Quatro | Angel, A sacrificante.

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Ao abrir os olhos, Apolo pode ver que a sala já estava iluminada pela luz do sol, e as cortinas ainda estavam fechadas, do mesmo jeito que haviam deixado na noite de ontem. Ainda com dificuldade de olhar para claridade, devido a dor de cabeça que estava naquele momento, o advogado vislumbrou as luzes das velas apagadas. Assim que olhou para o lado, viu o rosto sereno de Lídia, e se deu conta que tudo aquilo que aconteceu não havia sido um sonho.

Ele não sabia como havia tido coragem para comportar-se daquela forma, mas sabia que ontem, quando fez tudo aquilo, sentia-se fora de si, não só pela bebida. Apolo fechou os olhos com força, e balançou a cabeça negativamente ao lembrar-se de todas sensações e sentimentos que a garota adormecida havia despertado nele, em um momento tão frenético como aqueles.

— O que tinha naquela bebida? — O homem desferiu a pergunta em voz baixa, mas foi o suficiente para acordar a garota que estava adormecida no chão, ao seu lado.

Assim que os olhos castanhos abriram e alcançaram os olhos azuis de Apolo, uma expressão de dor adquiriu suas feições. Suas mãos desceram pelo seu próprio corpo desnudo, e levantaram novamente, dessa vez, cheias de sangue. Seu rosto não demonstrava mais dor, mas sim, pavor.

Apolo, sem entender, desceu os olhos para o local em que ela havia tocado, — sua barriga — e viu que abaixo de seu umbigo havia sido desenhado um símbolo com pequenas linhas tortuosas que conectavam-se em cada ponta, o que facilmente remetia o formato de uma ampola, só que mais pontuda. No meio daquela simbologia, havia uma linha reta atravessada, como se fosse um cetro. Aquele desenho havia sido feito por algum objeto afiado, e havia uma mistura de sangue seco com sangue molhado ao redor do ferimento.

Ao olharem para o lado confirmaram suas teorias sobre o objeto utilizado para desferir o corte. A faca com que estavam jogando verdade ou desafio estava ensanguentada, e no chão — de azulejos brancos — havia um circulo, que na visão deles também parecia ter sido feito pelo mesmo líquido denso correspondente ao sangue.

Lídia levantou-se rapidamente do local em que estava deitada, e Apolo fez o mesmo em seguida. Ao andarem pelo apartamento, constataram mais respingos de sangue. Ambos não tinham ideia do que havia acontecido, mas conseguiam ter certeza que não havia sido algo bom.

— Aonde está Angel? — Lídia questionou, observando pelos corredores estreitos, com paredes cheias de quadros de quando ela e sua irmã eram mais jovens.

— Não sei. Deveríamos procurar em um hospital.

— Por que?

— Olha quanto sangue... Isso não é só do corte da sua barriga, Lídia.

— O que você acha que aconteceu? — A garota respondeu, pressionando ainda mais a própria mão na barriga.

— Não sei. Alguém deve ter invadido aqui, feito isso com você, sequestrado a Angel. — Alegou. — Não faço a mínima ideia.

Lídia observou o chão, com os pensamentos distantes do que Apolo estava falando. Por mais que não quisesse, sua mente duvidava que Angel pudesse ter feito tudo aquilo, mas o homem ao seu lado ainda persistia em pensar que aquela garota cujo qual chamava de irmã , era tão perfeita por dentro, quanto por fora.

— E se foi a Angel? — Ela sugeriu.

— Quê?! — Apolo indagou, confuso. — Angel estava revoltada, com razão, mas jamais faria isso à sua irmã mais nova. Não há motivos.

— Você desconfia de mais alguém? Alguém próximo à ela?

— Eu vi ela com um pessoal um pouco estranho no campus, eram completamente opostos ao estilo dela. — Confessou, caminhando de um lado para o outro, tentando lembrar-se das pessoas. — Eles tem uma loja de discos na esquina do campus. Alguns rapazes e uma garota. Todos são estranhos, andam com roupas pretas, e geralmente tem piercings amontoados na cara. Quando perguntei o que ela estava fazendo com eles, Angel me disse que eles fizeram uma proposta estranha, que eram adoradores do demônio. Não me surpreendi. A aparência diz tudo. — Ele meneou a cabeça, de um lado para o outro. — Acredito que eles possam ter ficado com raiva por ela recusar aquilo.

Angel, O demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora