Capítulo 11

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Quando eu achei que mais nada poderia dar errado acontece isso. Aqui estou eu, sendo levada pelo braço por um policial pra não sei onde e nem sei o motivo. A caminhada foi silenciosa. Saímos do prédio e fomos pra enfermaria que estava vazia naquela hora. 

- Sente em uma destas macas. - disse o policial

- Por que estamos na enfermaria? - perguntei fazendo o que ele me mandou

- Olha só, isso é muito arriscado, então tem que parecer real...

- O que tem que parecer real?

Enquanto eu perguntava uma mulher alta, magra e de cabelos pretos entrou na enfermaria também.

- Ei! O que vocês fazem aqui essa hora? 

- Eduarda, essa é Alice. Ela precisa da nossa ajuda.

- Eu não estou entendendo nada! Estou bem, por que estamos aqui?

- Não se preocupe Alice, vamos te ajudar. - disse Eduarda

Eu não estava entendendo nada, então o policial ficou de frente pra mim e começou a falar:

- Alice, sou o cabo Santos e sou amigo do delegado Motta. Ele me enviou uma carta e pediu pra te entregar. A Eduarda também irá nos ajudar pra que você consiga manter contato com o mundo lá fora...

- Nós também somos apaixonados por livros e tem outros com nós aqui dentro, aos poucos você irá conhecê-los, por isso estamos te ajudando. Mas é muito importante que fique atenta, pois isso é muito perigoso. - disse Eduarda

- Entendi. 

- Aqui está a carta. - disse Santos, me entregando um envelope.

Peguei o envelope e levei-o até o banheiro de lá, pois era um dos poucos lugares onde não havia câmera. Encostada na parede abri o envelope e logo reconheci aquela letra. Minha avó...

Querida Alice,

Estou com muita saudade de você. Você não imagina como a preocupação com você invade meu peito. É tão ruim estar sozinha nesta casa, mesmo com seu silêncio e quietude que você mantinha, sua presença faz muita falta.

Naquele dia que você sumiu, eu entrei em desespero. Quando procurei pelo João e vi que estava doente e você tinha ido sozinha, o desespero foi maior. Fiquei aflita o dia todo esperando por você. Mas você não chegou e não sei se chegará... Desculpe dizer isso, mas eu sei que as pessoas que foram presas por isso, nunca mais saíram. No final da tarde recebi um bilhete seu por um policial. Eu não sabia se ficava feliz ou se chorava, pois você estava viva e isso me alegrou, mas estava sendo presa e eu não poderei mais te ver, e isso me entristeceu muito.

Te agradeço por conseguir me mandar o bilhete, acho que eu enlouqueceria se não soubesse o que aconteceu com você. E não se preocupe, vou ficar forte aqui. Você me pediu no bilhete que eu ficasse firme e não tentasse nada contra mim mesma e não farei. Confesso que essa ideia passou pela minha cabeça, pois perdi todos que eu tinha, mas confio em você. Você saindo daí ou não, só de poder conversar com você já me faz bem e o João tem vindo muito aqui me fazer companhia.

Ele é um garoto muito especial. E também sente muito a sua falta. Quando precisar sempre estaremos aqui por você. Fica bem e se cuida Alice. Eu te amo muito!

                                                                                                                                         De sua avó Carmem

Quando terminei de ler, meu rosto estava todo molhado de lágrimas. Como minha avó fazia falta... Eu precisava encontrar um jeito de sair dali. O que mais quero é voltar pra casa. Saí do banheiro e Eduarda fingiu me examinar. Depois o cabo Santos me levou de volta para a sala e me deixou ficar com a carta. Agora eu precisava achar um jeito de escrever respondendo.

Não consegui dormir, passei a noite toda pensando no que li. Minha avó estava sozinha e ela precisa de mim... Preciso encontrar um jeito de acabar com isso... sei que sozinha não conseguirei... Pelo menos João estava com ela... Por que eu fui idiota e me deixei ser pega?...

No dia seguinte Marla veio me perguntar o porquê deles terem me chamado àquela hora da noite e falei que era para um exame que não poderia esperar... Não podia contar a verdade, quanto menos pessoas soubessem melhor. Isso é perigoso e se for descoberto estaremos enrascados. Sabe-se lá o que fariam comigo e com quem me ajuda...

Mais tarde fomos dar uma volta pela universidade. Já estava quase na hora do almoço, então Marla me levou para almoçar em um prédio que eu ainda não tinha ido. Quando chegamos ao refeitório dele, uma mulher alta e loira  avistou Marla e da mesa chamou-a pra se sentar com ela. Então fomos até lá.

- Olá Marla! Você anda sumida! E essa sua amiga? É nova aqui?

- Oi Môn! Pois é, esta é Alice, ela chegou aqui há poucos dias e tenho mostrado o lugar para ela...

- Nossa, mas você é tão nova... Você me lembra alguem... Quantos anos têm? 

- Tenho 14.

Quando respondi isso vi sua expressão mudar totalmente. Aquela mulher parecia assustada ou impressionada, não sei, mas sei que ela me olhou diferente.

- Por favor, me diga seu nome completo. - me pediu ela

- Alice Bianqui Braga. Por quê?

Ela não me respondeu, ficou paralisada. Então uma lagrima saiu do seu olho e sem dizer nada, ela me abraçou com força e as lagrimas rolaram ainda mais. Quando me soltou, se abaixou, olhou em meus olhos e disse:

- Alice, eu sou sua mãe.

É proibido ler livrosOnde histórias criam vida. Descubra agora