron, general das forças armadas da unidade Seul e venho lhes explicar o que estamos fazendo para recuperar nossas vidas. – Apesar da expressão séria, ele soava suavemente. — Nossos militares estão imunizados, graças à exportação do antídoto vindo da China. Colocamos em ação, um plano para extinção dos infectados, neste momento as nossas forças armadas estão retirando os corpos e os levando até o local para incineração. Infelizmente, não podemos recuperar todas as vidas perdidas e damos nossos profundos sentimentos aos atingidos diretamente por esta praga que atacou o mundo, e espero todos possam compreender que apesar de parecer cruel, está é a maneira mais viável de recuperarmos não só o nosso país, como também o resto do mundo. – Ele mostrou vídeos de como estava sendo a "limpeza" do país. — Fábricas de serviços essenciais estão voltando aos poucos, foram os primeiros postos de limpeza dos infectados, e já estamos recrutando novos funcionários para darmos continuidade com os serviços prestados. O tempo estimado para conclusão do plano são de até sete anos. Cada família irá receber um livreto dando instruções de prevenção e como agir perante à uma situação de emergência. — Enquanto ele dizia, alguns voluntários começaram a distribuir os livretos. – Por hora, cada família receberá uma cesta básica alimentícia e uma cesta com produtos de higiene pessoal. Tudo será racionalizado e todos deverão assinar termos caso tenha necessidade de pegar uma nova cesta antes do tempo estimado. — Como Minsun pensou, tudo seria muito rígido. – Temos postos para solicitar qualquer tipo de ajuda nos dois primeiros andares. O funcionamento por hora está sendo por 24 horas, mas logo teremos um cronograma de funcionamento e cada solicitação diferente terá a hora certa para funcionar. — Saeron disse e todos pareciam estar de acordo com o plano proposto e as regras do local. Também, não havia muitas opções. — Estou abrindo a sessão para perguntas. – Algumas pessoas levantaram as mãos, e Saeron apontava para a pessoa, que recebia um microfone.
— O edifício está equipado com consultórios médicos? Acredito que tenha pessoas que tratam de doenças ou venham a ter necessidade de um especialista. – Minsun balançou a cabeça, achando uma ótima pergunta.
— Sim, temos três andares onde estão sendo montados consultórios para clínico geral, virologistas, pediatra, obstetra e após fazermos análise, vamos verificar se terá necessidade para a quimioterapia e fisioterapia. Os andares são do quinquagésimo sétimo até o sexagesimo andar. – Saeron explicou, e Yumi suspirou aliviada ao ouvir sobre obstetra. Outra pessoa levantou-se para perguntar.
— Eu fui um dos curados disso e gostaria de saber se eu e outras pessoas nesta situação continuaremos a fazer acompanhamentos médicos. – Ele perguntou e Jisung pareceu ansioso.
— Sim, mas apenas mensalmente. Mas caso surja alguma anomalia ou sintoma, é necessário procurar por um médico imediatamente. – Saeron explicou e Yumi finalmente teve coragem de levantar-se. O voluntário lhe entregou o microfone, e mesmo que estivesse nervosa e com vergonha até às pontas dos cabelos, ela sorriu e perguntou sua preocupação.
— Recentemente eu descobri que serei mãe, e vejo que há outras futuras mães por aqui. E minha preocupação é com produtos essenciais para os bebês, como fraldas, roupas, remédios e afins. – Ela perguntou calmamente e pode ver sorrisos de outras mulheres, que estavam com as mãos na barriga, como se estivesse agradecendo.
— Primeiramente, meus parabéns. – Ele disse sorrindo pela primeira vez e Yumi voltou a se levantar para reverenciar em agradecimento. — Já estamos providenciando os artigos para gestantes, haverá um estoque no andar do consultório de obstetrícia, com todos os itens essenciais para que os bebês sejam bem cuidados. – Ele explicou e Yumi sorriu novamente, agradecendo silenciosamente. Changbin segurou sua mão e os dois trocaram um beijo rápido.
— E quanto às nossas antigas residências? Acredito que nem todas tenham sido destruídas. – As perguntas continuaram.
— Ótima pergunta, já havia me esquecido deste tema. Vamos começar a fazer uma relação das pessoas e seus endereços e será mandado vistoriadores para confirmar se há possibilidades de recuperar a residência ou se será necessário inscrevê-la para a construção de uma nova. Faremos isso em ordem de andares, a partir da semana que vem. – Saeron disse e Minsun sorriu aliviada. Eles voltaram para o conforto do lar dentro de 33 semanas.
Aquela palestra acabou sendo a coisa mais necessária para que todas as pessoas tivessem esperanças de ver um futuro onde as coisas voltassem ao normal, na medida do possível.
— Vocês viram o mural que tem perto da recepção? – Hyunjin perguntou ao entrarem no novo apartamento. Todos negaram com a cabeça. — Tem um mural com vários post-its grudados, com recados como "Se você precisar de bombinhas para asma, ligar no interfone tal". Parece que foi criado para que os moradores ajudem uns aos outros. – Hyunjin disse e Minsun gostou da ideia.
— Será que temos algo para oferecer? – Yumi perguntou sentada no sofá marrom.
— Sim, o Jisung. Se quiser um ex zumbi que não sabe se comportar em um avião, ligue no interfone 332. – Minsun disse e Jisung ficou indignado.
— Ya! Eu me comportei muito bem, foram esse dois que ficaram de palhaçada. – Jisung disse apontando para Yumi e Minho.
— Jisung, todo mundo sabe que foi você quem deu a ideia da brincadeira da água. – Minho disse com cara de tédio, sorrindo minimamente.
— Ya! Isso daí não foi minha culpa! A Yumi que foi beber água no momento errado e uma coisa levou a outra! – Jisung se defendeu, mas a única coisa que fizeram foi rir da cara de pau dele. Minsun o abraçou de lado e sorriu feliz.
— É tão bom saber que sua estupidez continua preservada. – Minsun disse e Jisung deu tapinhas nos braços dela, enquanto balançava a cabeça positivamente.
— Vamos levantar as bundas das cadeiras e dividir os quartos. São três quartos, cada um tem duas beliches. – Bang disse na frente de todos, e Minsun agradeceu por ter ganhado uma pessoa responsável no grupo.
— Felix e Bang em uma, Seungmin e Jeongin em outra. – Minsun começou e os meninos concordaram.
— Eu e Minsun em uma, Changbin e Yumi em outra. – Hyunjin disse e Jisung negou com a cabeça rapidamente.
— Jamais! Eu vou ficar com as minhas irmãs e meu cunhado. Você que lute pra dividir o quarto com o Minho. – Jisung disse e Hyunjin encarou Minsun, como se pedisse para ela intervir.
— Deixe ele, Hyunjin. É natural que ele queira ficar conosco. – Minsun disse e Hyunjin encarou Jisung com desgosto.
— Me sinto menosprezado. – Minho disse quase caindo no sono. — Tanto faz pelo menos o quarto vai estar quase vazio. – Ele disse piscando lentamente.
— Vamos arrumar nossos pertences e depois guardar as coisas da cesta básica nos armários. – Bang disse pegando sua mochila e indo para o quarto.
— A disposição dele me dá preguiça. – Felix disse se arrastando.
Depois de arrumar tudo, Changbin ficou tentando arrumar o momento certo para fazer o pedido, mas todos estavam tão cansados, que ele simplesmente deixou para depois.
O importante, é que aquele nevoeiro de dúvidas estava lentamente se dissipando, e que havia uma luz no fim do túnel.

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