Dois | Angel, A manipuladora.

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Desde a manhã que Angel havia feito aquelas insinuações, Lídia não conseguia raciocinar direito em seus reais objetivos por trás daquilo. Os dias haviam passado, e a garota preferia afundar-se em livros do que pensar naquele fato.

A jovem de cabelos loiros, olhos verdes, e rosto perfeitamente desenhado, trazia maldade no coração e planos ardilosos desde muito pequena. Lídia tinha esperança que a irmã mudasse, e que com seus vinte e cinco anos se tornasse outra pessoa.

Há mais ou menos um ano ela havia começado a morar com Angel na capital, e nesse tempo conseguiu ver que apesar da irmã muitas vezes conseguir disfarçar sua real face, ainda conseguia ver que a garota apresentava sérios desvios de personalidade.

Em passos lentos e olhar vazio, Lídia andava pelas ruas movimentadas próximas ao campus. Sua atenção estava centrada em seus pés, e em seu tênis preto, com cadarços brancos, que chutavam pedrinhas que encontravam no meio do caminho. Ela nem reparou quando um carro estacionou ao seu lado e chamou pelo seu nome.

— Apolo. — Pronunciou o nome com leveza, olhando em direção ao carro preto, e logo após abriu um imenso sorriso.

— Oi. — Ele sorriu de volta. — Entra. Te dou carona.

Sem hesitar, Lídia entrou no carro, e logo pode sentir o cheiro intenso de perfume que o homem deixava pelo ambiente. Apolo trajava uma camiseta azul de botão, e seus cabelos estavam perfeitamente arrepiados. Ao encará-lo, a jovem soube que Angel tinha razão, nunca iria encontrar uma verdadeira forma de chamar a atenção do rapaz.

— Está indo para casa, né? — O advogado perguntou, parando atrás de uma imensa fila de carros.

— Não, mas você disse que me daria carona.

— Aonde está indo?

— Fernando de Noronha.

— A pé? — Apolo semicerrou os olhos.

— Agora estou de carro.

— Espertinha. — Ele gargalhou, bagunçando o cabelo da garota ao seu lado. — Vamos para casa, Angel deve estar com saudades.

— Ela passou o dia no estágio hoje?

— Sim. Ela fica bastante tempo nesse estágio, sempre muito dedicada. — Afirmou. — Como foi a prova?

— Boa. — Respondeu brevemente, com o objetivo de cessar o assunto, e assim foi feito.

Após chegarem no pequeno apartamento em que moravam, encontraram Angel devidamente arrumada, produzida com um vestido vermelho e um batom da mesma cor.

— Por que está tão arrumada? — Apolo perguntou, confuso.

— Hoje é uma noite especial, querido. — Angel respondeu, retirando uma garrafa de bebida da estante, e voltando sua atenção para os outros da sala. — Verdade ou desafio?

— Que brincadeira de criança, Angel. — Lídia repreendeu, e em troca recebeu um olhar fuzilador da irmã.

— Eu não vou jogar isso, Angel. — O homem presente afirmou, aos risos.

— Você vai sim, todos vamos. Não me arrumei à toa.

— Você se arrumou assim só para jogar verdade ou desafio? — Ele aproximou-se da garota loira, e envolveu sua cintura, despejando um beijo em sua boca. — Ou foi para mim?

— Divirtam-se. Eu vou tomar banho. — Lídia apressou a sua fala, e entrou em seu quarto, indo direto para suíte que havia dentro dele.

Não demorou para que as águas que desciam pelo chuveiro tomassem conta de seu corpo, e o pouco de rímel que havia passado antes de ir para aula escorresse por sua bochecha. Ela conseguia vislumbrar a lua cheia ao lado de fora. Sempre gostou de estudar no período vespertino, devido ao entardecer que podia contemplar assim que saia da aula. Quando finalmente chegava em casa, não demorava muito para a noite cair. Os dias passavam rápido.

Assim que saiu da pequena suíte em que tomava banho, enrolada em uma toalha, com cabelos molhados respingando por todo corpo, sentiu uma presença atrás do si, e por um momento achou que fosse Angel, mas pelo aroma e pela altura, pode ver que na verdade era Apolo.

Lídia virou-se rapidamente, e logo deu de cara com o par de olhos azuis que tanto amava. Ele estava sério, e olhava fixamente a boca da garota à sua frente. Não demorou para que percorresse as mãos pelas laterais esguias do corpo dela, e envolvesse aqueles lábios que encarava com tanta paixão. As mãos de Lídia envolveram o pescoço de Apolo, e ele, por sua vez, entrelaçou os dedos nos cabelos curtos e molhados da garota recém saída do banho.

— Sabia. — Uma risada fina surgiu atrás de Apolo. — Isso vai ser mais fácil do que pensei.

Apolo, ao parar o beijo, olhou para Angel atrás dele, e em seguida olhou novamente para Lídia, como se estivesse igualmente confuso pelo o que havia acabado de acontecer.

— O que foi isso? — Lídia questionou, receosa.

— Foi meu desafio. — Ele assumiu, com pesar, caminhando para saída do quarto.

— Vem brincar com a gente, irmãzinha. — Angel intimou. — Se não, eu conto para o Apolo que você é apaixonada por ele, se não é que ele já percebeu.

Ao ponderar as palavras da irmã, Lídia suspirou profundamente, e soube que não teria outra saída a não ser fazer as vontades da garota loira. Angel conseguia sempre tudo o que queria, desde pequena, através de ameaças e chantagens.

— Pode ir na frente, eu já vou. — Lídia especulou, e em resposta obteve o sorriso vitorioso da irmã. 

Angel, O demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora