Choque

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Quando eu caí na água, a primeira coisa que eu pensei antes de entender o que estava acontecendo foi em como eu detestava nadar. Minha mãe tinha me obrigado a aprender quando eu era mais nova, odiei logo de cara. O maiô era muito apertado e eu detestava ter que ficar com aquela touca brega, detestava os óculos e odiava a minha professora. Passei três anos aprendendo a nadar até ser esperta o suficiente para matar todas as aulas até meu pai resolver parar de pagar a escola.




Minha mãe me colocou em todos os tipos de atividades extracurriculares para que eu estivesse ocupada na maior parte do tempo. Balé, aulas de piano, aulas de canto, natação, karatê e tudo mais que as melhores escolas podiam oferecer. Por causa disso, eu tinha aprendido a fazer algumas coisas que nem sequer sabia que era útil. Graças aos três anos que passei nadando, consegui sobreviver a isso. Daisy não fez aquilo pensando em mim, e isso não iria mudar. Mas graças a ela, eu estava viva hoje.



Algumas pessoas acham que a felicidade é quando todos os problemas somem, quando o pai ausente volta arrependido e quando a mãe que tinha tido um caso se arrepender da infidelidade. Para mim, felicidade era o simples fato de estar viva. Achei que fosse morrer a dias atrás, achei que não veria meus filhos crescerem. E de todas as dores que eu já senti na vida, essa foi a pior. Nada que meus pais me falaram me machucou tanto quanto o pensamento de Adam e Aaron vivendo sem mim.



- Bom dia Zoe. - Valerie entra no quarto sorrindo como sempre faz que Oliver não está perto.




Era óbvio que ele tinha que irritar a médica que me salvou.



- Bom dia mulher maravilha. - Devolvo o sorriso, me sentando enquanto ela se aproxima. - Você não folga nunca?


Valerie era praticamente uma máquina. Hoje fazia uma semana que eu estava aqui já que aparentemente, meu coração estava em observação por causa de todo o esforço e em todos esses dias, ela veio me ver.



- Eu sou cardiologista. - Ela dá ombros enquanto coloca o estetoscópio no meu peito. - Não sei o que é folga.


Dou uma risada baixa. Médicos. Viciados em trabalho e em hospital.


- Mas dessa vez acho que será menos pior ver a minha cara de sono. Você recebe alta hoje. - Ela dá duas batidinhas na minha perna coberta pelo lençol. - Quer ligar para o seu marido ou ele já está vindo?


Meus olhos lacrimejam quase que de forma automática e um suspiro de alívio sai dos meus lábios. Eu não via a hora de estar em casa, mesmo que eu tivesse me impedido de reclamar já que, eu tinha praticamente revivido. Fui totalmente contra a ideia de trazer as crianças aqui. Hospitais eram sujos, e ninguém sabia quando alguma epidemia estranha estourava. Tínhamos nos falado por chamada de vídeo enquanto Oliver dormia aqui, mas depois de tudo, eu apenas queria abraçar meus filhos o mais forte que eu conseguisse.  


- Oliver está vindo daqui a trinta minutos. - me apresso a falar. - Posso sair daqui quando ele chegar?



- Claro, vou deixar sua alta assinada. - Valerie pega sua caneta de cor roxa antes de escrever de forma ilegível.




- Quase me esqueci, pode anotar seu número no meu celular? - Pergunto observando sua expressão congelar.



- Eu fiz alguma coisa que você não gostou? Achei que...




- Você não fez nada. - Cortei ela revirando os olhos. - Quero manter contato com a mulher que salvou a minha vida.



- Tecnicamente foi Oliver que salvou sua vida. - Ela fez uma cara engraçada enquanto anotava o número.



Contrato EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora