CAPÍTULO 5

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Meus dedos se fecharam com força nos braços da poltrona, ao ponto de minhas articulações ficarem esbranquiçadas

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Meus dedos se fecharam com força nos braços da poltrona, ao ponto de minhas articulações ficarem esbranquiçadas. Olhos fechados bem apertados e o ar preso nos pulmões. Adrenalina correndo por minhas veias. Algo que eu não sabia se apreciava ou não.

Uma mão grande e cálida se fechou sobre uma das minhas, e um polegar começou a deslizar pela minha pele. Um toque simples, reconfortante, mas muito bem-vindo.

Sem nem pensar no que fazia, girei minha mão e permiti que Alexander entrelaçasse nossos dedos, o que nos deixou conectados durante o pouso.

Meus olhos recaíram sobre nossas mãos unidas e ficaram presos ali como uma corrente. Em silêncio, percebi que Alexander fazia o mesmo. Enquanto o piloto falava sobre as condições climáticas no Rio de Janeiro, com sua voz abafada e embolada pelo comunicador, nós dois nos perdemos em um momento muito peculiar.

Alexander era nada mais do que um estranho para mim. Eu sabia que era dono de uma empresa de relações públicas, mas não conhecia seu sobrenome. Sabia que era órfão de mãe, que era muito devotado ao pai, mas não sabia quantos anos tinha. Conhecia seu gosto por café, mas não fazia ideia se sabia cozinhar, se era vegetariano ou tinha algum tipo de alergia.

Mas essa era a magia de se deparar com um completo desconhecido e iniciar algum tipo de amizade com tempo de duração. Você criava uma intimidade limitada e se satisfazia com as informações que lhe eram entregues sem exigir mais do que a pessoa estava disposta a oferecer. Ele também só sabia sobre mim o que eu queria que soubesse, o que nos deixava quites.

Não era a primeira vez que acontecia de eu esbarrar em alguém daquela forma, mas nunca antes a conexão foi tão profunda. Passamos apenas algumas horas juntos, e eu sentia que não era suficiente. Uma intuição; uma sensação. Não saberia explicar, mas era algo que estava me incomodando há alguns minutos, porque os quarenta que a viagem levara pareciam curtos demais para um adeus.

— Medo de voar? — a voz suave e muito masculina de Alexander soou ao meu lado, quando eu já estava novamente de olhos fechados.

Deixei um sorriso se desenhar no meu rosto enquanto olhava para ele.

— Medo do pouso. Dizem que é a parte mais perigosa de se voar de avião.

Alex não respondeu de imediato, mas um som estranho veio da poltrona de trás. Nós dois olhamos para ela ao mesmo tempo e vimos um senhor de uns sessenta anos, dormindo, com a boca aberta, enquanto roncava para a aeronave inteira ouvir. A jovem ao lado dele, provavelmente da minha idade, parecia um pouco incomodada.

— Acabamos de descobrir que há outros perigos em voar — Alexander comentou, depois de nos virarmos novamente para frente, e eu cobri minha boca com a mão para rir.

Teria ficado um pouco mais perdida no momento, mas fui interrompida quando algumas mechas do meu cabelo caíram sobre o meu olho, e ele mesmo as devolveu para trás da orelha, com a mão direita, porque a esquerda ainda repousava sobre o braço da poltrona, junto à minha. Apesar de nossos dedos continuarem entrelaçados, era um toque um pouco mais íntimo, o que me surpreendeu. Mas não só isso.

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